A noite em que eu soube o seu...

By Emilyinbooks

658 51 153

Sara era feliz ao lado de seu pai, o homem alegre e bondoso que a criou depois da sua mãe a ter deixado apena... More

Գٲçã
Eu sou o a-mar- Prólogo
Eu sou um pássaro
Eu sou as respostas
Eu sou a protagonista
Eu sou a minha ڲí
Eu não sou o que eu leio
Eu sou Sara
Eu não sou escritora
A primeira etapa
Eu não sou o meu sangue
A segunda etapa
O convite
A terceira etapa
A Etapa Final
Eu sou como a noite
Eu sou a herança
O que eu nunca fui
Eu sou a mentira
Eu sou covarde
Eu sou a luz no final do túnel
Eu sou a amizade
Eu sou a partida
Eu sou uma fraude
Eu sou o legado
Eu sou o perdão
Eu sou quem preenche a lacuna -Epílogo
A noite em que eu soube o seu nome - Notas finais e agradecimentos

Eu sou o culpado

23 1 3
By Emilyinbooks

" Você caminha , e caminha. Mas suas pernas já estão exaustas e você não chegou a lugar algum, os mapas que traçou , todas as rotas foram inúteis. Você marcou um" X" onde julgou ser valioso, mas nunca enxergou que o "X" no papel deveria ser marcado na sua foto. Quando amamos muito alguém , quando somos decepcionado, é quase inacreditável que sobreviveremos sem a sua presença, mas a certeza de que vamos é saber que , você sobreviveu por causa de si mesmo todo esse tempo, então não se culpe, não se julgue inferior, e nunca,nunca se abandone. Porque às vezes você só irá ter a si mesmo, criança".

Era uma manhã fria em Portugal, as redes sociais de um jovem ferviam. Seus dedos deixaram digitais na taça de vinho tinto em suas mãos, e seu hálito quente embaçava o cristal, seus olhos observavam o horizonte, enquanto seu corpo encaixava-se no parapeito da janela. Mas a pergunta certa a se fazer é, o que o imperador das jóias faria com o seu herdeiro quando este o traiu beijando a princesa errada?

As vezes quando a dor é sentida demasiadamente , ela te anestesia, o corpo apenas sente o vazio e o sabor amargo da irritante repetição, mesmo que tente , um dia acordará e perceberá que o dia anterior teve o mesmo amanhecer que este, que não há mais esperança , e que a dor virá e você não terá mais medo dela, porque não está vivo por dentro o suficiente para se importar. Até que o entregador bata a porta, que sua irmã mais velha volte de viagem, que tire férias e vá para a casa do campo que sempre sonhou, até que você fure a bolha, e desista desse ciclo, e comece algo novo, até que encontre alguém que te faça querer viver. Este alguém trará uma nova rotina, esse alguém vai mostrar a você partes suas que não conhecia, essa alguém trará vida a você. E para viver tem que sentir, tem que doer para valer a pena, tem que lutar mesmo que doa, e para amar tem que estar vivo, e dar a quem ama uma vida boa o bastante para que ele não se canse de te amar de novo, e de novo. Mas principalmente, se conhecer o suficiente para se fazer feliz.

Ainda existem muitos príncipes e princesas, presos em suas torres altas protegidas por dragões que cospem fogo que mantém seus protegidos longe das bruxas que os enfeitiçam, acima de todos os plebeus , estes príncipes são aqueles que dão o seu poder aos seus protetores para sobreviver. Joseph vivia em uma torre com seu pai e seu primo mais velho , desde que sua mãe morreu, quando ele tinha apenas oito anos. Martim Carvalho era um renomado empresário do mercado de jóias raras, sua vida pública era discreta, perdeu a sua esposa para o câncer e nunca se casou novamente, criou um filho e um sobrinho, montou um império bem sucedido e reconhecido mundialmente. Para Joseph, ele jamais foi um empresário brilhante, talvez um bom negociador, Martim iria até o fim do mundo para ter o brilho das suas esmeraldas nos pescoços da alta sociedade, sem se importar em que teria que pisar para isso. Joseph foi criado por diversas babás, e pela constante ausência de sua figura paterna, quando presente seu pai o criava com agressividade, o jovem português obedecia todas as suas ordens que nasciam da sua prepotência.

Para ele foi como se o pôr do sol se tornasse cinza, e dentro daquelas paredes existissem apenas a luz ofuscante do narcisismo, este cultivado pelo seu progenitor. Ele sentia falta da sua mãe, e o zumbido da culpa nunca deixou de soar em sua mente, ele teria sido um bom filho enquanto pôde? Sabia que a resposta era negativa, o seu amor estava enterrado a sete palmos , era tarde demais, e isso com toda certeza vai doer para sempre.

Quando a dor é sentida demasiadamente, sabe-se prever quando a tempestade está por vir com maestria. Joseph vê o carro esportivo e luxuoso estacionar na espaçosa garagem do andar de baixo, então ele desce do parapeito e fecha as suas cortinas,não haveria glória naquela manhã, era guerra, não era justo.

Sobre a mesa ao lado sua cama continha uma máquina de datilografia, lá todas as suas perguntas eram feitas, todas as suas perspectivas contadas, toda a sua dor era plantada e regada, e era sua forma de revidar, então não pensou por muito tempo, abriu a gaveta e pôs o objeto de valor , trancando-a em seguida.

Pegadas pesadas sobem a longa escada até o seu quarto, isso lhe parece tão comum que poderia contar os segundos até que sua porta seja aberta, de um jeito nada gentil.

— Olha só, estás aqui o poeta desconhecido. Veja só, não sentes vergonha nesta tua cara? — Grita o pai, para seu filho que está em pé, a sua frente. — Responda! — O homem percorre o quarto apertando os olhos, parando e indo em direção a Joseph, que o encara sem expressão, antes de receber um tapa sonoro no rosto.

— Não há mais como mentir, diga que o livro é teu, o que escreve é repugnante, eu não te fiz homem para escrever aquilo , Joseph! Achou que podia mesmo me enganar? Não passa de um garotinho burro e fraco como sempre foi, não é? Chorando na barra da saia de tua mãe, nem mesmo ela te aguentou. — O homem gargalha, enquanto seu filho está paralisado e mergulhado no silêncio.

—- Você tem uma semana para sair daquele curso medíocre, tu já estás matriculado em administração, tu jogaste no lixo a confiança de um pai. — O homem encara o filho enquanto pousa sua mão sobre o pescoço dele o segurando.

— Assinou tudo que lhe dei, então meu pai, não és minha culpa que tu não tenha lido. — Joseph quebra o silêncio,as palavras são densas e ásperas.

— Estou a gostar de como mente bem, gosto de como és uma fraude, filho meu. Sei que mulheres bonitas são boas distrações, mas case-se com a Paola primeiro, você irá se redimir. Ouça-me, você estava triste , você a tinha como amiga e ela se aproveitou da sua fraqueza e seus instintos masculinos afloraram. — Sugere o pai a fim de induzir seu filho.

— Não precisa usar a garota como desculpa, e não sei se Paola me quer. — Justifica Joseph, com os olhos vermelhos e ardentes em uma tentativa de mudar a percepção do pai.

— Os Costa Abreu não são nossos parceiros comerciais, a Paola é sua única e melhor opção. Me desaponte outra vez, e nunca mais poderá escrever de novo, tudo aquilo que você tem me pertence. Não se esqueça filho, sem mim você não é nada. — O homem encara os olhos do filho antes de o soltar.

— Estarei esperando para assistir sua declaração, até o fim do dia, espero que você se desculpe com Paola, estou guardando o anel da sua falecida mãe a tempo demais. — Martim então abandona o quarto.

Mesmo que não haja mais dor, há raiva e rancor . Todas essas emoções se manifestam no jovem português, odiava se sentir impune, odiava ter que se adaptar ao sistema em que estava inserido. Ele sentia-se fraco, não tinha tranças ou cordas que o deixasse fugir da torre em que estava aprisionado. Então, irritado ele caminhou ao banheiro, uma das coisas que o sempre libertou era tomar um longo e fervente banho. Naquela manhã fria, as gotas quentes deslizaram pela sua pele, enquanto cada átomo em seu corpo sincronizava-se com a playlist indie rock que ele escolheu ouvir. Vestiu-se de preto, na calça sofisticada de linho e na camisa polo, colocou então uma corrente de ouro em seu pescoço com um pequeno pingente de flor, uma Dália , sendo este o nome da sua mãe. Cobriu-se com o cheiro amadeirado de seu perfume caro, este com Costa Abreu escrito na embalagem, era impossível fugir do que aconteceu. Mas podia se afastar, então jogou-o na parede e transformou em cacos , sentiu-se tolo pois o cheiro a partir daquele momento ficaria instaurado em seu quarto, assim como a memória da maciez dos lábios de Sara que o assombrava.

A brasileira passou a noite em claro pensando nas palavras do tio e nas tristes circunstâncias da partida da sua mãe. Sara não havia notado que apesar de qualquer discordância ainda havia uma família ali, e que a dor não era apenas exclusiva dela, que aquela trágica noite é também uma ferida aberta em seu tio e possivelmente em Tereza. Então, acordou atrasada para a aula na sua conceituada universidade e só pode visualizar o rumor virtual no caminho. Havia uma nova postagem, e a cada minuto seu aparelho noticiava milhares de mensagens, foi neste momento que se arrependeu perdidamente do dia em que disse que ninguém poderia lhe machucar , descobriu então que não estava blindada, que não estava calejada o suficiente e que não estava anestesiada. Joseph postou um vídeo a acusando de beijá-lo, aproveitando-se de sua vulnerabilidade e que sua intenção era apenas ganhar como brinde a fama equivalente para a mais nova herdeira em Coimbra.

Ainda em seu quarto Joseph publica o vídeo, e descontente abre sua gaveta e ameniza suas emoções digitando nas teclas de sua máquina.

" Sou um homem preso, um homem domado e criado como um boneco para manipulações, " Case-se com ela ou more na rua" Mamãe, me entristece você não ter uma casa no campo com seu nome, me espanta não ter sobrado nada teu, pois papai tomou tudo. Sabe, sempre desejei ter alguém para conversar, talvez nem necessitava ser humano, mas papai disse a mim que se um animal rasgasse uma de suas luxuosas camisas de linho ele faria casacos de pele com ele . Me espanta pensar que aprendi a viver assim, aprendi a ser assim, eu pensei que não me espantaria mais se aceitasse de uma vez por todas que jamais teria o que desejo, e então fechei todas as lacunas, um falso amor, uma falsa faculdade, um falso nome. E ser um pseudo-eu não foi ruim por inteiro, pois havia verdades, em partes, juro que havia no homem que publicou aqueles livros , havia liberdade para curtir todas noites estreladas, e não havia culpa pois não era eu, era quem eu desejava ser e quem eu nunca fui, naquele pseudo-eu não havia dor nem culpa, mas ainda o faltava o amor, como falta para mim. Eu tenho me espantado com o fato de como pode ser rápido a nossa mudança de percepção, como as coisas que ela amava eram as coisas que eu odiava, e agora eu também as amo. Ela me fez trocar minhas lamúrias solitárias para criar cenários fictícios em que eu faria uma piada sem graça sobre gelados e ela riria. O que aquela garota pertinente fez comigo? Se eu a gosto porque me torturo tanto em desejar o que não pode ser meu? Por que sou tão tolo? Eu me recordo que você dizia:" Alguém fará você trocar o porto-seguro pelo campo de batalha, e então vá e lute ,e segure aquela mão até o fim". Mas mãe, ela estaria perdida segurando a minha mão, e eu não a farei perder nenhuma vez dando atenção a alguém indigno como eu".

Joseph então, parte para sua última obrigação. Ver Paola, ele se lembra quando se conheceram, 5 anos atrás, ambos tinham quinze anos e se encontraram em um jantar de negócios entre seus pais, no começo era natural, Paola era uma boa amiga, eles poderiam se divertir e conversar livremente distorcendo o ambiente sério em que estavam, mas então seus pais os notaram e no primeiro dia do ensino médio, lá está ela na mesma turma, na mesma colônia de férias , nas mesmas festas e dentro do mesmo ciclo social, eles estavam sendo manipulados e destinados a serem um casal, inevitavelmente em meses assumiram um namoro, que se tornou duradouro mas não saudável e para Joseph , pouco feliz, houve momentos em que a menina parecia aquela que lhe fez rir enquanto ansiava por entretenimento, e ele amava aquela menina, sempre amou, mas em outros apenas enxergava uma negociadora e seu produto. Com o passar dos anos, seus pais se mantiveram satisfeitos com o relacionamento e isto fez com que eles permanecessem juntos, a aprovação deles e da mídia que Paola passou a fazer parte foram os grandes responsáveis para impedir seu fim.

O português estaciona em frente a tão conhecida mansão de Paola, onde passou tantos momentos de sua vida. Ele ultrapassa a larga porta frontal , e cumprimenta os funcionários perguntando onde estava a ex namorada, seguiu então para a área traseira da residência onde a jovem banhava-se em sua jacuzzi termal, ao caminhar em sua direção é possível vê-la dentro da água.

—- Paola, me desculpe. Eu errei, devemos voltar, precisamos. — Diz Joseph, tentando transformar suas palavras em verdades. Ele se aproxima, distraído pela própria oratória.

— Joseph!? — Ela se assusta com seu tom de voz.

Dentro da Jacuzzi surge um corpo masculino com um rosto muito conhecido pelo português.

— Luiz?

Continue Reading

You'll Also Like

568K 52.6K 74
❝ Amélia Machado sempre foi uma garota introvertida, fechada em seu próprio mundo que podia facilmente ser resumido por suas playlists e pelo seu cad...
95 1 31
Clara achou que tinha deixado tudo para trás quando embarcou para o Canadá: a cidade pequena, os conflitos familiares, e principalmente Lucas, o garo...
9.8K 3.7K 52
[ 𝐋𝐈𝐕𝐑𝐎 𝐍𝐀̃𝐎 𝐑𝐄𝐕𝐈𝐒𝐀𝐃𝐎 ] ❝Depois de você passei a entender porque as tempestades e furações são nomeadas com nome de pessoas❞ Cibele n...
17.5K 60 5
Luara é uma jovem que após passar por uma dolorosa traição se vê forçada a recomeçar sua vida. No entanto, um dia estressante no trabalho acaba se to...