Wicked | JENLISA

53. Almo?ar fora.

Com o rosto tomado pelas lágrimas e sem o mínimo de vontade de trabalhar, coloco meu avental e vou até a pequena cantina tomar um copo de café.

Preciso dar um jeito de comer hoje, estou passando mal, mas não tenho a porra de um real na minha conta, nem mesmo no cartão de crédito. Não vou pedir emprestado, odeio pedir dinheiro emprestado porque nunca consigo pagar a pessoa de volta depois, então é melhor eu ficar na minha. Minha cabeça está até latejando um pouco de fraqueza.

A medida que os funcionários vão chegando, vou me encolhendo mais e mais num cantinho, tentando não atrapalhar ninguém na passagem. Assim que meu superior chega, suspiro em pensar na conversa que preciso ter com ele e me aproximo devagar, mas então ele bate as mãos para chamar nossa atenção e sobe em cima de um banquinho.

— Atenção aqui, galera! Eu preciso do nome de todo mundo que for almoçar aqui hoje para pedirmos os kits, beleza? — Que? Quase sorrio quando o escuto falar isso, mas meu sorriso morre imediatamente quando ele continua — a taxa fixa de cinco dólares por funcionário continua, é só pra ajudar a moça da cozinha, beleza? Conto com a colaboração de vocês, galera.

Não tenho cinco dólares.

Engulo em seco enquanto praticamente todos os funcionários vão colocar o nome na lista e fico paradinha no canto esperando o horário chegar logo para ir trabalhar e distrair minha mente. Café vai preencher um pouco do meu estômago, tomei três xícaras, deve ajudar pelo menos um pouco. O sono já até sumiu.

Guardo o celular no armário e vou para a livraria. Eu sou encarregada e organizar livros novos e ajudar as pessoas a encontrarem o que querem, é bem cansativo, mas isso distrai bastante minha mente de qualquer outro assunto, e tem sido bom. Não vejo a hora do primeiro pagamento cair logo na conta, mas ainda faltam dez dias para isso acontecer.

— Não vai querer o almoço, Lisa? — me superior pergunta — é cinco dólares e você tem direito a uma marmita e um suco de laranja.

Suco de laranja é o preferido da Jen. Sorrio com meu pensamento e volto a atenção para meu superior esperando minha resposta.

— Não... obrigada.

— Vai almoçar fora?

— Uhn... — forço um sorriso e me encolho no meu canto outra vez enquanto organizo uma nova prateleira de livros.

Eu poderia pedir para a Rosé, ela com certeza me ajudaria, mas não quero que ela se preocupe comigo, quero que ela fique bem. É só isso. Eu sou a porra da "irmã" mais velha, eu que deveria ajudá-la, não o contrário. Mas nem pra isso eu sirvo.

Empurro um livro tão firme na prateleira que escuto um estalo, mas ignoro e continuo fazendo isso com o restante para terminar logo. Meu estômago não para de roncar, mesmo tendo tomado a porcaria do café, parece que não preencheu nem um pouquinho do vazio.

Me levanto e volto para o estoque para buscar outra caixa, mas antes de pegar a caixa e descer, pego meu celular e confiro as novas mensagens que Jennie enviou. Meu estômago ronca ainda mais alto quando vejo a foto que ela mandou, é um lanche. Claro.

Devolvo o celular para o bolso e volto pra baixo com a caixa de livros e minha consciência gritando por estar mentindo para ela. Não comi porra nenhuma  desde o café da manhã de ontem, isso está me matando, mas vou dar um maldito jeito de conseguir  sozinha. Eu tenho vinte e três anos.

18:55h

A medida que o dia vai passando, me sinto mais e mais fraca, mas não dou o braço a torcer, continuo firme descarregando caixas e colocando livros em seus devidos lugares. Eu sou a única que ainda está trabalhando, isso porque meu turno terminou a quase uma hora atrás, então todos os funcionários já saíram, menos eu.