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O tempo passava diferente ali.
Sem relógio, sem celular, sem barulho de cidade.
Só vento entre as árvores e o som da madeira estalando com o frio.
Ada observava a casa em silêncio.
Era pequena, rústica, mas bem cuidada. Alguém limpava. Alguém abastecia.
E, acima de tudo... alguém vigiava.
Yara mantinha a mesma rotina: café quente, olhares frios, palavras medidas. Sempre perto o suficiente para controlar, nunca perto o bastante para abrir brechas.
Na terceira noite, Ada decidiu testar.
— Quem é ele? — perguntou de repente, quebrando o silêncio da sala.
Yara ergueu os olhos do livro.
— Ele quem?
— O homem com quem você falava no carro. O que manda mais do que você.
A policial arqueou uma sobrancelha, depois sorriu de lado.
— Curioso. Mesmo sob efeito de sedativos, você escuta bem.
— Eu escuto o suficiente pra saber que você não está no topo da cadeia. Só cumpre ordens.
E parece... desesperada pra provar seu valor.
O sorriso de Yara desapareceu por um segundo.
— Cuidado, doutora. Isso aqui não é seu hospital. E eu não sou sua paciente.
Ada sustentou o olhar.
— Não. Você é só mais uma mulher tentando ser vista num sistema podre.
O tapa veio rápido. Quente. Preciso.
Mas Ada não chorou. Só virou o rosto, sentindo o gosto de sangue na boca. E sorriu com ironia.
Yara se afastou. Respirava fundo.
A primeira rachadura tinha aparecido.
[...]
No centro de Seul, Yoongi encarava os restos do celular de Ada como se pudesse reconstruí-lo com a força do ódio.
Contratou um especialista. Alguém que devia favores antigos.
Horas depois, conseguiu extrair dados de backup automático.
Que consegui-o ver através da câmera do celular quando Ada estava em ligação, uma sombra uma mulher.
"Yara..."
Foi o suficiente.
Yoongi se levantou como se fosse feito de aço.
Ligou para Taehyung.
— Ache-a. Agora. Use tudo que temos. Rastreie chamadas, familiares, plantações, chalés.
Essa desgraçada tem cheiro de interior.
— E quando encontrarmos?
— Matem ! E tragam minha Médica de volta. Depois me avise. Ou melhor eu vou com vocês eu quero a matar.
Desligou sem esperar resposta.
O lobo tinha a trilha do sangue.
E dessa vez, não havia mais contenção.
[...]
Na delegacia, Jungkook olhava para a mesa. Algo não batia.
Yara tinha dito uma frase dias antes: Vai encontrá-la, como se ela já soubesse aonde Ada estava.
Era um detalhe sutil. Mas agora parecia um farol no meio do breu. Ela sempre esteve lá nos interrogatórios, quando ele prendeu Ada, e se não era yoongi alguém próximo a ele tinha a sequestrado . Mais a troco de que ?
Puxou o histórico de Yara. Os casos que ela participou. Os acessos aos arquivos.
E ali, outro alerta: Yara havia solicitado dados de vigilância da rua de Ada antes da denúncia do desaparecimento ser oficializada.
"Por que diabos ela faria isso?", pensou.
Pegou a chave do carro e saiu.
Havia algo errado. Algo fedendo sob a fachada impecável.
E se Yara...?
Não. Era cedo demais pra acusar. Mas tarde demais pra ignorar.
Ele precisava encontrar Ada.
Antes que o mundo explodisse — ou que Yoongi o fizesse por ele.
[...]
Ada não era o tipo de mulher que quebrava.
Podia sangrar. Podia gritar por dentro. Mas quebrar... nunca.
Aprendeu a sobreviver com elegância, frieza e silêncio — e agora, cada traço disso era sua única arma.
Já se passavam dias. Ou ela achava que sim.
Sem relógio, a única contagem vinha dos passos dos homens do lado de fora. Dois brutamontes, armados, que se revezavam sempre que Yara deixava o local. Eles não falavam com ela. Nem olhavam.
As portas e janelas eram trancadas por fora.
Nada de maçanetas internas. Travas de ferro.
Era como viver dentro de uma caixa de vidro com paredes invisíveis.
Mas Ada não estava parada.
Ela observava. Escutava. Memorizava cada som, cada cheiro, cada sombra que passava pela fresta da cortina.
Na segunda manhã, desmontou a parte de baixo da cama com a perna de um abajur.
Escondeu o pedaço de madeira pontiaguda atrás do vaso sanitário.
Na terceira, testou os tijolos do banheiro, batendo com o sapato. Achou um que soava oco.
Ainda não tinha como sair. Mas se houvesse uma chance, ela estaria pronta.
O que mais a incomodava não era o cativeiro.
Era o jogo por trás dele.
Yara seguia ordens. Isso já estava claro. Mas de quem?
E por que ela?
Ada se deitou no chão da sala quando ficou sozinha. Fechou os olhos. Refez mentalmente o momento no carro. A voz grave. A postura rígida. As mãos nos bolsos. O tom de quem não precisava ameaçar.
Ela conhecia aquela voz.
Não perfeitamente. Mas... havia algo ali. Uma memória escondida atrás de outra.
Alguém de convivência indireta. Talvez do hospital. Talvez da delegacia.
A ficha ainda não tinha caído. Mas estava pendurada. Quase lá.
Yara voltou mais tarde, carregando comida.
Arroz, carne, legumes. Tudo perfeito demais. Preparado por alguém. Por ela, talvez.
Ada não tocou no prato.
— Não tá com fome? — Yara perguntou, sentando-se à mesa com naturalidade irritante.
— Estou alimentando algo mais urgente. — respondeu, fria.
— O quê?
Ada a fitou.
— A paciência.
Yara sorriu. Mas havia tensão no fundo dos olhos dela agora.
A doutora não estava quebrando. Estava calculando.
E isso... era mais perigoso do que qualquer fuga.
[...]
Ada havia passado dias observando cada canto daquela casa.
Contando os passos dos seguranças, testando as maçanetas, ouvindo o som das trancas do lado de fora.
Ela era calma. Fria. Paciente.
Mas agora, o silêncio lá fora... era sua única chance.
Subiu por uma escada velha até uma espécie de sótão. Uma janela pequena.
Alta.
Mas talvez o suficiente.
Empurrou. Tentou forçar com um pedaço de madeira.
O vidro cedeu.
Ela olhou para baixo. A altura era perigosa, mas a liberdade chamava.
Começou a passar o corpo com cuidado pelo vão estreito.
— Você nunca aprende, né?
A voz veio fria, às costas dela.
Antes que pudesse reagir, Ada sentiu o impacto seco na lateral da cabeça.
PAF!
O mundo apagou em um instante.
[...]
Quando abriu os olhos, o teto girava.
Estava no chão, com gosto de sangue na boca e um zumbido nos ouvidos. Yara estava sobre ela, o olhar transtornado.
— Eu disse que você só tá viva porque eu deixo. — rosnou, os olhos flamejantes.
Segurou Ada pelos cabelos e aproximou o rosto.
— Você quer morrer, é isso? Acha que é corajosa? Fria? Eu te mostro o que é dor.
Yara ergueu a mão de novo, mas antes que pudesse desferir outro golpe...
BUM.
Um tiro ecoou.
Depois outro.
Os seguranças gritaram, correndo do lado de fora.
Yara se virou, alarmada.
Jungkook surgiu na entrada como um raio. A arma em punho. O olhar em fúria.
— Larga ela! — gritou.
Yara ficou paralisada.
Surpresa.
— Jungkook...? — murmurou. — O que você tá fazendo aqui?
Ele hesitou. A raiva escorrendo pelas veias.
— Você? Pensei que éramos parceiros.
O silêncio entre eles foi um soco.
Yara baixou a arma devagar. Como se ponderasse se valia a pena explicar.
Mas antes que pudesse responder, uma nova figura surgiu à porta.
Yoongi.
Um disparo.
PÁ!
Yara caiu com os olhos abertos, sem tempo para qualquer reação.
Yoongi abaixou a arma, indiferente.
— Essa vadia fala demais — disse, como se fosse só mais uma terça-feira.
Ada, mesmo atordoada, não estava surpresa.
Choque sim. Mas não surpresa.
Sangue escorria de sua cabeça.
A visão começava a turvar.
Yoongi se abaixou ao lado dela.
— Vamos. Eu vou te tirar daqui.
— Daqui você não sai! — Jungkook rugiu, apontando a arma.
— Vai fazer o quê, detetive? Me prender de novo? — Yoongi riu, amargo. — Já ouvi isso antes.
— Solta ela!
— Ou o quê?! Já estou de saco cheio de você! Seu MERDA! — Yoongi virou a arma, furioso.
— Parem... — a voz de Ada veio fraca. — Tem mais gente envolvida. Isso não acabou. E eu preciso de um maldito hospital...
Ambos pararam.
O caos suspenso no fio da voz dela.
Yoongi rangeu os dentes.
Jungkook respirou fundo.
E Ada apagou.
[...]
O carro rasgava a estrada deserta com os faróis cortando a neblina. O cheiro metálico de sangue preenchia o ar. Ada estava no banco de trás, inconsciente, a cabeça apoiada com cuidado, o corpo imóvel. Um curativo improvisado pressionava o ferimento na testa.
Na frente, o silêncio era um campo minado prestes a explodir.
Yoongi dirigia com os olhos fixos na estrada, as mãos firmes no volante. Jungkook, ao lado, ainda com a arma sobre o colo, observava Ada pelo retrovisor com expressão dura.
— Quando ela acordar, vai pro hospital. — Jungkook disse, seco. — Eu cuido disso.
Yoongi riu. Sem humor.
— Você não cuida nem de você, detetive.
— Isso não é da sua conta.
— Tudo que envolve ela é da minha conta agora. — Yoongi virou levemente o rosto, o olhar afiado como lâmina. — E depois do que vimos hoje, você realmente acha que ela vai querer voltar pra esse ninho de cobras?
Jungkook trincou a mandíbula.
— Você não sabe o que ela quer.
— Sei mais do que você. — Yoongi rosnou. — Enquanto você a algemava e gritava com ela, eu a estava protegendo. Mesmo que do meu jeito. Mas pelo menos... não fingindo ser o herói.
O silêncio pesou. O motor do carro rugia baixo, quase como um fundo para o veneno que pingava entre os dois.
— Você não passa de um criminoso obcecado. — Jungkook cuspiu. — Ela é livre. E vai decidir por si quando acordar.
Yoongi riu de novo, dessa vez com algo mais sombrio no tom.
— Livre? Depois de ter sido sequestrada por alguém dentro da sua delegacia? Cercada por detetives corruptos? Você não tem mais esse discurso de mocinho, Jeon. Não mais.
Ele fez uma curva brusca.
— E agora, sabendo que os seus colegas são tão sujos quanto os que você prende... — sua voz caiu para um tom quase grave — ...ela não vai voltar pra esse mundo. Não com você.
Jungkook virou o rosto para a janela. Engoliu em seco.
— Acha mesmo que você é o certo nessa história?
Yoongi apertou o volante.
— Eu não sou o certo. Nunca fui.
Atrás deles, Ada murmurou algo baixo, se remexendo.
Ambos olharam ao mesmo tempo pelo espelho retrovisor.
Ela começava a despertar.
E a guerra silenciosa entre eles estava só começando.
[...]
O quarto era amplo, silencioso, decorado com tons escuros e móveis luxuosos. A luz suave do abajur ao lado da cama criava um contraste com a noite que envolvia a mansão. As janelas estavam cobertas por cortinas pesadas. O cheiro era limpo, levemente amadeirado. E o silêncio... quase ameaçador.
Ada abriu os olhos devagar.
A cabeça latejava. O corpo parecia pesado. Havia um soro preso ao braço, e a agulha doía levemente com qualquer movimento.
Tentou se sentar, mas o enjoo a fez recuar.
— Calma. — A voz veio baixa, grave. Familiar.
Yoongi.
Estava sentado na poltrona ao lado da cama, uma expressão fechada no rosto, mas os olhos... atentos demais. Como se estivesse esperando que ela abrisse os olhos desde o momento em que chegou.
— Onde estou? — murmurou ela, a garganta seca.
— Em casa. — respondeu ele, simples. — Chamei um médico de fora. Ninguém sabe que você está aqui. E é melhor que continue assim.
Ela olhou ao redor, os olhos tentando processar.
— Por quê...?
— Porque se você voltasse pra qualquer outro lugar agora, te enterrariam viva antes do café da manhã. — ele disse com firmeza. — Não dá mais pra confiar em ninguém. Nem nos que usam distintivo.
Ada fechou os olhos por um segundo, tentando lembrar. A dor na cabeça pulsava.
— Jungkook...?
Yoongi bufou.
— Ele deixou você vir. Por enquanto.
— Por quê?
— Porque até ele entendeu que não consegue protegê-la. Não agora. Não enquanto tem alguém dentro da delegacia passando informações, sequestrando gente, jogando sujo.
Ada inspirou fundo.
— Então... você vai me manter aqui?
— Não é prisão. — disse ele, com mais calma. — Mas é o único lugar onde ninguém pode te alcançar.
Ela se virou para ele, os olhos ainda pesados, mas a expressão afiada.
— E você? Vai me proteger... ou me possuir?
Yoongi se inclinou levemente para frente.
— Talvez os dois. — respondeu sem piscar. — Mas dessa vez, você tem escolha.
Ela não disse nada. Apenas desviou o olhar, tentando entender o peso do que estava acontecendo. Da dor na cabeça ao gosto amargo da verdade. Nada mais era seguro. Nem o que era certo. Nem o que era errado.
E agora, o jogo tinha mudado.
Espero muito que estejam gostando deixe seu comentário e sua avaliação.
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