Após deixar seu grupo e decidir enfrentar o apocalipse zumbi sozinho, Shane Walsh encontra algo inesperado: uma jovem brasileira grávida, perdida e sem defesa. Relutante em assumir qualquer responsabilidade, ele a ajuda a dar à luz e acaba se vendo...
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Shane Walsh.
Eu estava sentado na cadeira, com uma mão segurando o dicionário e a outra segurando Baby. A pequena estava acordada, balbuciando algo que soava como seus próprios sons inventados. Baby — como a chamávamos — estava sempre nos observando com seus olhos castanhos idênticos aos de Luana. Ela gostava de ouvir nossas vozes, até mesmo a minha, o que era surpreendente.
Esses momentos de calmaria me faziam lembrar do grupo, de Rick, Lori e Carl. Principalmente de Carl. Quando eu olhava para Baby, pensava nele. Será que ele estava bem? Será que Rick conseguiu mantê-los a salvo? Eram dúvidas cruéis, mas eu precisava conviver com elas, agora que havia tomado minha decisão de deixá-los para trás.
Apesar de toda a saudade, os dias nessa casa estavam sendo bons. Sem brigas, sem caos... Eu não precisava fingir ser o "bom moço" e, o melhor de tudo, não era visto como um descontrolado. Luana confiava em mim, e isso era evidente. Ela não tinha medo, apesar de já ter me visto lidando com os mortos. Talvez eu fosse o único que se preocupava com o que ela pensava de mim.
— Quantos... Anos tem... Você? — Pergunto, hesitante, com o dicionário aberto sobre a mesa, tentando montar a frase de forma que fizesse algum sentido.
Luana, que mexia a panela com a carne de coelho, ergueu a cabeça com um sorriso brincalhão.
— Quantos anos você tem. — Ela corrigiu com paciência. — Eu tenho 28 anos.
Ela me corrigia com um ar divertido, e eu sabia que ela entendia que meu esforço não era dos melhores. Eu repetia a pergunta em inglês, assim como ela também repetia em português. Basicamente, além do dicionário, era assim que estávamos aprendendo a nos comunicar.
— Thirty-four... — Murmurei, segurando Baby nos braços enquanto ela tentava segurar um dos meus dedos com as mãozinhas.
Luana riu baixinho.
— Trinta e quatro? Eu pensei que você tinha... Quarenta. — Ela ergueu as sobrancelhas, claramente se divertindo com minha expressão de ofensa.
— Thirty-four, não quarenta! — Falei, apontando para mim com uma careta, o que fez Baby gargalhar. — Não me envelhece antes da hora.
— Desculpa! Sorry! — Luana riu, balançando a cabeça. — Trinta e quatro. Você tem... Trinta e quatro.
Ela voltou a mexer a panela, e eu continuei a folhear o dicionário, tentando absorver mais palavras e frases que fizessem sentido. Mesmo com as barreiras linguísticas, conseguíamos nos entender bem com gestos, olhares e, por vezes, até com o silêncio. Fazia uma semana que estávamos juntos naquela casa, e eu tinha que admitir que tudo estava saindo melhor do que eu imaginava.
Luana é uma mulher tranquila, o que sempre me levava a questionar como ela havia sobrevivido por tanto tempo em um mundo como esse sendo tão pacífica. Era óbvio, pelo jeito que se movia e interagia com o bebê, o quanto ela era bondosa. Não que ela não fosse capaz de se defender — eu tinha certeza de que era forte —, mas era difícil imaginá-la cruzando certos limites.