Borges
Natan fez questão de ir comigo. Disse que não queria que eu resolvesse essa merda sozinho. Que era coisa séria. Eu não discuti. Só peguei a chave da BMW e avisei pros cria que era pra dois dos meus seguranças me seguirem no carro preto.A gente desceu o morro, cada um no seu banco, ele olhando pela janela e eu concentrado no volante, mastigando a raiva. Aquilo tava entalado na minha garganta há dias. Eu precisava resolver logo essa porra.
A casa dela ficava numa rua mais afastada do morro. Quando parei o carro em frente, os dois seguranças encostaram atrás, sem barulho, sem alarde. Saltei do carro com o Natan vindo atrás. Ele tava com aquela cara de quem não tava curtindo, mas ficou quieto.
Bati no portão com força.
— Ô! — chamei. — Débora!
Demorou, mas ela apareceu. Cabelo preso, rosto cansado, bebê no colo. Quando me viu, arregalou os olhos.
— Que que cê tá fazendo aqui?
— Vim buscar tu e o menino. Vamo fazer o teste.
— Tu tá doido?! Esse menino não é teu, porra! Cê vai ficar acreditando na minha mãe agora?
— Não interessa. A dúvida tá aí, e eu não vou deixar isso no ar. Arruma ele. E se arruma também. A gente vai agora.
— Eu não vou a lugar nenhum! — ela segurou o portão com força. — Tu acha que pode vir aqui me dando ordem?
Suspirei fundo, mas minha paciência já tava curta.
— Mulher… cê sabe que eu vim na moral. Tô te falando com calma. Mas se tu me fizer perder a paciência, eu vou te arrastar pelos cabelos na frente da rua inteira. Tô mandando o papo sério.
Ela começou a chorar. Baixou a cabeça, segurando o bebê mais forte.
— Vai, porra. Tô esperando.
Ela entrou sem falar mais nada. Eu fiquei ali parado, respirando pesado. Natan atrás de mim, me olhando como se eu tivesse matado alguém.
— Tu falou sério mesmo? — ele perguntou, baixinho.
— Não. Mas ela acredita que sim. E era isso que eu precisava agora.
A gente voltou pro carro e ficou esperando. Eu encostado no banco, o braço jogado no volante. Natan ainda tava de cara fechada.
— Que nojo, Borges. Falar desse jeito com a mulher… com o bebê no colo ainda.
— Amor, não começa. Não foi nada demais. Eu precisava que ela fosse.
— Nada demais? Tu ameaçou arrastar ela pelo cabelo! Tu quer que o moleque seja teu filho e tá tratando a mãe dele desse jeito?!
— Eu só quero saber a verdade. E não ia dar tempo de ficar fazendo carinho, entendeu?
Ele cruzou os braços, resmungando alguma coisa que eu não entendi. Aí do nada, me meteu um beliscão no braço.
— Ai, caralho! — falei rindo. — Tá maluco, Natan?
— Maluco tá tu! Só pra tu aprender a não tratar mulher igual lixo.
