Fiquei parado do lado de fora por alguns segundos, tentando absorver tudo. A fumaça do que restou da torre ainda pairava ao fundo, as marcas de sangue no concreto, os buracos de bala nas paredes, os caminhantes haviam feito uma bagunça... Mas ali, entre a poeira e os destroços, havia vida. Havia uma nova chance.
Suspirei fundo e segui para dentro.
Assim que entrei, fui recepcionado por Hershell, que apesar do cansaço estampado na face, parecia aliviado. Maggie e Glenn estavam mais próximos do portão, ajudando a organizar os recém-chegados. Daryl estava escorado perto da sala de armas, calado, como sempre, mas seu olhar acompanhava cada passo de Carol. E Rick... bem, Rick estava na ala médica improvisada, cuidando de um ferimento no braço, com Carl sentado próximo, em silêncio.
— Shane. — Rick me chamou quando me viu passar. — Pode me ajudar com as camas da cela C? Tem um pessoal mais velho no grupo de Woodbury... Vão precisar descansar.
Assenti com um movimento de cabeça e fui até ele. Enquanto arrastávamos os colchonetes e ajeitávamos alguns dos panos, a tensão entre nós dois parecia quase não existir mais. Ainda não era fácil. Nunca foi. Mas depois de tudo o que vivemos, havia um certo entendimento mudo entre nós.
— Luana tá bem? — Ele perguntou, com o olhar focado na arrumação.
— Tá. Ela e a Baby estão bem. — Respondi, com um leve sorriso.
— Ela parece te manter centrado. — Rick comentou. — É estranho ver você... Mais calmo. Como antes... Alegre.
— Ela me lembra do que ainda vale a pena. — Admiti, olhando para o chão. — De quem eu quero ser.
Rick não respondeu. Mas um pequeno aceno de cabeça foi o suficiente. Talvez fosse a forma dele dizer que entendia.
Terminamos o serviço e eu voltei para o bloco onde estava nossa cela. O corredor ainda estava movimentado, com vozes, crianças correndo, gente distribuindo mantimentos, e Luana... No meio de tudo, ajudando uma senhora a se acomodar em um dos blocos.
Ela sorria, mesmo com os olhos vermelhos de cansaço. Carregava um cobertor em um braço e uma garrafinha de água na outra, falando com leveza, gesticulando com aquele jeito doce que me tirava do sério, no bom sentido. Não era justo alguém ser tão... Boa, num mundo que virou tudo de cabeça pra baixo.
Quando terminei de ajeitar algumas coisas, vi que Baby já havia sido colocada pra dormir. A cela estava mais silenciosa. Entrei devagar, observando cada detalhe, e quando me sentei no colchão, Luana veio logo em seguida, se jogando ao meu lado com um suspiro cansado.
— Meus pés estão implorando misericórdia. — Ela murmurou, se deixando cair em minhas pernas. — Estou só o pó!
— Deveria descansar. — Falei, mexendo em seus cabelos.
— Só vou descansar quando tiver certeza de que todos estão bem.
— Você nunca consegue pensar em si primeiro, né?
— Não. — Ela riu baixinho. — Mas você pensa. E isso equilibra a gente.
Ficamos assim por um tempo, só ouvindo a respiração da Baby e os sons distantes do movimento. A prisão nunca foi silenciosa. Mas agora... Era um barulho diferente. Um barulho de recomeço.
— Shane? — Luana chamou, num tom hesitante.
— Hm?
— Você acha que a gente vai conseguir... Ser feliz aqui?
Pensei por um segundo. Com tudo o que tinha visto, vivido, perdido... Essa pergunta sempre foi difícil de responder. Mas quando olhei pra ela, e depois pra Baby dormindo tranquila... Eu soube.

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Redemption | Shane Walsh
ActionApós deixar seu grupo e decidir enfrentar o apocalipse zumbi sozinho, Shane Walsh encontra algo inesperado: uma jovem brasileira grávida, perdida e sem defesa. Relutante em assumir qualquer responsabilidade, ele a ajuda a dar à luz e acaba se vendo...