抖阴社区

Capítulo 43

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Júlia


— Eu não sei se vou, Debi… — murmurei, passando os dedos pelo convite, cuidadosamente diagramado. — Por mais que as coisas estejam um pouco melhores… ainda sinto como se me faltasse ar, sabe? Como se o peito pesasse em certos momentos.

— Ju… — ela se aproximou, com aquele olhar doce, mas firme. — Às vezes, a gente precisa sair da sombra pra lembrar como é boa a luz. Você tem todo o direito de ainda estar em luto. Mas também tem o direito de viver. Vai te fazer bem. O Henrique e a Cláudia te adoram e é um momento tão bonito deles, bodas de prata. Eles nos querem lá. E eu vou estar com você.

Fiquei em silêncio, era verdade. Era lindo ver o amor dos dois, e talvez... me fizesse bem celebrar isso.

Será que o Rafael vai estar lá?


Era domingo. Debi tinha vindo almoçar conosco e trouxe o convite. Meus olhos pousaram na mesa da sala, onde Júlio conversava animadamente com Marcos e nossos pais. Uma cena simples, mas que ainda me emocionava. Tudo era tão recente e, ao mesmo tempo, parecia tão natural. Me surpreendia ver como meus pais haviam mudado — especialmente minha mãe, que agora sorria com leveza ao lado do Marcos, servindo salada como se ele sempre tivesse feito parte da família.

Ela notou meu olhar distante e se aproximou, enxugando as mãos num pano de prato.

— Aconteceu alguma coisa, filha?

— Não… só o convite do Henrique. Fiquei pensando se devo ir.

Ela se aproximou mais, tocando meu braço com carinho.

— Vai sim, meu amor. Aproveita. — os olhos dela brilharam. — A vida é tão curta… Aprendi isso da forma mais dura e a gente não pode desperdiçar as chances de ser feliz. Você precisa viver. Por você e pelo nosso anjinho, que nos ensinou tanto em tão pouco tempo.

Engoli em seco. Um nó se formou na garganta. Ela tinha razão. Eu estava aprendendo… dia após dia.


Mais tarde, diante do espelho, soltei uma risada baixa.


— Meu Deus… por que estou colocando isso? — murmurei, olhando para a lingerie. Confesso, que estava me sentindo sexy.

Eduardo odiava isso. A única vez que usei algo mais ousado, ele disse que não era coisa de "mulher direita". Lembro dos absurdos que ouvi... e me revolto por ter permitido tanto.

Dá raiva! Raiva de ter sido tocada por alguém assim. E, no entanto, ele foi minha única referência de intimidade.

Vesti o vestido vermelho, fluido. Não era decotado, mas abraçava minha silhueta com elegância. Deixava meus ombros à mostra. Era sofisticado e sensual.

Hesitei no zíper por um segundo… até lembrar das palavras do Júlio:
“Usa pra você, irmã. Pra se sentir linda. Mesmo que ninguém veja. Mesmo que ninguém diga. Você merece se sentir bem.”

Então finalizei a maquiagem, arrumei os cabelos em ondas suaves, borrifei o perfume no pescoço e pulsos. Calcei um salto delicado. Respirei fundo.

Estava pronta.


Desci as escadas. Debi me esperava com um sorriso enorme.

— Uau, Júlia… você está maravilhosa. Parece outra mulher.

— É a Júlia 2.0 — riu Júlio, surgindo da sala. — Melhor versão até agora.

— Júlia dois ponto zero… — Debi repetiu, rindo. — Acho que vou te chamar assim agora!

— Engraçadinhos. Amo vocês. — peguei a mão da Debi. — Vamos?



A casa do Henrique era linda, elegante, decorada com luzes âmbar e arranjos em tons terrosos. O som ambiente era suave, convidativo. Riachos de riso, brindes e abraços se espalhavam pelo salão.

Assim que entramos, Henrique nos avistou e veio ao nosso encontro com a esposa, Cláudia, ao lado.

— Júlia! Debi! Que honra ter vocês aqui — disse ele, genuinamente sorridente. — Estão lindas. Com todo o respeito.

— Muito obrigada — respondi, recebendo o abraço caloroso da Cláudia.

Ela me envolveu e sussurrou ao meu ouvido.

— Meus sentimentos… E parabéns por estar aqui. Você não sabe o quanto admiro sua força. É um orgulho ver uma mulher como você — de pé, linda, radiante — depois de tudo.

Senti os olhos se encherem d’água. Sorri com doçura.

— Não foi fácil e ainda não é. Mas decidi seguir em frente. Viver da melhor forma possível. Porque acredito que é isso que meu bebê queria… que eu o lembrasse com amor, não com dor. Que a saudade virasse força.

Ela segurou minha mão. Eu continuei.

— E sabe… um homem muito sábio me disse que a gente precisa transformar o mundo na sua melhor versão. Acho que é isso que tento fazer, na minha profissão. E agora… comigo mesma também.

Henrique, ao lado, sorriu emocionado.

— Acho que conheço esse homem.

— Realmente. — Cláudia riu. — Meu marido é mesmo um homem muito sábio.

Eles se olharam com cumplicidade e logo estavam rindo e caminhando de mãos dadas.

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