Shane Walsh.
Eu sabia, desde o momento em que nos encontramos naquela cerca, que mais cedo ou mais tarde, teria uma conversa com Rick, eu tinha que me redimir por aquilo que eu tinha feito. Mesmo que eu estivesse temeroso com sua reação, por mais amigável que ele tenha sido, ainda não tivemos a oportunidade de conversar da maneira correta. Então me afastei de Luana e Baby, indo para as cercas, esperando que logo Rick pudesse me seguir. Não demorou muito pra que isso acontecesse.
Seus passos cautelosos logo alcançaram os meus, e nós paramos diante daquelas cercas da prisão. O silêncio da noite nos atingiu, enquanto eu procurava a coragem que precisava para prosseguir. Pensei em Luana, nas coisas que ela sempre me dizia, no quão otimista ela é, pensei que nesse lugar eu conseguiria lhe manter a salvo, assim como a pequena Baby... Eu tinha que conseguir fazer isso, por mais difícil que fosse.
— Eu sinto muito. — É o que eu consigo dizer, após um tempo em silêncio.
Não consigo lhe encarar ainda, mas sei que ele está atrás de mim.
— Por tudo. Eu sinto muito, por Lori, por Carl... Por tudo o que fiz naquela maldita fazenda. — Murmurei, sentindo minha garganta arder e a vergonha subir por meu rosto. — Eu estava fora de mim, fiz coisas que jamais pensei que seria capaz...
Era difícil confessar aquilo em voz alta e não me sentir mal. Enquanto tomo mais uma dose de coragem, Rick permanece em silêncio.
— Eu estraguei a nossa amizade, cara... Coloquei tudo a perder por algo que, no fim das contas, não era real... Eu pensei que era amor, mas era só desespero, luto, dor... Rick, eu não tenho como desfazer o que fiz... Mas eu queria que soubesse que me arrependo. De verdade.
O silêncio pesava como chumbo entre nós, então finalmente me virei para poder encarar Rick. Ele estava parado, com as mãos na cintura, com a expressão séria que fazia quando escutava algum depoimento na delegacia. Lembrar disso quase me fez rir. Então ele suspira, passa a mão pela testa e me encara de volta.
— Eu te perdoo Shane. — Diz, com a voz calma. — Você é meu irmão, apesar de tudo... Não tem como desfazer, ou esquecer o que foi feito. Mas... Eu posso ver o quanto está mudado, o quanto está tentando...
Suspiro, aliviado, como se um peso que saísse de minhas costas.
— Mas se você quer ficar, se quer ser parte do grupo de novo, tem uma coisa que precisa ficar clara. — A voz dele endurece, e eu sinto o peso daquilo. — A liderança aqui é minha. Isso não vai ser discutido. Você não pode questionar isso, Shane. Não pode ter mais espaço pra conflitos, pra desentendimentos. Eu sou o responsável por esse grupo, e não vou deixar a gente passar por aquilo de novo.
Engulo em seco, mas assinto. Sei que ele está certo. Não estou aqui para questionar nada, nem para criar mais problemas. Só quero uma chance de consertar as coisas, de fazer o que é certo dessa vez.
— Eu entendo, Rick. — Respondo, tentando manter a voz firme. — Não quero liderar, não quero causar problemas de novo. Eu sei que da última vez... Eu estava errado. Só quero... Só quero uma chance de proteger quem eu amo.
Rick me encara por alguns segundos, avaliando se minhas palavras são sinceras. Posso ver o conflito nos olhos dele, a desconfiança ainda ali. Vai levar tempo para isso desaparecer, eu sei. Mas então ele estende a mão.
— Vamos fazer isso direito. — Ele diz, e dessa vez, o tom dele é mais firme do que nunca. — Não podemos errar de novo, Shane.
Olho para a mão dele, e por um segundo, me sinto de volta ao passado, como se fosse o Rick de antes, o Rick que sempre confiou em mim. Estendo a minha mão, e aperto a dele com força. Não tem mais volta agora. É tudo ou nada.
Quando solta de minha mão, ele acena com a cabeça, e começa a caminhar. Lhe acompanho, dando uma rápida checada em Luana e Baby, que estavam sentadas perto da fogueira com o restante do grupo.
— Então... Sua garota... Ela apaga as luzes? — Me pergunta, com uma pitada de humor.
Imediatamente, as lembranças daquele dia me invadem a memória. O dia em que Rick levou um tiro. Parece que foi outra vida, mas foi apenas há alguns meses.
— Ela faz muito mais do que apagar as luzes. — Rio, então lhe encaro, divertido. — Ela é cristã, sabia?
— Sério?!
— Dá pra acreditar nisso? Em um mundo como esse, cercado de morte. Luana ainda tem fé. — Suspiro, enquanto caminho. — Quando a conheci, achava isso uma piada. Um absurdo. Hoje, eu admiro, é o que a mantém forte.
— Ela parece uma boa garota. Fico feliz que tenha encontrado alguém. — Ele deu um pequeno sorriso. — Como se encontraram?
— Essa é uma boa história... — Ri.
. . .
Acordo, com a conversa que tive com Rick ainda em minha cabeça. Luana ainda está dormindo, pela maneira que respira, sei que está cansada e com um sono pesado. Tiro alguns fios de cabelo de seu rosto e sorrio, ao lhe observar. Mas um pequeno choro faz com que eu pare de admirá-la enquanto dorme. Devagar, me levanto da cama, para não acordar Luana, e caminho até a caixa. Baby está acordada, sua expressão começa a se contorcer em um choro, e antes que ela resolva testar seus pulmões, eu lhe pego no colo. Também pego sua bolsa e deixo a cela. Daryl não está em seu poleiro, provavelmente já está acordado. Vejo que algumas pessoas ainda dormem, mas ao chegar na parte de baixo da cela, encontro Daryl, Hershell, Carol e T-dogg acordados.
— Bom dia. — Cumprimentei e também fui cumprimentado da mesma maneira.
— Tudo bem? — Carol pergunta, olhando para a bebê choramingando em meus braços.
— Sim. — Murmurei. — Só preciso trocar sua fralda...
— Aqui... — T-Dogg se levanta, apontando para o pequeno colchonete que estava sentado. — Ainda estamos sem mesas...
— Isso está ótimo, valeu! — Aceno.
Coloco a pequena no colchonete e começo a operação, antes que ela se irrite de verdade.
— Ela parece muito saudável. — Hershell comenta. — Como conseguiram mantê-la?
— Tivemos sorte em encontrar uma cabana com muitos recursos. Era seguro. — Respondo.
— Ela é linda. — Carol diz, sorrindo enquanto encarava Baby. — E fofa...
— Ah... Não deixe esse rostinho te enganar. O que a mãe dela tem de dócil, ela tem de azeda. — Ri. — Não é toquinho?
Baby esperneou e franziu a sobrancelha, quase como se confirmasse o que eu havia dito sobre seu temperamento. Termino de trocar sua fralda e volto a lhe pegar no colo, lhe embalo para que pare de resmungar, não querendo que seu choro acordasse os outros, principalmente Luana.
— Aí, até que você leva jeito! — T-Dogg diz.
— Eu cuidava do Carl as vezes. — Dou de ombros.
Assim que falo seu nome, o garoto aparece, saindo de uma das celas.
— Ei cara! — Aceno.
Ele apenas acena de volta, meio cabisbaixo, então senta ao meu lado e observa Baby, em meus braços. A pequena está séria, com os dedos enfiados em minha barba.
— Quer segurá-la? — Pergunto.
— Eu não sei... — Murmurou.
— É fácil. — Dou de ombros. — Tome cuidado com o cabelo, ela gosta de puxar.
Meio hesitante, Carl estendeu suas mãos e eu coloquei Baby em seus braços. O garoto abre um pequeno sorriso, quando ela lhe encara de volta, estranhando e olhando com desconfiança, apesar disso, ela não chora.
— Ela parece uma pequena bonequinha... — Ele diz. — Você acha que... Acha que o bebê da mamãe, estaria desse tamanho?
Pisquei. Tínhamos tantas coisas para resolver, que mal havia me recordado desse detalhe. O que havia acontecido com o bebê de Lori?! Me lembro bem da noite em que lhe busquei na estrada, quando ela capotou o carro de Maggie, e acabei revelando sua gravidez ao grupo. Carl ficou animado por ter um irmãozinho.
— Acho que ainda estaria pequeno... Ainda na barriga da sua mãe. — Respondi, tentando não parecer afetado.
— Hm. — Ele murmurou. — Seria legal ter um irmãozinho... — Suspirou. — Mas... O pai disse que mamãe tomou remédios, pro bebê não nascer...
Engoli a seco. Desviei o olhar por alguns segundos, Hershell, que estava mais próximo, me encarou com pesar.
Então Lori tinha abortado.
Não saberia dizer exatamente o que sentia, mas com certeza não estava feliz com essa informação. Eu não era idiota, sabia que aquela criança era minha, pelo menos, o sangue que correria em suas veias, era meu...
— Ei, amigão... — toquei seu chapéu, que antes pertencia ao seu pai. — Eu sinto muito por isso. Mas você precisa entender. Ter um bebê nesse mundo, não é algo fácil, e sua mãe... Ela fez a melhor escolha que poderia...
— Ela escolheu o fácil. — Ele emburrou, segurando a pequena mão de Baby e encarando a bebê. — Ela sempre me diz pra não fazer algo que parece ser muito fácil...
— Não é culpa dela, Carl...
— Você e sua namorada tiveram um bebê. — Ele cerrou os olhos em minha direção.
— É diferente. A situação foi diferente. — Tento explicar. — Mas não significa que tenha sido fácil. Teve dias que Baby chorava demais, isso atrai os caminhantes. Luna tem que estar sempre bem alimentada, porque Baby depende dela... É difícil mantê-las seguras...
— Mas você conseguiu.
Meio atordoado, eu assenti. Sem saber o que dizer mais, para lhe consolar, me calo. Observo Carl conversar com a bebê, e penso no quanto ele cresceu, em como ele não parecia mais com a criança inocente que deixei para trás naquela fazenda.
Apesar da conversa pesada, Baby consegue aliviar o clima quando bate as mãos no chapéu de xerife, o arrancando da cabeça de Carl, com um grunhido. Ri, Carl deu um pequeno riso quando a bebê esticou a mão para puxar seus fios. Estranhamente, Baby pareceu gostar de Carl.
— Bom dia! — Ao ouvir a voz de Luana, ergui o olhar.
Ela caminhou em nossa direção, coçando os olhos pelo sono.
— Bom dia, docinho. — Lhe cumprimento, com nosso apelido secreto, que a faz sorrir.
— Por que não me acordou? — Ela sussurrou ao chegar mais perto.
— Você estava cansada.
— Você é que estava! — Ralhou.
Dei de ombros, rindo. Luana encarou para a filha, nos braços de Carl e sorriu, vendo que o garoto estava se divertindo com Baby, tentando lhe fazer rir. Ele fazia caras e bocas, até que, finalmente, Baby riu, surpreendendo a mim e Luana.
— Uau! — Luana ergueu as sobrancelhas.
— Você a fez rir... Pode considerar isso um superpoder! — Lhe cutuco e ele ri.
. . .
Luana só me deixa se afastar, assim que termina sua oração por mim. Como sempre, eu não a impeço, afinal de nada me faz mal. Me despeço com um beijo em sua testa e então, parto com Rick, Glenn, Maggie, Daryl, T-Dogg e Hershell. Eu não concordava com a ideia do velho seguir conosco para o próximo bloco na tentativa de encontrar a cantina. Mas, como Rick mesmo disse, ele quem dava as ordens agora.
Os corredores da prisão estavam escuros e com muitos caminhantes, mas com uma formação, nós conseguimos avançar um bom percurso, até um bando deles aparecer do nada e nos separar. Hershell foi mordido, e em um momento de pânico, encontramos a cantina, porém, não estávamos mais sozinhos.
Daryl apontava a besta para os presidiários na cantina, mas a preocupação mesmo era com Hershell. Maggie chorava por seu pai, sem saber o que fazer. Estávamos todos assustados, enquanto Glenn e T-dogg seguravam a porta.
Ao encarar a grande mordida na perna de Hershell, mil coisas passavam por minha mente. Não podíamos perder pessoas, não agora que temos um lugar seguro para tornar nossa casa.
— Rick... — Encarei a machadinha pendurada em seu cinto.
Ele acompanha meu olhar, entendendo minha ideia. Hesitante, ele pega a machadinha.
— Segure a perna dele! — Diz, me encarando.
Me abaixo, e seguro seu pé e tornozelo.
— Faça! — Gritei.
O primeiro golpe fez com que o sangue espirrasse em meu rosto. Hershell gritou, mas logo desmaiou, por conta da dor.
— Precisamos levar ele de volta... Luna é enfermeira, ela vai saber o que fazer. — Disse, rapidamente.
Rapidamente, Glenn pegou um tipo de carrinho, nós colocamos o corpo desmaiado de Hershell sobre ele. T-Dogg abriu a porta e então pudemos sair da cantina, não nos importando com os presos. Apesar de que, meu instinto soava como um alerta, Daryl também pareceu sentir o mesmo que eu, já que ambos ficamos na retaguarda, percebendo que os presos nos seguiam.
A porta do bloco em que estávamos foi aberta, nós entramos, exceto por Daryl e T-dogg, que tinham armas para poder barrar os presos.
— O que aconteceu?! — Carol e Lori correram em nossa direção.
— Ele foi mordido! — Rick respondeu.
— Coloquem ele na cama... — Lori pediu.
Hershell foi colocado na cama. Antes que eu pudesse gritar por Luna, ela apareceu, assustada, porém sem hesitar, entrou na cela.
— Nos dê espaço, ok? — Lori ralhou, quando Luna se aproxima.
— Eu sou enfermeira... Sai! — Luana responde, sem se deixar abalar pela grosseria de Lori.
As mãos de Luana empurraram levemente Lori, não de um modo violento, ela apenas estava preocupada com Hershell. Mas deu para perceber que Lori não havia gostado.
— Tragam lençóis. Precisamos estancar o sangue... — Luana pede, rapidamente.
— Queimar o ferimento seria melhor... — Sugeriu Lori, e Carol concorda.
— Ele pode morrer de choque. — Luana balança a cabeça. — Não temos escolha a não ser usar lençóis como ataduras e esperar que o sangue estanque.
Carol e Glenn foram correndo pegar lençóis.
— Shane, preciso de travesseiros. A perna dele precisa ficar elevada...
Não questiono, apenas faço o que ela pede, indo atrás de travesseiros. Quando volto a cela, ajudo a colocar os travesseiros em baixo de sua perna. Luana estava com a mão e parte dos braços coberta de sangue, mas lutava incansavelmente, pressionando a ferida na perna de Hershell.
Escutei barulhos vindo do refeitório, um dos locais que tínhamos limpado e onde os prisioneiros estavam. Encarei Luana, ela apenas assentiu, como uma forma silenciosa de dizer que estava tudo bem.
. . .
— Tivemos que levar os presos nas cercas. — Encaro-a, Luana está tentando limpar os vestígios de sangue de suas mãos. — Eles não estavam acreditando.
— Acho que eu também não acreditaria. — Suspira. — Olha... Sou a favor de segundas chances, você sabe... Mas... Não gostei daquele Thomas, seu olhar me dá calafrio.
— Eu sei. — Concordo. — Não gostei deles também. Mas Rick decidiu dar uma chance. Vamos ajudá-los a limpar um bloco.
— Okay, Yes. — Luana deu um pequeno sorriso.
— Como está o Hershell?
— O sangue está estancando. Ajudaria se tivéssemos mais ataduras. — Ela coloca a mão na cintura. — Talvez eles saibam onde é a enfermaria...
— Eu vou perguntar. — Lhe encaro, com certo orgulho.
Luana tinha seus cabelos trançados, mas alguns fios sempre escapava de suas tranças, principalmente a franja. Faço questão de tocar a mexa teimosa em seu rosto, colocando-a atrás de sua orelha. Seus olhos castanhos brilhantes me encaram daquela maneira dócil. Eu poderia beijá-la agora, apesar de toda essa sujeira, de todo caos, ela está linda... Porém, eu começava a entender o que Luana havia me dito naquela noite na cabana, sobre um amor espiritual. E eu não ousaria estragar isso por um momento...
Mais tarde, voltamos para ajudar os presos a conquistar o bloco que eles pediram. Algo não estava certo. Senti isso no momento em que Thomas começou a se aproximar demais de Rick, com aquele olhar traiçoeiro. Eu estava de olho nele, mas foi rápido demais. No segundo em que Rick virou para dar instruções, Thomas soltou um zumbi direto sobre ele.
— Rick, cuidado! — Gritei, avançando para ajudar. Rick conseguiu desviar, mas Thomas continuou a atacar. Rick derrubou Thomas no chão com força, e o prisioneiro ainda se debatia, tentando virar o jogo.
Eu sabia o que precisava ser feito.
Quando Rick olhou para mim, sua decisão estava clara. Sem hesitar, eu segurei Thomas pelos braços, imobilizando-o.
— Acaba com isso, Rick. — Falei, a voz firme. Rick não hesitou. Com um golpe rápido, ele terminou o que precisava ser feito. Thomas não viveria para causar mais problemas.
O silêncio caiu sobre o bloco, um prisioneiro fugiu e os outros ficaram parados, em choque. Rick se levantou, ainda ofegante, e olhou para mim. Acenei com a cabeça, sem precisar de palavras. Nós sabíamos que era necessário.
Rick tomou a frente, limpando o suor da testa.
— Eu avisei. Aqui, ou vocês seguem as regras ou vão acabar assim.
O silêncio reinava enquanto Rick e eu trocávamos olhares de entendimento. Este era o novo mundo, e não havia mais espaço para concessões.
Oi Pessuaaaalll!
E chegamos finalmente na prisão!! Ai gente, eu gosto dessa temporada viu. Tinha potencial pra acontecer mais coisas por lá, mas enfim. Eu acredito que vou prolongar um pouco o tempo deles nesse lugar, tudo depende de onde minha ciratividade vai nos levar KK
Eu comecei a escrever uma fanfic do Rick tbm, mas está sendo bem lento, porque quero focar em Redemption. Então provavelmente só postarei quando essa estiver quase no fim.
O que acharam do capítulo?! Esses primeiros dias na prisão foram emocionantes! Né?!
Espero que tenham gostado! Agradeço a todos os comentários desde já e todo o carinho com a história! <3