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? Entre Dois Mundos

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O tempo parou.

Não foi um estalo, nem um grito. Não houve luz ofuscante ou túnel brilhante como diziam nos filmes. Foi silêncio. Um silêncio absoluto, tão profundo que Dunk quase se sentiu flutuando dentro dele.

Foi então que percebeu: ele estava flutuando.

A sala cirúrgica estava abaixo dele. Ele via tudo - os médicos correndo, os sons abafados dos alarmes, o corpo imóvel sobre a maca. O próprio corpo.

- Isso... não é possível... - murmurou, embora nenhum som saísse de sua boca.

Tentou se mover. Não havia dor. Não havia peso. Era como ser feito de fumaça. A cena abaixo seguia em desespero: compressões torácicas, choques, adrenalina. Joong não estava lá, mas Dunk sentia sua presença como uma corrente quente atravessando o vazio. Como se o amor que ele deixava para trás se recusasse a soltá-lo.

Uma brisa leve roçou seu rosto. Brisa?

Ele se virou.

Atrás dele, um campo branco e infinito se abria. E ao longe... uma música. Suave. Triste. Como uma caixinha de música quebrada. Ele conhecia aquela melodia.

Seus pés (ou o que restava deles) começaram a se mover sozinhos.

E então... ele a viu.

- Mamãe?

A mulher parada sob uma árvore sem folhas parecia jovem demais para ser mãe de alguém. Usava um vestido azul-claro, o mesmo da última foto que Dunk guardava dela. Os olhos eram doces, mas carregavam algo mais profundo - culpa, talvez. Ou tristeza.

- Meu amor... - ela sussurrou.

Dunk parou a alguns passos dela. O coração - ou o que quer que pulsasse ali - tremeu.

- Eu... eu te procurei a vida toda. - disse ele, com a voz embargada. - Por que me deixou?

Ela abriu os braços, mas não se aproximou. A brisa aumentou. O som da caixinha de música parecia vir dali - do céu, do chão, de dentro dele.

- Você era tão pequeno... e eu, tão fraca. A dor me cegou. Me consumiu. E eu achei que te deixar era a única saída.

- Eu era uma criança, mãe! - A voz de Dunk tremeu de raiva. - Eu tinha oito anos! E eu... eu te encontrei! Você... você pendurada no teto da sala... como uma bailarina quebrada!

Ela fechou os olhos, e uma lágrima escorreu por seu rosto sereno.

- Me perdoa, filho...

Dunk caiu de joelhos.

- Eu passei anos te odiando... e amando ao mesmo tempo. Depois o pai... o pai...

A lembrança veio como um soco: o olhar do homem que ele chamava de pai se partindo ao ler a carta. O silêncio dele no velório. O carro que parou diante do orfanato sem uma única explicação.

- Eu não era filho dele. Eu era de alguém que você... nem teve tempo de me contar. - murmurou Dunk, a cabeça baixa.

A mulher se aproximou. Ajoelhou-se diante dele. Seus dedos tocaram o rosto dele com ternura - tão real, tão dolorosamente real.

- Mas você sempre foi meu. E agora eu vim te buscar. Já sofreu demais... tá na hora de descansar, meu amor.

Dunk fechou os olhos, deixando-se envolver no abraço que esperou por tanto tempo. Por um instante, tudo pareceu paz.

Mas então... ele ouviu.

- "Dunk... volta pra mim..."

A voz de Joong.

Fraca. Distante. Mas real.

Dunk arregalou os olhos.

O campo branco começou a tremer. O céu se rasgava em tons cinzentos.

- Não! - sua mãe segurou sua mão. - Fica comigo. Aqui não tem mais dor. Aqui ninguém vai te deixar.

- Mas... - os olhos de Dunk se encheram de lágrimas - ...e se ele ainda me amar?

O chão se abriu num estrondo. E as memórias começaram a cair com ele - cenas da infância, da adoção, da dor escondida, das noites sem ar... e de Joong. Sempre Joong. Rindo, gritando, cuidando... amando.

E então a escuridão começou a engoli-lo.

Mas, mesmo caindo, ele não foi embora por completo. Algo ainda o prendia ali. O vazio tremia ao redor, o céu se despedaçava, e o som de vozes - vozes conhecidas - começava a atravessar as fendas do silêncio.

E, no meio do caos, Dunk entendeu: a escolha ainda era dele.

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