Jeon's Anatomy ⚕️JJK + PJM

By gcfjkluv

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Após um erro fatal em uma cirurgia, Jungkook, um cirurgião renomado, vê sua vida se desfazer em culpa e incer... More

ʰé
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By gcfjkluv

Olá, gatinhos e gatinhas! Como estão? Estão aproveitando o feriado? Espero que sim!
Peço desculpas pela demora, mas recentemente não tenho tido tempo nem para respirar direito! Então peço a compreensão de vocês.✊😣
Eu tava super ansiosa pra lançar esse capítulo aqui, espero que gostem, de verdade! Ultimamente escrever tem sido uma tarefa bem difícil, então se eu não estiver atendendo bem as expectativas de vocês, já fica aqui minha justificativa.
Vamos aos avisos:
⚠️No capítulo de hoje vocês podem encontrar: Linguagem imprópria e explícita, conteúdo adulto e inapropriado para menores, consumo de álcool e drogas ilícitas, menção a homicídio/feminicídio, agressão/violência e ansiedade.
Boa leitura.🩷

🫀

Durante toda a minha vida, me perguntei se acordar era uma bênção ou uma maldição. Sempre odiei a ideia de abrir os olhos e enfrentar os mesmos demônios que me aguardavam dia após dia.

As pessoas têm essa mania irritante de romantizar a vida. Dizem: "Seja grato, Deus lhe deu mais um dia. Aproveite suas bênçãos." Mas nunca enxerguei nenhuma bênção em ser quem sou.

Para elas, eu era privilegiado. Tinha tudo: uma carreira respeitada, uma casa espaçosa, um carro do ano, status, educação, saúde. Uma família tradicional e bem-sucedida. O retrato perfeito de uma vida invejável.

Mas ninguém via as rachaduras.

Ninguém enxergava o que se escondia por trás da fachada: uma criação abusiva que me moldou com punhos de ferro, uma família disfuncional que nunca foi refúgio, mas palco de tormentos. Um filho que aprendeu cedo o significado da violência. Um homem de psicológico frágil, esculpido por anos de dor silenciosa.

Ninguém via.

Exceto Jimin.

Ele enxergava as rachaduras, até mesmo aquelas ainda ocultas, como se as procurasse deliberadamente. E, naquela tarde, entendi o quanto isso era verdade.

Acordei de supetão em um ambiente claustrofóbico e estéril, iluminado por uma luz branca que parecia agredir meus olhos. Tudo ao meu redor era frio – desde o piso até a corrente de ar cortante que atravessava o consultório médico improvisado no tribunal.

A dor na cabeça foi a primeira a me atingir, latejante e insistente, seguida pela realidade do que havia acontecido: eu desmaiei. Minha pressão despencou, e fui socorrido às pressas.

No processo, ainda bati a cabeça.

As consequências foram previsíveis: roupas trocadas às pressas, soro na veia, uma compressa de gelo sobre o hematoma que começava a se formar, pernas elevadas para aumentar o fluxo de sangue para o cérebro e o coração. E, claro, a humilhação de ouvir o diagnóstico óbvio do médico: desidratação e jejum prolongado.

Não era surpresa. Minha última refeição tinha sido o café da manhã do dia anterior, e fazia uma semana que eu não tomava mais do que um litro de água por dia – mesmo sabendo bem que o mínimo recomendado para um adulto era dois.

Mas o que realmente me atingiu foi lembrar da cena antes do meu colapso.

A porta do tribunal se abrindo, Jimin entrando com dois profissionais desconhecidos e, de repente, o jogo virando de uma forma tão abrupta que mal consegui processar.

Park era sempre surpreendente. Sempre imprevisível. De alguma forma, ele reuniu provas impossíveis de contestar, transformando minha derrota anunciada em uma chance real de lutar por justiça.

Eu não sabia dizer se aquilo era uma dádiva ou uma punição. Já tinha aceitado o peso da condenação, mas ele apareceu e me forçou a encarar a verdade: não haveria injustiça enquanto ele estivesse por perto.

Quando o médico finalmente me liberou com recomendações de repouso e hidratação, me vesti às pressas. Tudo o que eu queria era me trancar no apartamento, abrir uma garrafa de uísque e ignorar o mundo.

Mas o destino tinha outros planos.

Assim que abri a porta da sala, me deparei com um corredor cheio de rostos conhecidos.

Minha mãe foi a primeira que vi, sentada, as mãos entrelaçadas no colo. Ao lado dela, meu pai – postura ereta e sisuda, mas olhos que não conseguiam esconder a preocupação.

E Sohee estava lá também.

De pé, um pouco afastada, os braços cruzados, o olhar fixo em mim. Havia algo em sua expressão– um misto de preocupação e desconforto – que quase me fazia duvidar de sua presença ali. Afinal, nos últimos tempos, ela não demonstrava o mínimo de empatia ou respeito por mim.

Jeongin, Namjoon, Taehyung e outros amigos estavam próximos, suas presenças tão familiares quanto tranquilizadoras. E, no meio de todos eles, estava ele. Jimin.

De início, fiquei atordoado. Era difícil processar a atenção repentina de tantas pessoas. Murmurei algo sobre estar bem, apenas uma queda de pressão, nada sério. Mas a verdade era outra. Eu não estava bem. Nunca estive.

Sohee foi a primeira a se pronunciar, oferecendo-se para me levar para casa. Recusei prontamente, alegando que não deixaria meu carro ali. Minha resposta pareceu confundir alguns, mas ninguém questionou. Não era o momento de explicar que meu casamento já havia desmoronado.

Preferi apenas agradecer a todos e dizer que precisava descansar.

Minha mãe insistiu para que eu comesse algo assim que chegasse em casa. Meu pai, em um gesto raro de carinho, pousou a mão no meu ombro por um instante antes de partir. Mas eu sabia – não era genuíno. Nem necessário.

Jeongin, Nam, Tae e os outros apenas assentiram, respeitando meu pedido de espaço e tempo. Mas quando Park virou-se para ir embora como todos os outros, algo dentro de mim gritou.

Eu precisava falar com ele. Precisava entender.

— Jimin, espera. — Segurei-o pelo pulso, o gesto tão abrupto que ele arregalou os olhos. — Vem comigo.

O levei para um canto mais reservado, longe dos olhares curiosos. O corredor ainda estava movimentado, com profissionais e visitantes transitando, mas uma sala de descanso aberta chamou minha atenção. Vazia. O ambiente perfeito para aquele tipo de conversa.

Empurrei-o suavemente para uma cadeira acolchoada e me sentei ao seu lado.

Por um momento, ficamos em silêncio. Ele me olhou com aquela expressão que eu conhecia bem – uma mistura de paciência e preocupação.

— O que foi tudo aquilo, Jimin? — Minha voz saiu baixa, carregada de confusão, incredulidade e uma pitada de aflição.

As palavras pairaram no ar, ecoando pela sala vazia. O som abafado de passos no corredor parecia distante, como se o mundo lá fora estivesse apartado daquele momento.

Jimin estava ao meu lado, mas parecia em outro lugar, perdido nas próprias memórias.

Ele hesitou. Mas eu sabia que responderia. Park Jimin sempre tinha as respostas. Não importava o quão complicado fosse, ele encontrava um caminho.

Só que, dessa vez, parecia diferente.

O silêncio entre nós era quase insuportável. Eu podia ouvir o zumbido do ar-condicionado acima de nossas cabeças, minha própria respiração irregular, o leve farfalhar do tecido da calça de Jimin enquanto ele cruzava e descruzava as mãos sobre os joelhos.

A luz fria do teto realçava os contornos de seu rosto. A pele pálida parecia ainda mais translúcida sob aquela claridade artificial, revelando o cansaço estampado em seus traços.

Seus olhos estavam baixos, fixos no chão, mas não viam nada. Estavam presos em um passado que eu mal podia imaginar.

Respirei fundo, tentando me recompor.

— Jimin... como você sabia de tudo? — Minha voz saiu mais firme agora, mas ainda hesitante. — Sobre o Eunwoo... e o médico legista... Como descobriu que havia algo errado?

Ele ergueu os olhos devagar, e o que vi ali me desarmou completamente. Vulnerabilidade.

Não era o Jimin forte e impassível que eu conhecia. Não era o Jimin que sempre parecia carregar o mundo nas costas com leveza. Era um homem com cicatrizes profundas, com histórias enterradas que, naquele momento, estavam vindo à tona.

Ele desviou o olhar rapidamente, como se precisasse de um instante para reunir coragem antes de falar. Quando finalmente quebrou o silêncio, sua voz era baixa, embargada, mas carregada de uma intensidade que me fez esquecer tudo ao redor.

— O Hyunwoo... aquele médico legista que você viu... Ele não apareceu na minha vida agora, Jungkook. — Ele fez uma pausa, os dedos entrelaçados em um gesto nervoso. — Ele esteve lá... quando eu perdi tudo.

Franzi a testa, ainda mais confuso. Eu sabia que Jimin carregava traumas, mas ele nunca se abria desse jeito. E então, a revelação veio como um golpe:

— Lembra que eu te disse que minha mãe morreu quando eu tinha cinco anos? — Ele indagou, e eu assenti em silêncio.

— Ela foi brutalmente assassinada. Bem na minha frente.

Prendi a respiração. O choque veio como uma onda gelada, me paralisando por completo. Ele não me olhou, apenas continuou:

— O assassino era um policial que minha mãe achava que podia amar. E por um tempo, eu também acreditei nisso. Eu o chamava de pai.

A amargura em sua voz fez meu peito apertar.

— Mas ele nunca foi nada disso. Sempre foi um monstro. Enganou, manipulou... e no fim, matou minha mãe como se a vida dela não valesse nada.

Ele respirou fundo, os punhos cerrados, a raiva pulsando em cada palavra.

— Ele não precisava de um motivo para me odiar. Eu simplesmente existia, e isso já era o suficiente para ele me desprezar. Para ele, eu não passava de um peso, um incômodo... algo que nunca deveria ter estado ali.

Seus lábios e queixo tremeram, um sinal sutil do pranto prestes a escapar. Mas ele fechou os olhos, respirou fundo e manteve a voz firme ao retomar:

— Hoje... eu nem consigo me lembrar mais do rosto dele. Meu cérebro bloqueou tudo... todas aquelas lembranças. A polícia alegou que não haviam provas suficientes e ele nunca foi preso. Mas, claro, eles sabiam. Encobriram tudo para proteger o parceiro deles. No fim, a investigação foi anulada como se nada tivesse acontecido.

Ele soltou uma risada curta, sem humor.

Nunca houve justiça pela morte da minha mãe.

Sua voz se tornou um murmúrio triste quando ele desviou os olhos lacrimejantes, como se não conseguisse me encarar enquanto compartilhava suas dores.

— Quando aquele monstro surtou naquele dia... eu não lembro exatamente o que aconteceu... — Sua respiração vacilou. — Só lembro dos gritos dele, dizendo que eu era o erro da vida dela. Dos gritos da minha mãe. Do sangue dela...

Ele engoliu em seco.

— E depois... o silêncio.

Respirou fundo, mas o som saiu trêmulo, como se segurasse um peso insuportável. Algo que ainda o consumia, por mais que tentasse esconder.

— Depois disso, uma amiga da minha mãe me acolheu. — Ele fez uma pausa, como se buscasse forças para continuar. — Ela era jovem, mal tinha estrutura para criar uma criança... mas tentou. E eu a amava por isso.

O silêncio que se seguiu foi quase doloroso.

— Mas ela começou a investigar a morte da minha mãe. Achava que podia provar algo... — Ele fechou os olhos por um instante. — E quando eu tinha quinze anos... eu a encontrei morta.

O nó na minha garganta apertou.

— O homem que fez isso... aquele desgraçado... era um comparsa do assassino da minha mãe. Esse cara ao menos pagou pelo que fez. Já o chefe dele... o que começou tudo... eu nunca mais vi. Nem sei se está vivo.

O ar na sala ficou mais denso, sufocante. Minha mente corria, tentando entender como alguém como Jimin – alguém tão bom – havia suportado tudo isso.

Queria envolvê-lo em um abraço, dizer que agora estava tudo bem. Queria sussurrar o quanto ele era forte, o quanto me orgulhava...

Mas não consegui.

Eu precisava saber mais.

— Foi quando eu tinha cinco anos que Kwon Hyunwoo apareceu. — A voz de Jimin saiu baixa, quase hesitante. — Ele era só um estagiário no IML, mas... ele ajudava famílias como a minha. Ele cuidou do corpo da minha mãe... e, anos depois, do corpo da minha segunda mãe. Foi a única pessoa que me deu apoio quando ninguém mais se importava.

A vulnerabilidade em suas palavras era quase angustiante. Eu não sabia se o consolava ou permanecia em silêncio, apenas absorvendo tudo. O som abafado da minha própria respiração parecia ensurdecedor enquanto tentava processar aquilo.

— E é por isso que você confiou nele agora... — Murmurei, quase sem perceber.

Jimin assentiu.

— O Doutor Kwon é a pessoa mais íntegra que eu conheço, Jungkook. — Seu tom era firme, mas carregado de algo mais profundo: gratidão, respeito. Seus olhos encontraram os meus, brilhando sob a luz fria da sala. — Quando descobri que o IML responsável pelo caso do Youngjae era o mesmo onde Hyunwoo trabalhava, soube que podia contar com ele. Sabia que, se havia algo errado, ele encontraria.

Tentei assimilar aquelas palavras, mas parecia impossível. Cada frase carregava um peso esmagador, uma camada de implicações que apertava meu peito. E ouvi-lo mencionar o nome do rapaz que vi morto naquele dia, o jovem que se tornou a origem de incontáveis pesadelos... só tornava tudo ainda mais sufocante.

Permaneci em silêncio, encarando o chão, enquanto ele continuava:

— Hyunwoo percebeu que algo não fazia sentido nos documentos. Achou estranho como os resultados saíram tão rápido, de um jeito quase... conveniente.

Eu me ajeitei na cadeira, tentando conter o redemoinho na minha mente confusa.

— Então ele começou a investigar por conta própria... — Jimin completou, cruzando os braços enquanto inclinava o corpo levemente para frente, como se precisasse de apoio para continuar.

Levantei a cabeça devagar, encarando-o com uma mistura de dúvida e apreensão.

— Investigar? — Minha voz saiu baixa, como se a palavra carregasse um peso perigoso.

Park assentiu, sua expressão ficando ainda mais sombria.

— Como médico legista-chefe do IML, Hyunwoo tem acesso a todas as credenciais dos computadores. — Ele hesitou por um momento, escolhendo as palavras com cuidado. — Começou a monitorar a estação de trabalho de Oh Sehun, especialmente durante os turnos em que o prédio estava vazio... Mas até então, não tinha encontrado nada. Já estava prestes a desistir. Foi quando eu apareci e disse que você era meu amigo, que precisava de respostas.

A sala parecia ainda menor, os detalhes se destacando de forma incômoda: o brilho do piso polido, o reflexo frio da luz no tampo de vidro da mesa de centro, o cheiro químico de desinfetante impregnando o ar.

— Ele já desconfiava da ética do médico responsável pela necropsia... Mas quando viu o quanto isso importava para mim, retomou a investigação. E foi aí que encontrou a prova que precisava.

Minha respiração falhou.

— Que prova? — murmurei, a voz fraca, tomada por um misto de urgência e receio.

O loiro ajustou a postura, endireitando as costas, enquanto seus olhos fixos nos meus escureciam.

— Uma conversa no computador do Sehun. — Ele fez uma pausa, o tom de voz baixo, mas afiado como uma lâmina. — Ele esqueceu o WhatsApp conectado no computador do serviço... e estava trocando mensagens com Cha Eunwoo.

O nome atingiu meu estômago como um golpe seco. Meus ombros enrijeceram, e senti o sangue pulsar forte nos ouvidos. Jimin percebeu minha tensão, mas continuou com uma calma calculada, o olhar carregado de gravidade:

— Eunwoo era o responsável pela anestesia do paciente que morreu, certo?

Engoli em seco e assenti, incapaz de dizer qualquer coisa.

— Ele sabia que cometeu um erro grave na dosagem de propofol. — A voz de Jimin era firme, implacável, mas havia um peso de desgosto ali. — A dose era alta demais para aquele paciente. A parada cardíaca foi consequência direta disso.

Meus dedos se apertaram contra os braços da cadeira, as unhas quase cravando no estofado. Um peso sufocante se instalava em meu peito.

— Ele entrou em pânico, Jungkook. Sabia que, se a verdade viesse à tona, perderia a licença médica.

Jimin se inclinou levemente para frente, sua expressão carregada de algo intenso. Seu olhar cravou no meu como se quisesse me segurar ali, impedir que eu desmoronasse sob o impacto daquelas palavras.

— Foi aí que ele decidiu jogar toda a responsabilidade em você. — A frase foi dita com precisão cirúrgica, cada palavra atingindo meu peito como um golpe certeiro. — Eunwoo sabia que você já estava em uma posição frágil no hospital. Sua reputação estava marcada por situações anteriores, e seu desgaste emocional era visível para todos. Você era o alvo perfeito.

Minha mandíbula travou. Os músculos das minhas mãos estavam tão tensos que chegavam a doer. A sala parecia girar, as paredes se fechando ao meu redor.

Olhei para Jimin, desesperado para encontrar uma falha naquela explicação, uma brecha, algo que tornasse tudo menos real.

Mas tudo fazia sentido.

Dolorosamente, terrivelmente, cruelmente... fazia sentido.

— Então ele pediu ajuda ao Sehun... — Minha voz saiu fria, cortante, carregada de uma raiva crescente.

Jimin assentiu, a expressão endurecida.

— Sim. Eunwoo pagou Sehun para falsificar o laudo pericial. Hyunwoo encontrou comprovantes de transferências bancárias entre eles. Os valores eram altos demais para serem explicados. — Ele fez uma breve pausa, me dando espaço para absorver tudo, antes de continuar com um tom amargo. — E as mensagens... elas deixavam tudo claro. Eunwoo instruiu Sehun a alterar o laudo, colocando a culpa em você. Enquanto isso, ele permaneceria intocado.

O mundo ao meu redor pareceu ruir. A sala que antes me sufocava agora parecia desmoronar sobre mim. Meus pensamentos se atropelavam, voltando insistentemente para os momentos em que confiei cegamente em Eunwoo.

— Ele destruiu minha vida... por medo de perder a dele. — Minha voz saiu quase inaudível, carregada de uma dor que eu nem sabia que ainda era capaz de sentir.

O loiro não hesitou. Sua resposta veio firme, quase cortante:

— Ele tentou destruir sua vida. Mas Hyunwoo não deixou. Eu não deixei.

Olhei para ele, surpreso com a intensidade daquelas palavras. Mas Jimin não recuou. Seu tom suavizou, mas a convicção permaneceu:

— Hyunwoo reuniu todas as provas, Jungkook. Ele foi direto para a promotoria ontem porque sabia que não podia esperar. Que você não podia esperar. E foi por isso que invadimos sua audiência hoje. Para que você não tivesse que carregar um erro que nunca foi seu.

As palavras de Jimin ecoaram dentro de mim. Meus ombros caíram, e, pela primeira vez em meses, senti algo que se assemelhava a alívio. Mas também havia um vazio.

— Eu confiei nele, Jimin... — Minha voz falhou, sem força alguma. — Eu confiei no Eunwoo.

— Eu sei. — O olhar de Jimin suavizou, e sua mão pousou sobre meu ombro. Um gesto simples, mas que carregava mais conforto do que qualquer palavra poderia oferecer. — Você não merecia isso, Jungkook... Você é uma das pessoas mais doces e generosas que eu conheço.

Fechei os olhos por um instante, sentindo as lágrimas queimarem por trás das pálpebras. Respirei fundo, lutando contra a maré de emoções que ameaçava me engolir.

— Muito obrigado... — Murmurei, a voz quebrada, mas sincera. — Por não desistir de mim.

Jimin sorriu levemente, mas seus olhos diziam mais do que qualquer sorriso poderia.

— Eu só fiz o que era certo...

Mas, para mim, naquele momento, ele tinha feito muito mais do que apenas isso. Jimin havia se tornado o fio que me conectava à esperança, o laço que me mantinha ancorado na crença de que ainda poderia existir um amanhã justo e promissor.

Sem perceber, ele me deu um motivo para levantar todos os dias, para encarar o mundo e, pela primeira vez em muito tempo, acreditar que meu destino ainda podia mudar.

⚕️

Saímos do tribunal naquela tarde de quinta, e eu o levei para o meu apartamento. Lá, ele conheceu Bam e se apaixonou de imediato pelo Doberman, passando um bom tempo brincando com ele. Depois, cuidou de mim – preparou uma comida gostosa e fez uma vitamina, garantindo que eu seguisse cada recomendação que o médico me deu mais cedo.

Mais tarde, entre beijos demorados e carícias que falavam mais do que qualquer palavra, me vi refletindo sobre nós. Algo parecia diferente. Mais sólido. Mais certo. Como se o simples fato de estarmos juntos já fosse a base de algo grande, algo que podia durar.

Passamos um tempo montando a Millennium Falcon, que estava esquecida na caixa de papelão. O manual tinha sumido, mas encontramos um guia online e fomos improvisando. Ríamos das peças erradas, do caos que parecia não ter solução.

Até que Jimin, com aquele olhar sonolento e uma voz quase manhosa, resmungou:

Hyung, tô cansado...

Eu disse que ele podia dormir e que continuaria montando sozinho. Mentira. Assim que ele foi para o quarto, fiquei alguns minutos encarando as peças e logo desisti. Eu também estava cansado.

Apaguei a luz, deixei as peças espalhadas e fui para a cama.

Deitei ao lado dele em silêncio, achando que poderia passar despercebido. Que ingenuidade. Jimin nem precisou abrir os olhos para saber que eu estava ali. Ele riu baixinho – aquele riso que parece um abraço – e murmurou, a voz ainda embargada pelo sono:

Mentiroso.

Então me puxou para perto, os braços envolvendo minha cintura, a perna jogada sobre meu corpo, como se quisesse garantir que eu não fugiria. Ficamos assim, colados, respirando juntos, sem precisar dizer nada.

Mais tarde, no sofá, tentamos assistir a um filme. Era suspense... ou pelo menos deveria ser.

Estávamos encaixados na conchinha, dividindo a pipoca, meu corpo moldado contra o dele, o calor de sua pele me envolvendo como um abraço silencioso. Tudo parecia tranquilo – até que ele começou a se mover. De leve, quase inocente. Se esfregando contra mim.

No começo, achei que fosse sem querer. Mas na terceira vez, não havia mais dúvidas. Era um teste. Um jogo perigoso.

Meu corpo respondeu antes mesmo que eu pudesse racionalizar, um formigamento quente subindo da base da minha coluna até minha nuca. E então, ali estava ele – duro, pulsante, pressionado contra mim, a evidência crua do desejo que já não se escondia.

Park não disse nada. Não precisou. Apenas inclinou-se, os lábios roçando minha orelha, a respiração quente arrepiando minha pele.

— Haa... Jeon... você me deixa louco. — Ele arfou, mordendo meu lóbulo, a voz carregada de malícia.

Seus dedos deslizaram lentamente pela curva da minha cintura, num toque preguiçoso, possessivo, antes de descer até meu quadril e apertar minha bunda com aquela pegada que só ele possuía.

Meu corpo estremeceu com o simples toque. E eu me odiei por me entregar tão rápido.

— Eu vi aquela foto que você me enviou terça-feira... — Jimin murmurou contra minha pele, a voz rouca, repleta de algo sombrio e delicioso. — Depois do treino, no banheiro da sua suíte... sua bunda, suas coxas... tão lindas... tão carnudas e gostosas... E o jeito que você estava apertando e empinando esse rabo, só pra me provocar... Você sabia muito bem o que estava fazendo, não sabia?

Eu gemi baixinho, apertando os olhos e comprimindo os lábios.

— Eu sei bem quais eram suas intenções quando me mandou aquilo. Você queria me deixar louco, não é? Se eu pudesse, teria largado tudo e ido até você naquele segundo, só pra te foder contra aquela pia...

Um arrepio percorreu minha espinha, minha respiração entrecortada pela antecipação.

— Eu fiquei tão triste que você não me respondeu, Jimin... — Confessei, manhoso, sentindo suas mãos explorarem meu corpo, os toques cada vez mais ousados. — Sabe o que eu fiz?

Ele riu baixinho, um som deliciosamente pecaminoso.

— O que você fez, hm?

— Me toquei... sozinho... — Murmurei, a voz carregada de desejo. — Mas meus dedos não eram tão bons quanto seu pau... sabe o que eu tive que fazer pra lembrar de você?

Jimin parou de beijar minha pele por um segundo, apenas para me olhar, um sorrisinho de canto brincando em seus lábios.

— Me conta, amor... — Incentivou, a ponta do nariz roçando minha bochecha.

Eu umedeci os lábios, sentindo um nervosismo súbito misturado com excitação.

— Eu fui até um sexshop... e comprei algo que nunca imaginei que compraria um dia...

Os olhos de Park se encheram de curiosidade e pura luxúria. Ele ergueu uma sobrancelha, mordendo o próprio lábio antes de sussurrar:

— Comprou algo, é? O que foi que o meu garotão comprou?

O tom malicioso dele fez meu coração disparar, e eu soube, naquele instante, que não havia mais volta.

— Eu comprei um lubrificante... e um dildo que vibra... do mesmo tamanho que seu pau... — Admiti, sentindo um calor subir pelo meu rosto, mas sem recuar. — Passei horas me divertindo com ele... imaginando você.

A coragem que aquilo exigiu de mim parecia digna de aplausos, e o sorriso largo e satisfeito de Jimin deixou claro que ele aprovava cada palavra. Seus olhos brilhavam com um misto de orgulho e travessura, como se eu tivesse acabado de lhe dar o melhor presente do mundo.

— E me diz... o que você prefere? Ser fodido por mim ou por um brinquedo? — O loiro provocou, a expressão carregada de malícia.

Soltei uma risada curta, sentindo o fogo na sua pergunta e o olhar ardente sobre mim.

— É claro que eu prefiro meu homem, né? Nada se compara a você.

Mal terminei a frase e já fui atacado. Jimin se jogou sobre mim, espalhando beijos pelo meu rosto, aspirando meu cheiro, mordiscando minha pele, ao mesmo tempo em que me torturava com cócegas impiedosas.

— "Seu homem", é? Então você gosta dele, né? Quer dar pra ele, hm? — Sua voz carregava diversão e desejo, enquanto me assistia me debater entre gargalhadas descontroladas no sofá.

— Hahahaha! P-para, Jimin! — Eu implorei, entre risadas que saíam altas, finas demais para um homem, mas completamente incontroláveis. — E-eu vou mijar se você continuar! Ahh! Hahaha! Para! Eu juro que vou te dar! Eu juro! Agora para!

Só quando minhas súplicas se tornaram quase desesperadas ele finalmente teve piedade. Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego, antes de lhe dar um tapa no peito, encarando-o com falsa irritação.

— Você é insuportável.

Jimin apenas riu, deitou atrás de mim outra vez e me puxou para perto de novo, me encaixando contra seu peito, os braços me envolvendo como um casulo quente. Ele colou os lábios no meu pescoço e sussurrou com um tom que derreteu cada pedaço de mim:

— Você tenta parecer sério e intimidador na frente dos outros... mas no fundo, você é só um bebê querendo atenção. — Seu sorriso se alargou quando deslizou o nariz pela minha pele. — Você é tão fofo... eu amo como você é adorável, Goo.

Soltei um riso abafado, balançando a cabeça, mas não resisti à sua ternura. Virei o rosto para ele e capturei seus lábios num beijo demorado, preguiçoso, profundo.

Rebolei meu quadril devagar e me empinei contra ele, sentindo como seu corpo reagia ao meu. Jimin soltou um suspiro contra minha boca, as mãos pequenas deslizando pela minha cintura, apertando com firmeza.

Ainda naquela posição, sem pressa, desci minhas peças inferiores. Meus dedos afastaram minhas nádegas, deixando minha entrada exposta para ele. Jimin entendeu o convite e, sem desviar os olhos de mim, levou dois dedos à minha boca e ordenou:

— Chupa.

O grave da sua voz me fez estremecer. Obedeci sem hesitação, envolvendo seus dedos com meus lábios, lambuzando-os com saliva, sentindo como ele me observava com pura adoração e desejo.

Ele deslizou os dedos para baixo e começou a me preparar. Primeiro devagar, com cuidado, como se estivesse pintando minha pele, mapeando meu corpo. Mas logo a pressão aumentou, outro dígito se juntando, abrindo espaço para ele. Me arqueei, mordendo o lábio, uma onda quente percorrendo meu ventre.

E então, senti a ponta de seu pau roçando meu orifício, deslizando ali, testando, provocando.

— Posso colocar, príncipe? — Ele perguntou, a glande já molhada de pré-sêmen acariciando minha entrada.

Fechei os olhos, todo meu corpo ansiando por ele. Não hesitei nem por um instante antes de murmurar:

— Pode... me fode, Ji...

Mas Jimin sorriu contra minha pele e negou com um movimento sutil da cabeça.

— Eu não vou te foder hoje, amor... — Sua voz veio num tom suave, sedutor. — Eu quero te amar. Bem devagar. Bem gostoso.

Abri os olhos e o encarei. Havia algo diferente naquelas íris azuis. O desejo ainda estava ali, evidente, mas misturado com algo mais profundo, mais íntimo. Ele me olhava como se eu fosse um tesouro raro, algo precioso demais para ser tomado às pressas.

— Você gosta disso, né? — Ele perguntou, deslizando os lábios pelo meu ombro com carinho. — Gosta quando eu sou delicado com você... quando eu te encho de beijos... Hm?

Minha garganta secou.

— Gosto... — Assumi, quase num sussurro.

Jimin sorriu pequeno, um rubor discreto colorindo suas bochechas. Notei como sua respiração estava acelerada, como seu coração pulsava forte contra as minhas costas, e aquilo aqueceu algo dentro de mim, tanto quanto o calor que já consumia nossos corpos.

Naquele momento, não havia mais pressa. Apenas nós dois.

Faz amor comigo, Jimin...

As palavras deslizaram dos meus lábios como um cochicho inevitável, escapando antes mesmo que eu pudesse refletir sobre elas. Com ele me hipnotizando daquele jeito, com esse olhar carregado de algo tão intenso e avassalador, parecia fácil demais confessar qualquer coisa.

Será que ele sentia o mesmo por mim? Será que estava tão entregue quanto eu?

A dúvida se dissolveu no instante em que Jimin começou a me preencher, deslizando para dentro com certa resistência.

— Agh... abre para mim, 'bê... — Ele murmurou, a voz embargada pelo esforço de se encaixar em mim sem me machucar. Seus dentes prenderam o lábio inferior, e o brilho de prazer contido em seus olhos me fez estremecer.

Respondi com o corpo. Me empinei mais, relaxando para recebê-lo melhor, mesmo que o desconforto inicial ainda me fizesse prender o ar. Sempre era assim no começo. Sempre era difícil acomodá-lo. Mas logo a dor se dissiparia, e tudo o que restaria seria o calor, o arrepio, a necessidade insaciável de tê-lo mais fundo.

Jimin deslizou por completo e permaneceu ali, imóvel, me envolvendo num abraço apertado. Seus lábios não desgrudavam do meu pescoço, e entre cada beijo ele sussurrava palavras que vinham direto do coração.

Dizia que eu era bom para ele. Que me desejava. Que nunca se cansaria de me ter assim. Sua pelve se movendo devagar contra a minha bunda, seu membro me acariciando e tocando por dentro, quase como se também pudesse me dizer palavras belas, cheias de amor.

Naquele instante, meu peito foi tomado por uma avalanche de sentimentos indomáveis, uma emoção densa e quente que se espalhava pelo meu corpo, crescendo como lava prestes a transbordar. Um nó se formou em minha garganta, ardente e à beira de se desfazer.

Por um breve segundo, estive a um fio de confessar que o amava.

As palavras estavam ali, tão perto, ansiosas para se derramarem entre os gemidos suaves que escapavam de mim. Mas me contive. Não era o momento certo. Então, num impulso de coragem quase inconsciente, murmurei algo que, embora menos avassalador, ainda carregava o peso do que eu sentia:

— Eu poderia morrer feliz se você dissesse que me ama hoje...

Jimin parou por um segundo. Seus movimentos cessaram e ele me encarou por um tempo, estudando-me com os olhos para ter certeza de que havia escutado aquilo corretamente.

— Ahh, Jeon... Eu não vou dizer que te amo. Ainda estou ponderando sobre isso... — Ele respirou fundo, a voz rouca, carregada de intenção.

Antes que eu pudesse protestar com palavras meu corpo já estava respondendo por mim, empurrei o quadril contra ele, num gesto involuntário de reprovação, arrancando-lhe um grunhido profundo.

— Oh... deixa eu terminar de falar... — Sua respiração tremeu contra minha pele. — Eu não vou te dizer isso... porque se você morresse hoje, minha vida perderia completamente a graça.

Meu coração tropeçou dentro do peito.

Ele sorriu, travesso, rindo ao perceber o bico que, sem querer, se formou em meus lábios. Um gesto manhoso, quase infantil, que tentei conter, mesmo quando senti as lágrimas se acumulando no canto dos olhos.

Por que ele tinha que ser assim? Tão malvado e tão fofo ao mesmo tempo? Ele me deixava confuso, me deixava apaixonado... e me fazia perder o controle sem nem perceber.

— Eu acho que sou capaz de morrer de curiosidade se não souber o que você sente... — Choraminguei, minha voz saindo num tom quase ingênuo, tentando arrancar mais dele.

Jimin parou de se mover outra vez, em completo silêncio. Então, senti o calor do seu corpo começar a se afastar, e uma onda de confusão me atingiu.

Amor... — Murmurei, num tom de reprovação, sentindo meu interior se contrair ao perceber seu membro deslizar quase para fora de mim.

Mas, de repente, ele saiu por completo.

O vazio foi imediato. A frustração me atingiu com força.

Quase chorei, desesperado para tê-lo de volta. Mas antes que ele sequer tentasse trocar de posição, fui mais rápido. O empurrei contra o sofá com uma afobação possessiva, montando sobre ele sem hesitar.

Num movimento instintivo, alinhei nossos corpos e o encaixei de volta dentro de mim.

— Hmph... Jimin... — Gemi, estremecendo ao sentir o encaixe ainda mais profundo. Minhas mãos deslizaram até as dele, puxando-as para repousarem em minhas nádegas. — Se você me quer mesmo... e-então... ngh... não me faz correr como um louco atrás de você...

Ele arfou, apertando minhas coxas com força, guiando meus movimentos, os olhos semicerrados me observando de baixo como se estivesse completamente à mercê de mim.

— Ohh... — A respiração dele estava pesada, os lábios entreabertos, um brilho febril em seu olhar. — Eu garanto que o que a gente sente, meu amor... é mútuo.

Antes que eu pudesse responder, suas mãos firmes subiram pela minha cintura até a nuca, puxando-me para um beijo que roubou o fôlego e qualquer pensamento coerente.

Não foi um beijo qualquer. Aquele beijo falava "eu te amo" sem precisar de voz, apenas toque.

Num instante aquele ósculo, carregado de ternura e afeto, se aprofundou o suficiente para me fazer derreter sobre ele.

E ali, entre suas palavras, seus toques e seus olhos que diziam mais do que ele próprio permitia, percebi uma verdade inegável:

Jimin era um verdadeiro desafio ambulante – alguém que não podia ser apressado, que precisava ser moldado com paciência e afeto. Ele precisava se sentir seguro para dar cada passo, para avançar sem medo, e era exatamente isso que eu desejava oferecer a ele. Segurança, cuidado, amor e carinho. Eu lhe daria tudo, sem hesitação, até o dia em que me tornasse digno de ouvir seu "eu te amo".

Eu estava a um passo de abrir completamente meu coração, de expor cada sentimento precioso que guardava por ele. Mas, por enquanto, aquela troca de palavras sinceras parecia suficiente.

Por enquanto.

Naquela noite, fizemos amor por horas. Não foi como das outras vezes, tomadas pela pressa e pelo calor insaciável da necessidade. Dessa vez, tudo aconteceu em um ritmo diferente – lento, carinhoso, íntimo. Quase sagrado. Cada toque carregava um significado mais profundo, cada suspiro era uma promessa silenciosa, e cada instante parecia se prolongar no tempo, como se o mundo ao nosso redor tivesse deixado de existir.

Quando os créditos do filme subiram na tela, ele me preencheu novamente, pela segunda vez. Agora deitado sobre mim, seu corpo cobria o meu enquanto eu o envolvia com braços e pernas, segurando-o junto a mim como se pudesse fundi-lo ao meu próprio ser. Nosso beijo era repleto das mais puras sensações, um misto de entrega, desejo e um sentimento que crescia entre nós sem que precisássemos nomeá-lo.

E foi ali, naquele momento, sentindo seu calor, sua respiração misturada à minha, que algo se firmou dentro de mim: estar com ele era como voltar para casa. Para um lugar que sempre foi meu, que eu sempre ansiei, mesmo sem saber.

Era um caminho pelo qual eu estava disposto a me arriscar, mesmo conhecendo os perigos. Porque nada se comparava à sensação de estar completo a cada gesto pequeno de carinho, de proximidade.

Pela primeira vez, comecei a enxergar nosso futuro com clareza. Uma vida de rotina simples, mas feliz. Nós seríamos uma família, talvez até mais do que isso.

Park era cuidadoso, não apenas comigo, mas com todos ao seu redor. Ele tratava Bam com a mesma gentileza, como se entendesse a necessidade de equilíbrio em tudo – um gesto de carinho para o cachorro, um sorriso para mim, uma atenção dedicada às pequenas coisas do lar.

Ele cozinhava bem, arrumava a casa com uma habilidade que eu nunca havia percebido antes e até consertou aquela torneira antiga da área de serviço que não parava de pingar, mesmo quando fechada. Mas não eram só essas coisas práticas que me faziam ver um futuro com ele. Havia algo mais, algo que eu não conseguia colocar em palavras, algo mais profundo.

E claro, havia o sexo – não podia negar, Park sabia como me fazer sentir bem como ninguém. Ele me dava algo que eu nunca soubera precisar até então.

Mas, como sempre, a realidade fazia questão de lembrar que o tempo nunca estava do nosso lado. Por mais que eu quisesse que Jimin ficasse, que ele simplesmente deixasse tudo de lado e fosse apenas meu, ele tinha sua vida.

Havia responsabilidades que o chamavam: o Cookie esperando em casa, a rotina de treinos, os estudos para as avaliações. Coisas que faziam parte de quem ele era, de tudo que eu admirava, mas que, naquele momento, me frustravam por afastá-lo de mim.

A partida dele sempre deixava um vazio. Era como se uma onda fria passasse por mim, levando embora o calor que ele deixava. Mas, ao mesmo tempo, havia algo reconfortante nisso – uma lembrança de que ele ainda tinha um mundo próprio, algo que o mantinha em equilíbrio. E, de alguma forma, isso só fazia eu admirá-lo ainda mais.

Mesmo assim, não era fácil ignorar como a dependência que eu sentia por ele crescia a cada dia. Era agridoce, uma mistura de conforto e necessidade, como se ele fosse o único ponto fixo no caos que minha vida se tornara. E, mesmo quando ele ia embora, mesmo quando o silêncio da casa me envolvia, restava algo intocável: a certeza de que ele sempre voltaria.

Por mais doloroso que fosse, talvez a nossa dinâmica fosse exatamente isso: essa dança de chegadas e partidas, um ciclo constante de despedidas e reencontros. E, no fundo, era isso que tornava tudo tão intenso. Jimin sempre voltava. E quando voltava, era como se o mundo ao meu redor ganhasse vida novamente.

Foi com esses pensamentos que, naquela noite, eu tomei uma decisão. Se não podia tê-lo por completo, pelo menos por um fim de semana eu o teria só para mim. Com isso em mente, reservei três diárias em um apart-hotel de luxo em Londres e comprei duas passagens de primeira classe.

Eu sabia que Jimin não esperava por isso – ele provavelmente achava que minhas promessas eram apenas palavras soltas, sem real intenção. Mas eu estava determinado.

Mais cedo, com um tom casual, perguntei se ele tinha passaporte e se estaria livre no próximo fim de semana. Ele respondeu sem pensar muito, talvez acreditando que era apenas uma conversa despretensiosa ou porque estava muito concentrado fazendo aquele ensopado de carne para mim.

Mas, para minha sorte, ele tinha tudo que precisávamos para fazer isso acontecer: um passaporte à espera de seu primeiro carimbo, um fim de semana sem compromissos e, ainda por cima, uma conveniente folga na segunda-feira.

Desta vez, Jimin não teria desculpas. Eu o levaria para Londres. E, por três dias, ele seria completamente meu.

Enquanto organizava os itinerários da viagem, um misto de euforia e ansiedade me invadia, como se aquele plano fosse mais do que uma simples escapada a dois – era, na verdade, uma tentativa desesperada de preencher os vazios que a solidão havia deixado em mim. Planejar Londres era um esforço para me sentir completo, para escapar da sensação sufocante de que, quando estava sozinho, o silêncio ao meu redor apenas ecoava tudo o que me faltava.

Estar assim, só, tinha seus encantos e suas agruras. O sabor da liberdade, o poder de moldar o mundo à sua volta de acordo com sua vontade, a ausência de justificativas para suas escolhas – tudo isso fazia da solitude uma experiência libertadora, quase viciante.

Mas, claro, havia também o outro lado. A saudade, a carência, o vazio. Especialmente para quem estava acostumado ao ruído confortável das pessoas ao redor. E existia ainda aquela verdade inquietante: às vezes, você não é a melhor companhia para si mesmo.

Eu já sabia quem eu era, ou pelo menos achava que sabia. Um homem – um pouquinho maduro – meio sem-graça, meio legal, meio emocionado, meio pessimista, meio sensível... Tentava, é claro, parecer sólido, confiante, sério. Mas tudo em mim era um "meio". Nunca havia completude, nunca o suficiente. Era sempre essa sensação inquietante de estar fragmentado entre extremos. Entre a liberdade e a solidão, entre a tristeza e a felicidade.

Eu odiava ser um copo meio cheio.

Por isso, me dedicava a preencher esse recipiente incompleto, esse espaço que insistia em permanecer raso. Buscava sentido nas conexões humanas: Jimin, com seu fogo, suas trocas, sua intensidade. Buscava consolo na carreira, mesmo afastado, folheando livros de anatomia como quem tenta tocar algo perdido. E no equilíbrio emocional, eram terapia, remédios... e, hoje, vinho.

Aprendi, com o tempo, que estar sozinho não precisa ser sinônimo de vazio. Existe um alívio quase mágico em aprender a preencher o próprio copo.

Como agora. É uma da manhã. Estou em casa, cercado por silêncio e escolhas minhas. A música que gosto preenche o ambiente sutilmente, um vinho repousa na taça, e nas mãos, um livro da minha área que há tempos queria terminar.

Há algo profundamente transformador nesses momentos. Algo quase divino nessa quietude que, por um breve instante, completa tudo.

Fico no sofá por mais alguns minutos, o corpo afundado no estofado, enquanto termino o capítulo: Tecido Conjuntivo, Parte IV. As palavras me absorvem, mas não consigo evitar que minha mente vagueie entre as linhas, arrastando fragmentos de pensamentos sobre tudo o que tem acontecido.

Dou um gole no vinho tinto da taça ao meu lado, sentindo o calor seco invadir minha garganta. Coloco o cristal sobre a mesa de centro, com um cuidado quase ritualístico, e deixo o livro repousar ao lado, fechando-o como quem guarda um segredo.

Minhas mãos deslizam pelas coxas enquanto meus olhos passeiam pela sala. Tudo está em ordem – limpo, arrumado, calmo demais. Por alguns segundos, essa ordem me inquieta. Talvez porque ela só evidencie o vazio.

Respiro fundo e me levanto em busca de mais vinho, um motivo para quebrar a monotonia. No caminho até a cozinha, meus olhos se detêm em algo familiar: um pacote de seda esquecido na prateleira. Ao lado dele, meu estojo antistress, repousando como um convite mudo.

Pego os dois e sigo até a cozinha, onde apoio tudo na bancada. Da geladeira, tiro a garrafa de vinho, que já se esfriou, e agora é capaz de oferecer frescor. Volto para a sala com os itens em mãos, sentindo uma leve excitação no ritual que estou prestes a começar. Sirvo mais vinho na taça, dou um gole longo e me sento no tapete da sala, cruzando as pernas enquanto ajeito os objetos à minha frente.

O rock clássico que toca ao fundo – "This i love" do Gun's – preenche o silêncio com suas notas suaves e melódicas, acompanhando os gestos precisos dos meus dedos enquanto começo a bolar um baseado.

Cada movimento é quase meditativo – a seda aberta, o cheiro da erva, o cuidado em fechar tudo com perfeição. Dou a primeira tragada e, por um momento, tudo parece mais lento. A fumaça dança no ar, misturando-se ao aroma do vinho que ainda desliza pela minha boca.

Encosto as costas no sofá, deixando o corpo afundar ainda mais no tapete. A calma me atinge aos poucos, como se eu finalmente recebesse permissão para relaxar. A cada gole e a cada tragada, sinto a tensão evaporar. O peso dos dias recentes, da distância da sala de cirurgia e da realidade no tribunal, parece se dissipar, ainda que só por agora.

Quando o baseado chega ao fim e a taça está vazia, um cansaço bom se instala. A cabeça está leve, o corpo quente, e o sono começa a se insinuar como uma promessa. Levanto-me devagar, o olhar um pouco turvo, e sigo para o banheiro.

O chuveiro me recebe com água morna, lavando a fumaça e o dia que ficou para trás. Não há pressa nos movimentos, apenas o necessário para limpar o corpo e aliviar os resquícios da tensão. Enxugo-me rapidamente, a toalha sendo deixada de lado com pouco cuidado.

No quarto, as roupas vão se tornando algo dispensável conforme me aproximo dela.

A king size me espera como um refúgio, os lençóis impecáveis prometendo o descanso que meu corpo implora.

Ignoro qualquer ritual prudente que deveria preceder o sono: nada de pijama confortável, nada de pentear o cabelo ou hidratar a pele. Esses gestos, que em outros dias pareceriam necessários, hoje são descartados sem remorso.

Apenas me jogo na cama, sem hesitação, e o impacto é como um abraço. O frescor dos lençóis contra a pele nua envia um arrepio sutil, uma mistura de conforto e alívio. O quarto, mergulhado na penumbra, parece conspirar para me acolher. A escuridão é densa, mas reconfortante, um casulo que me envolve por completo.

Quando fecho os olhos, o sono não demora a me encontrar. Ele vem com força, como uma corrente que me arrasta sem resistência, desligando cada parte do meu corpo que ainda relutava em descansar.

Hoje, o mundo pode esperar. Tudo que preciso é desse momento de entrega. Amanhã... Amanhã eu lido com o resto.

⚕️

Quando me dou conta estou de volta naquele corredor abafado e sufocante, onde as paredes parecem absorver uma escuridão opressora, manchadas pelo cheiro acre de cigarro e álcool envelhecidos e baratos – uma combinação que só intensifica o enjoo. Reconheço o lugar de imediato, mesmo que uma parte de mim deseje estar enganado.

"Casa das Rosas."

Só o nome já me causa repulsa. Cada passo meu ecoa pesado, enquanto avanço pelo corredor, como se algo além de mim me empurrasse a seguir adiante. Não é só uma lembrança. É algo que meu próprio inconsciente escondeu nas profundezas, por algum motivo que só agora estou começando a desvendar.

Uma porta entreaberta revela um quarto pouco iluminado, e, ali dentro, sentado no chão, está ele. Um garotinho de cabelos castanhos claros, curvado sobre um pequeno patinho de pelúcia amarelo, brincando em silêncio.

A visão dele me atinge com uma familiaridade dolorosa. Meu coração acelera com a certeza de que já o vi antes. Eu o conheço, conheço cada detalhe daquela expressão concentrada, quase isolada de tudo ao redor, como se o mundo pudesse desmoronar ao seu redor sem que ele notasse. É ele.

Jimin? Jimin é você? — Eu chamo, mas ele não ouve.

Dou um passo para dentro do quarto, o peso esmagador das memórias inundando meus sentidos. Cada parte do ambiente está impregnada de horror: a cama desfeita com camisinhas usadas jogadas sobre ela, o tapete puído, os espelhos nos cantos que refletem fragmentos distorcidos da minha própria imagem.

Tento desviar o olhar, forçando-me a focar no menino, como uma âncora para escapar da asfixia que o ambiente me provoca. Ele balança a cabeça devagar, cantarolando uma melodia infantil que reconheço – uma canção que também faz parte das minhas lembranças mais antigas e inquietantes.

— Ei, amiguinho. Você tá me vendo aqui? — Minha voz sai trêmula, quase um sussurro, temerosa de quebrar o frágil véu de paz que ele parece ter construído ao redor de si.

O garotinho levanta o rosto, os olhos azuis arregalados de surpresa – mas não de medo. Pelo contrário, há algo em seu olhar que reconhece a minha presença. Um vínculo tão poderoso que me atinge em cheio, deixando-me sem ar.

Ele me reconhece, ele se lembra de mim.

E de algum modo, eu sinto que o conheço há uma vida inteira, como se ele fosse uma parte de mim que eu mantive comigo até os dias atuais. Uma sombra do meu próprio passado, escondida nos cantos mais escuros da mente.

— Você voltou? — Sua voz soa baixa, frágil, mas carrega uma inocência tão pura que o peso no meu peito se intensifica. Ele me encara com uma expectativa quase dolorosa, como se a resposta fosse uma promessa antiga entre nós, uma promessa que eu esqueci.

Engulo em seco, forçando as palavras a saírem.

— Sim... Eu... voltei. — Uma pontada de ansiedade atravessa meu peito. — Seu nome é Jimin, não é? — A pergunta escapa antes que eu possa controlar o tremor na minha voz.

Ele aperta o patinho com mais força, como se receasse dizer seu próprio nome, e me olha com uma intensidade que faz meu coração falhar uma batida. Ele inclina a cabeça levemente, parecendo pensativo e hesitante, como se a resposta carregasse um peso que ele nem deveria entender.

— Não, meu nome é Jihyuk... — O menino responde, com um tom suave e melancólico, como se aquela palavra fosse a única coisa preciosa que ele possuía. A única coisa que realmente importava.

Sinto um nó se formar no estômago.

Meus olhos se enchem de confusão. O nome soa tão errado e, ao mesmo tempo, tão familiar que a ideia me sufoca. O menino é Jihyuk, certo? Mas, em algum lugar profundo, eu ainda vejo o Jimin, o menino que eu supostamente conheci, o menino que talvez nunca tenha existido da maneira como eu o lembrava.

Uma sensação estranha se aloja em meu peito, como se estivesse em frente a uma porta trancada, mas eu não sou capaz de lembrar a chave. Tentei sorrir de forma suave, mas a estranheza e o desconforto são opressivos, como se o ar estivesse se tornando mais espesso a cada segundo.

Ele me observa com uma expressão séria, muito diferente da leveza de minutos atrás, como se já soubesse que eu não conseguiria lidar com o peso do que estava diante de mim.

Aquela familiaridade... Ou seria confusão? Algo está errado, mas a sensação de déjà vu me atinge de maneira desconcertante. Eu me sinto encurralado, com cada fragmento da minha memória sendo distorcido, cada pedaço da verdade se desmoronando diante de mim.

— Quer brincar comigo? — O pequeno enfim pergunta, sua voz voltando a soar como a de uma criança, segurando o patinho amarelo com as duas mãos. O mesmo patinho que eu sei que dei a ele um dia. Aquele brinquedo, tão gasto, parece ser um elo entre nós que transcende o tempo e a razão.

— Claro. — Minha voz falha enquanto me ajoelho ao lado dele, tentando ignorar a sensação de que algo horrível se esconde atrás de cada canto daquele quarto. Ele se aproxima mais, os olhos brilhando com uma inocência que me desmonta, que parece ao mesmo tempo tão familiar e tão distante.

Quando levanto a mão para acariciar seus cabelos castanhos, sinto um calafrio percorrer minha espinha. Uma sombra se projeta atrás de nós, crescendo como uma mancha escura. Uma presença que reconheço sem nem precisar olhar.

A voz de meu pai ecoa pelo quarto, fria e implacável, perfurando o silêncio com um tom de ameaça que se insinua no fundo da minha mente. Ela não é apenas uma lembrança; é uma verdade que me persegue.

— O que está acontecendo? — Minha voz sai rouca, sem som de comando, só medo. O medo visceral que eu pensei ter superado. A sensação de que estou sendo puxado para um lugar onde o tempo se dobra, onde nada é como deveria ser.

O quarto se torna sufocante, o ar denso, e Jihyuk recua, o pavor estampado em seu rosto pequeno. Ele não é mais uma criança inocente. Seus olhos se enchem de lágrimas, e ele parece pequeno demais para carregar o peso daquela expressão.

Ele se distancia como se tivesse sido arrastado para uma realidade que ele tentava desesperadamente esquecer.

O garoto sabe algo que eu não entendo. Ou talvez seja eu quem esteja preso a algo que não consigo entender.

— Papai, não faz isso! Eu tô com medo. Não machuca a mamãe, papai, por favor! Você tá fazendo dodói na mamãe! Para! — Ele clama e chora, e seu rosto começa a se distorcer, as feições se desintegrando como se estivesse sendo puxado para longe de mim, desvanecendo-se nas sombras.

O medo me consome com uma força inesperada, e a impotência se transforma em um buraco profundo em meu peito. Eu não posso deixar isso acontecer. Mas não sei o que fazer.

Tudo começa a desmoronar. Uma dor quente sobe pela minha garganta e escapa em um grito desesperado:

— Não vá! — Tento chamá-lo, mas a distância entre nós parece impossível de superar. Ele não me ouve. Ele não pode me ouvir. — Jimin! Ji-... Jihyuk! Volta aqui! Por favor! Não precisa ter medo! Eu tô aqui! Jimin!

A desesperança me invade. A tentativa de salvar o garoto, de impedir o que está acontecendo, de entender o que está acontecendo... tudo se desfaz.

O chão começa a tremer. O teto se distorce, as paredes se fecham sobre mim, e a escuridão toma conta de tudo. Eu corro, choro, grito, tento escapar, mas não saio do lugar. Cada passo me afasta da realidade.

A realidade que se fragmenta, desmorona ao meu redor.

A escuridão me engole, me consome, e eu não sei mais onde estou.

Não sei mais quem sou.

E, no fim, o único som que resta é o eco de minha própria respiração, sufocante, no vazio.

Tudo se apaga.

Um breu sufocante.

Acordo em um sobressalto, o quarto banhado pela luz pálida de uma manhã que mal começou. Meu peito sobe e desce rapidamente, minha pele está tomada por suor e meu rosto está banhado por lágrimas, tento me estabilizar, recuperar o fôlego, mas algo dentro de mim já sabe o que fazer.

Sinto como se meus pés e mãos se movessem por conta própria, seguindo um roteiro já traçado, algo que é quase instintivo demais para explicar.

Levanto da cama e caminho até minha escrivaninha, onde o notebook me espera como se já estivesse destinado a isso. Abro o navegador, e meus dedos digitam com uma rapidez quase desesperada.

"Casa das Rosas." As palavras surgem na tela, trazendo um silêncio pesado e perturbador, até que várias manchetes antigas me encaram. Rostos e nomes esquecidos, detalhes sórdidos, imagens com cenas dos crimes, cenas que eu conheço, de alguma forma, como se já as tivesse visto antes.

Depois que junto todas as informações necessárias, algo surge das sombras, algo que, de alguma forma, eu já esperava encontrar. Algo que se encaixa de maneira macabra no quebra-cabeça que se forma diante de mim: dois assassinatos. Duas tragédias que parecem unir tudo de forma sombria e irreversível.

A primeira, em 2006, Park Luna, a mãe de Jimin. A segunda, em 2016, Im Chaeyoung, provavelmente a segunda mulher que o criou como se fosse seu filho.

Algo me intriga na notícia sobre Chaeyoung. O assassino, um policial de 57 anos chamado Min Byungchan, morreu no local do crime a facadas. Porém, a arma do crime nunca foi encontrada. Isso levou os peritos criminais a questionarem se havia uma terceira pessoa na cena, mas nada foi encontrado. O inquérito foi arquivado sem nunca mais ser reaberto.

O que mais me incomoda é o relato de Jimin, descrevendo o assassino como comparsa de outro criminoso. O homem que assassinou sua mãe biológica em 2006 e que nunca teve a identidade confirmada pela polícia. O que me faz imaginar que eles faziam parte de uma quadrilha. Milicianos, provavelmente. Ambos policiais.

Minha mente dá voltas, a raiva fervendo dentro de mim enquanto vejo o rosto de um dos assassinos estampado nas notícias.

Esses monstros precisam pagar. Queimem no inferno, é o que merecem.

Chaeyoung, assassinada aos 30 anos, parecia a personificação de uma juventude eterna. Seu sorriso encantador, uma mulher de aparência jovem, que, em seus últimos dias, continuava a irradiar uma beleza peculiar. Luna, com 22, uma jovem angelical, sua aparência impressionante, e uma beleza inegável. Mas o que mais me choca, o que me prende à tela, é a semelhança de Jimin com elas. O formato do rosto, os traços, especialmente os lábios.

Era difícil não ver as semelhanças óbvias. A única diferença era a cor das íris e, claro, o gênero, mas a essência... a essência era a mesma.

Meu coração bate mais rápido, uma mistura de pavor e fascinação.

Luna e Chaeyoung... Seus nomes ressoam na minha mente, me puxando para lembranças que parecem fragmentadas e desconexas. Eu lembro de ter ido para a cama com ambas, mas minha mente bloqueia parte dessas trocas, como se fosse uma barreira que me impede de enxergar o que está claramente à frente.

Talvez seja melhor não pensar nisso. Não gosto de pensar nisso. Se Park descobrisse que eu já me relacionei com as mesmas mulheres que o criaram, tudo ficaria ainda mais insustentável.

Ele nunca mencionou os nomes delas, mas descreveu as mortes de forma tão vívida, como assassinatos, que a coincidência entre o que ele disse e o que vejo na tela é simplesmente perturbadora.

Agora, uma dúvida insuportável me corrói.

Se Jimin realmente é aquele menino que eu conheci no passado, por que minha mente o chama de Jihyuk? Por que esse nome insiste em se sobrepor ao que eu sei ser a verdade?

Quem é Jihyuk? Que tipo de projeção estranha é essa que se formou na minha mente? Quem ele realmente é? E quem é Jimin?

São tantas perguntas, todas sem resposta, mas uma coisa é certa: algo sombrio e vasto se esconde nesse passado. Algo que entrelaça minha vida com a de Jimin de uma maneira que eu nunca poderia imaginar. Algo que eu ainda não entendi, mas que sinto em cada fibra do meu ser.

O cursor na tela continua a piscar, uma lembrança constante de que a resposta está ao meu alcance, mas ainda não posso alcançá-la. A única certeza que tenho é que, em algum momento, vou descobrir a verdade. Mas a que custo?

A inquietação cresce dentro de mim, uma sensação de estar à beira de algo maior, algo que não posso controlar. Não consigo voltar para a cama. A sensação de desconforto é tão intensa que a própria cama parece ser um lugar hostil.

Levanto-me apressado, minha nudez agora desconfortável, como se precisasse me proteger de algo que ainda não entendo completamente. Pego as primeiras roupas que encontro, vestindo-me sem pensar, como se isso fosse alguma forma de me ancorar em uma rotina que parece me escapar.

Na cozinha, o aroma do café fresco invade o ar, um alívio sutil. Cada etapa do preparo parece um pequeno ritual, uma distração bem-vinda para minha mente inquieta. Mesmo assim, as lembranças ainda me perseguem, a visão do menino, os assassinatos, o nome Jihyuk.

Com a xícara nas mãos, finalmente olho para o celular. As mensagens de Park me aguardam, um pequeno consolo em meio ao caos. Ele está bem. Um alívio imediato se espalha por mim, uma onda quente que dissolve o gelo que se formou no meu peito. Mas esse alívio é efêmero, porque as perguntas continuam a ecoar.

Agora percebo que o sonho não era um presságio de algo terrível. Talvez tenha sido apenas o reflexo das nossas conversas recentes, das histórias sobre sua família, do peso que ele carrega. Tudo isso só reforça o quanto me importo – não apenas com ele, mas com tudo o que ele já enfrentou.

Mas preciso me lembrar: não sou uma ponte para o passado que ele tenta esquecer. Não posso ser o elo que o prende às suas dores antigas. Eu sou, e devo ser, a possibilidade de um futuro.

O recomeço. O lugar seguro.

Saber que ele está bem e em segurança é o suficiente para me acalmar. Na verdade, basta sua presença para dar sentido aos meus dias. Park Jimin, com todas as suas peculiaridades, é a maior fonte de luz na minha vida. Ultimamente, ele é responsável por 90% da minha serotonina e dopamina, como se cada sorriso ou mensagem sua fosse uma dose imediata de felicidade.

E então, finalmente abro o chat e vejo as mensagens dele. Não consigo evitar o riso que escapa. Ele é impossível – no melhor e mais desarmante sentido da palavra.

Jimô❤️‍🔥:

| bom dia, cachorro velho
| hj vai dar a boa na festa de gala, hein
| mt pinga e puta do jeito q a gnt gosta🥴
| zoeira, sou um rapaz prendado, n faço essas coisas🤓
| já escolhi meu look e tô super ansioso pra ver sua reação
| spoiler: essa roupa me deixou mt sexy
| vc vai, né??? queria mt te ver lá🥺

Soltei um riso abafado, daqueles que escapam antes que você perceba. Ele sabia exatamente como provocar. E eu sabia que, ao responder, estaria entrando no jogo – o que era, na verdade, a melhor parte.

Você:

Bom dia, consolo. |
Sei bem o rapaz prendado que você é... 👀 |
E vou pensar bem no seu caso. |

Mal mandei a mensagem e já me peguei rindo de novo, imaginando a careta que ele provavelmente faria ao ler aquilo. Mas foi só quando terminei de digitar que percebi outra coisa. Uma "presença" inconveniente e – vamos ser honestos – bem difícil de ignorar, logo ali embaixo.

Suspirei, sentindo o leve pulsar da rigidez matinal que tinha aquele poder inexplicável de me irritar diariamente. E claro que pensar naquele garoto só piorava tudo.

A lembrança do sorriso irritantemente lindo de Jimin, da forma como ele provocava sem esforço, de como ele me fazia querer jogá-lo na cama em um momento e rir com ele no outro... Bem, meu corpo tinha sua própria maneira de reagir a isso, e ela não era discreta.

Jimô❤️‍🔥:

| consolo? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk é isso q eu sou pra vc?? 🤡
| jae, pode chamar assim, pq vc tb é um ótimo consolo nas horas q eu preciso 👍
| e vc n vai pensar no meu caso, n tem essa n
| vc vai e ponto.
| eu mando em vc, esqueceu? vc já assinou o termo pra ser meu cachorrinho
| não tá vendo a coleira e o rabinho abanando?

Eu hesitei por um momento, mas, é claro, o lado provocador acabou vencendo. Já que ele queria brincar, por que não entrar na dança? Precisava mostrar que sabia como diverti-lo de verdade. Com uma risada baixa, decidi ir além da simples resposta.

Você:

Infelizmente não vai dar... |
Tá muito inchado. |
Eu não posso sair desse jeito.😞 |

Sabia que ele não ia deixar barato. Mas isso fazia parte da diversão... a isca tinha sido lançada, bastava ele fisgá-la. E, como esperado, a resposta não demorou:

Jimô❤️‍🔥:

| oq tá inchado? o galo q tu fez na sua cabeça qnd desmaiou ontem?
| se for isso só te digo uma coisa: independente, irmão. tu vai do msm jeito.

Não consegui segurar uma gargalhada alta. Ele era mesmo insuportável. Mas eu podia ser pior.

Você:

Não... não é isso. Outra coisa tá inchada.|

Jimô❤️‍🔥:

| oq tá inchado? fala logo mlk

Você:

Meu pau. |
Toda vez que eu penso em você,
ele fica duro.😣|
Não sei mais o que faço pra controlar isso.😭 |

A reação dele foi exatamente o que eu esperava – e exatamente o que queria.

Jimô❤️‍🔥:

| KKKKKKKKKKKKKKKKK
| MOLEQUE, EU VOU TE BLOQUEAR
| eu aqui na sala de aula e vc me mandando essas putarias logo cedoKKKKKKK
| tu n presta, só finge q presta
| mas eu gosto
| tive até flashbacks slk 🫦
| também com esse piru grosso
| também com esse pau gostoso
| 🛐🛐🛐🛐

Soltei outra risada. Era engraçado como ele conseguia ser puritano e descarado ao mesmo tempo. Mas era isso que me fazia gostar ainda mais dele.

Você:

Foi mal, loirinho, vou tentar me controlar na próxima vez, juro. kkkkkkkkkkkk |
Queria que você estivesse aqui comigo. |
Pra matar a saudade. |

Jimô❤️‍🔥:

| já tá com saudade?
| da minha foda, né? Só se for🙄

Você:

Da sua foda e de você também.😞 |

Jimô❤️‍🔥:

| hj a noite vc mata a saudade das duas coisas
| se for inteligente vai aparecer por lá
| pensa bem nisso!!!

Você:

Tô vendo que não tenho escolha... |

Jimô❤️‍🔥:

| não mesmo🥰
| *figurinha de emoji baixa qualidade com laço na cabeça*

Era sempre assim. Ele ganhava, e eu deixava. Não porque fosse fácil ceder, mas porque, de algum jeito, ele fazia tudo parecer mais leve. O jeito como bagunçava minha cabeça – e, com frequência, meu corpo – tornava impossível dizer "não". Com ele, tudo parecia mais vivo.

Mas, no fundo, talvez fosse justamente essa leveza que mais me inquietava. Porque, por trás de cada provocação, de cada figurinha boba que ele mandava, havia algo mais profundo. O desejo de tê-lo de forma mais real.

Eu não queria só os cliques na tela, o som do celular vibrando, ou os "bom dias" traduzidos em pixels. Eu queria acordar com ele ao meu lado todos os dias. Sentir o cheiro do seu shampoo na fronha do travesseiro que ele usou, roubar um beijo enquanto ele resmungava de sono, e, quem sabe, ouvir sua risada ao reclamar que o café estava forte demais.

Essa perspectiva me mantinha de pé, porque sabia que precisava fazer isso acontecer, um dia.

Depois de mandá-lo prestar atenção na aula, com um tom autoritário e responsável, recebi uma foto dele com seu grupo de amigos, todos uniformizados, reunidos para me dar o dedo do meio. E, como se isso não fosse suficiente, a legenda foi ainda mais descarada: "vou te bloquear se você me expulsar de novo, seu velhote chato".

Revirei os olhos, rindo do seu drama, e mandei uma foto minha, dando o dedo do meio de volta, chamando-o de "pirralho insuportável". Jimin riu, óbvio, era exatamente isso que ele queria. Afinal, sua forma de amor se resumia a esses pequenos atos de perturbação... ele adorava provocar e ser provocado.

Depois de mais algumas trocas de mensagens ele avisou que o professor havia chegado e eu lhe desejei bons estudos, finalizando nossa conversa antes de começar meu dia com uma energia que há tempos não sentia.

Me levantei da mesa da copa, mais animado do que o habitual para a hora da manhã. Era quase estranho, mas o cotidiano parecia menos pesado. Minhas tarefas, que antes eram árduas e cansativas, agora tinham toques de leveza que me arrancavam sorrisos desprevenidos.

Ainda assim, minha realidade continuava em pausa. O centro cirúrgico, que sempre foi minha verdadeira razão de viver, estava temporariamente fora do meu alcance.

Não era como eu imaginava que seria, mas encontrar o bom humor de Jimin logo cedo, com ele levando sua própria rotina e, de certa forma, me incluindo nela... seguido pelo amor puro e incondicional que vinha sobre quatro patas, parecia preencher, ao menos em parte, a insatisfação que se alojava em mim, tanto no campo profissional quanto pessoal.

Era preguiçoso admitir isso, mas nunca me senti tão descansado, tão relaxado antes. Desde os dias insanos do vestibular, quando passei em primeiro lugar na Federal de Seul, até o ápice da minha carreira como cirurgião, parecia que não havia sobrado espaço para respirar. Mas agora, havia uma pausa – ainda que forçada. E, ironicamente, ela parecia bem-vinda.

Bem, até certo ponto. Porque agora eu tinha outras preocupações... e uma delas, a atual, parecia, no mínimo, ridícula:

Roupas.

Sim, eu estava preso àquele clichê básico do homem apaixonado, que fica parado diante do armário, imaginando o que vestir para impressionar alguém. Só que não era qualquer alguém. Era Park Jimin.

Para um evento de gala, eu sabia que não podia aparecer de qualquer jeito. Um corte de cabelo era o mínimo – meu cabelo já estava no comprimento perfeito para uma mini maria-chiquinha, e só isso já me dava um leve incômodo. Sempre o mantive curto, e a ideia de cortar aquela cabeleira só para me apresentar melhor para ele parecia extremamente necessária agora.

As roupas? Aquilo era um dilema. Smoking? Clássico, mas previsível. Terno cinza? Interessante, mas faltava impacto. Azul? Ainda básico demais.

O problema não era a falta de opções, mas o peso da comparação. Eu queria me destacar. Talvez um acessório fizesse a diferença: uma gravata diferenciada? Um lenço de bolso estiloso? Ou quem sabe um broche?

Suspirei diante do espelho, analisando o sexto conjunto que peguei do guarda-roupa. A verdade era que eu precisava renovar tudo. Não porque minhas roupas eram ruins, mas porque ele merecia o esforço. Park Jimin era uma tempestade perfeita de elegância, estilo, confiança e carisma, e eu só queria que, ao me ver, ele parasse por um instante e pensasse: "ele tá lindo".

Era isso. Eu queria estar bem por ele. Para ele. Apenas.

E se estar bem significava gastar dinheiro, que assim fosse. Sem arrependimentos. Com essa decisão tomada, me levantei, já traçando meu plano para o dia.

Missão principal: impressionar Park Jimin.

Missão secundária: renovar meu guarda-roupa e cortar o cabelo.

Eu só precisava garantir que, quando nossos olhos se encontrassem naquela noite, tudo no meu visual dissesse a mesma coisa que meu coração já sabia: eu sou dele, e eu quero ser digno disso.

Depois de arrumar minhas malas para a viagem de amanhã e garantir que Bam estaria bem durante minha ausência, me vi dirigindo pelas ruas até um lugar que, por anos, foi quase uma segunda casa para mim: o shopping de Gangnam. Um centro de luxo pulsante, famoso por ter a maior concentração de dinheiro por metro quadrado na cidade.

Sohee adorava vir aqui fazer compras, e, de algum jeito, eu sempre acabava sendo arrastado junto. Não que minha função fosse apenas aprovar os looks que ela experimentava ou carregar suas sacolas. Na verdade, meu papel era bem mais custoso: financiar suas escolhas. Por mais que sua conta bancária fosse mais recheada do que a minha, era o meu cartão que frequentemente sofria os impactos de suas extravagâncias.

Lembro-me de um dia específico em que ela conseguiu arrancar de mim o equivalente ao valor de um carro de luxo. Tudo isso em meia dúzia de joias e roupas que, para ela, eram apenas itens indispensáveis de mais uma tarde comum de compras.

Hoje, olhando para trás, é impossível não perceber o quão fútil ela sempre foi. Tenho até uma teoria: talvez ela sofra de oniomania, a compulsão por compras. É um termo técnico que descobri em um artigo, mas que resume bem o que era evidente na sua relação com o consumo – e, de certa forma, comigo.

Enquanto caminhava por esse lugar novamente, notei como até o chão parecia transpirar riqueza. O brilho impecável do mármore refletia as luzes das vitrinas como um espelho sofisticado, e o som dos meus sapatos contra a superfície lustrosa tinha um ritmo quase hipnotizante.

O burburinho ao meu redor era constante, mas abafado, como um pano de fundo composto por vozes elegantes. Conversas que, imagino, eram tão sofisticadas quanto as pessoas que as carregavam. Cada detalhe aqui exalava luxo, como se até o ar tivesse um preço alto demais para ser respirado.

Enquanto meus olhos varriam as lojas, um pensamento inevitável me atingiu: como seria trazer Park para um passeio como esse? Era quase inevitável imaginar nós dois flanando por ali, terminando a noite com um cinema e um jantar romântico.

Básico, até clichê, eu sei. Mas todo casal merece um momento assim, quase como um rito de passagem antes de avançar para algo mais ousado.

Como, por exemplo, uma viagem para Londres.

Jesus. Como vou contar para ele que já comprei as passagens e reservei o hotel? A simples ideia de sua reação me fazia alternar entre risadas nervosas e apreensão genuína. Ele vai gostar dessa surpresa ou vai querer me matar? Bom, de um jeito ou de outro, Jimin vai comigo para a Inglaterra, nem que eu tenha que arrastá-lo junto com as malas.

Sorri sozinho, pela milésima vez naquele dia. Era sempre assim: bastava pensar nele para que tudo ao meu redor ficasse mais positivo. A memória de sua risada ou o jeito irreverente que ele tem de transformar o mundano em algo extraordinário era suficiente para moldar meu humor.

Entretanto, o nervosismo crescia enquanto eu avançava pelos corredores. Estava ali procurando algo – o lugar certo, o estilo certo. E então, lá estava ela, aquela marca de luxo que eu adorava: Ralph Lauren. O tipo de lugar que fazia você se questionar se precisava mesmo gastar tanto dinheiro em roupa. Mas, bem... hoje não era sobre necessidade. Era sobre impacto. Era sobre fazer Park Jimin perder o rumo.

Uma atendente jovem apareceu rápido, com o sorriso no rosto tão ensaiado quanto impecável.

— Bom dia, senhor. Procurando algo?

— Bom dia... Eu preciso de um terno slim especial, único, — Comecei, meticuloso, enquanto examinava o ambiente e os trajes nos manequins. — Algo inovador... mas que não fuja do clássico e elegante.

Ela arqueou uma sobrancelha, como se tivesse entendido imediatamente e me analisou da cabeça aos pés, provavelmente imaginando o que cairia bem em mim.

— Eu sei exatamente do que o senhor precisa...

Ela me levou a uma arara mais reservada, e foi lá que o vi. O terno preto com detalhes de seda reluzente, acompanhado de um colete que me fez engolir em seco. O corset embutido, os fechos de prata. Era elegante, provocante e, ao mesmo tempo, carregava uma ousadia discreta.

O tipo de peça que parecia sussurrar no ouvido de quem olhasse: "Você nunca vai esquecer isso".

— Uau... esse aqui... — Comecei, sem conseguir concluir a frase, os dedos tocando suavemente o tecido de alta qualidade.

Foi imediato: eu já sabia que era aquele.

— Esse é... especial. Feito com lã de merino australiana e traz também seda brasileira... São os melhores fios fabricados. — Disse ela, com um sorriso satisfeito.

No provador, deslizar a camisa social pelo corpo foi quase terapêutico. Ajustei os botões, um por um, com uma calma reverente. O corset do colete apertou minha cintura na medida certa, sem tirar o conforto, mas realçando tudo, a silhueta curvilínea que sempre ficava escondida sob roupas largas agora dava as caras. Ao vestir o blazer por cima e me encarar no espelho, sorri de lado.

Park Jimin, você não tem ideia do que te espera hoje.

Saí do provador e, antes mesmo de me olhar no espelho novamente, o sorriso amplo da atendente foi a confirmação de que minha escolha estava perfeita.

— Sem dúvidas é esse. — Ela disse com entusiasmo, como se estivesse presenciando um momento digno de uma passarela.

Eu já sabia. Era impossível não saber. A costura e o corte impecável do tecido, o caimento perfeito e a maneira como cada detalhe parecia ter sido feito sob medida para mim deixavam claro que era a escolha certa.

Fui direto ao caixa, indiferente à quantidade de dígitos que apareciam na máquina. Enquanto deslizava o cartão black com a naturalidade de quem estava acostumado a certos luxos, uma única certeza passava pela minha mente: hoje, eu não passaria despercebido.

Com a sacola cuidadosamente pendurada nos dedos e a confiança restaurada, caminhei decidido rumo ao estacionamento do shopping.

Já tinha estabelecido a próxima parada: barbearia. Não bastava apenas o traje impecável; meu cabelo precisava estar à altura. Um evento de gala não perdoava deslizes, e eu não era do tipo que se contentava com menos que a perfeição.

E, claro, não era qualquer barbearia. Eu já sabia exatamente onde ir.

O sino na porta soou com uma familiaridade reconfortante assim que entrei. O ambiente exalava aquele aroma característico de lavanda misturado com loção pós-barba, algo que sempre me fazia lembrar dos anos em que era apenas um universitário cheio de sonhos e energia, aquele rapaz que, mesmo frequentemente empenhado em buscar conhecimento, também gostava de manter a aparência nos trinques.

Era aqui que eu sempre passava a tarde, quinzenalmente, conversando e renovando o visual.

Atrás da bancada, Senhor Joo virou a cabeça na minha direção. Cabelos grisalhos, olhar afiado, e a habilidade inquestionável de transformar qualquer aparência cansada em algo digno de admiração. Ele me conheceu no meu primeiro ano na universidade – um detalhe que ele nunca deixava de mencionar para reforçar nosso vínculo.

— Ora, ora, se não é o Doutor Jungkook! — Ele largou uma caneta que usava para anotar algo e cruzou os braços, aquele sorriso de canto marcando presença. — Achei que tivesse esquecido deste velho aqui. Ou pior, que tinha me trocado por algum novato qualquer.

— Nunca, senhor Joo. — Respondi, aproximando-me da cadeira de couro impecavelmente limpa. — Voltei porque minha situação tá crítica. Preciso de um milagre.

A gargalhada dele encheu o ambiente, calorosa e paternal, com aquele tom típico de quem julgava sem malícia.

— "Crítica" é pouco, meu jovem. Senta aí, vamos dar um jeito nessa cabeleira. Deixa eu adivinhar: tem algum evento importante hoje?

— Talvez. — Dei de ombros, mas não consegui segurar o sorriso que escapava.

— "Talvez"? Tá na cara, garoto. Quando foi a última vez que te vi com uma expressão tão ansiosa assim?

Não respondi, apenas ri enquanto me aninhava na cadeira. Era engraçado como ele conseguia me decifrar com tão pouco, mesmo depois de anos.

Enquanto ele preparava a tesoura e o pente e molhava meus fios, a conversa fluiu com aquela leveza peculiar. Ele reclamou do time de futebol que acumulava derrotas, perguntou se eu já tinha voltado ao trabalho e, inevitavelmente, tentou arrancar detalhes da minha vida pessoal e amorosa. Quando perguntou do meu casamento, eu respondi sem rodeios:

— Já tô em outra, senhor Joo. Aquela mulher era problema... — Comentei, minha voz tentando soar casual, embora ainda houvesse algo em mim que resistia em tocar nesse assunto.

Ele assentiu, como se já esperasse aquela resposta. Com três casamentos no currículo, Senhor Joo era um especialista em reconhecer sinais de relacionamentos fracassados. Apesar disso, nunca faltava honestidade em suas palavras.

— Você tá certo, garoto. Antes só do que mal acompanhado. — Ele disse, apontando a tesoura para o espelho, enquanto me encarava pelo reflexo. — Mas tá na cara que já tem outra nessa história... Tá ficando bonito pra ela, não tá?

Era "ele", não "ela". Pensei em corrigir, mas hesitei. Ele vinha de uma geração com visões bem diferentes da atual, e eu não estava disposto a transformar o momento leve em uma discussão complicada.

— Quem sabe? — Murmurei, permitindo que ele continuasse com seus próprios pressupostos.

A tesoura deslizava pelas madeixas com a precisão de um artista, e, a cada corte, eu sentia como se estivesse deixando para trás não apenas as pontas desgastadas, mas também uma parte de mim que não fazia mais sentido.

Quando ele terminou, virei-me para o espelho. As laterais estavam limpas, bem definidas, enquanto o topo tinha o volume exato para passar aquela aparência de charme despretensioso. Algumas mechas caíam na testa de um jeito que parecia natural, mas que exigia habilidade para ser executado. Era exatamente o que eu queria.

— Agora sim. — Ele disse, dando leves tapinhas no meu ombro enquanto tirava os fios de cabelo da capa. — Se essa mulher não se apaixonar hoje, tá cega.

— Valeu, senhor Joo. Não sei o que faria sem você. — Proferi, agradecido.

— Não esquece de voltar aqui pra me contar como foi, hein! E se a notícia for boa eu até te dou um desconto no próximo corte.

Trocamos mais algumas palavras antes de eu pagar e, quando saí do salão, estava me sentindo... diferente. Não só na aparência, mas também por dentro. Era impressionante como algo aparentemente simples, como um corte de cabelo ou um terno novo, podia mudar a forma como você via o mundo – ou como achava que o mundo te via.

Agora, eu estava pronto. Pronto para o evento, pronto para impressionar. E, acima de tudo, pronto para Park Jimin.

O caminho de volta para casa foi tranquilo. As ruas estavam surpreendentemente vazias para aquele horário, o que tornou a tarefa de dirigir quase relaxante. Assim que estacionei e entrei no apartamento, fui recebido por Bam, que descansava no sofá, mas logo correu até mim, farejando-me como sempre fazia.

— Oi, filhão. Papai chegou. Vamos passear agora?

Ao ouvir a palavra mágica "passear", Bam reagiu com os pulos entusiasmados e latidos animados de sempre, como se já estivesse respondendo à pergunta.

— Calma aí! Deixa o pai guardar as coisas e tomar uma água. Vai buscar sua coleira pra mim.

Deixei a sacola da Ralph Lauren sobre a cama e fui até a cozinha, onde enchi um copo de água. Antes mesmo de dar o primeiro gole, Bam já estava de volta, com a coleira na boca, entregando-a com um latido impaciente, como se estivesse me apressando.

Depois de colocar o copo vazio na pia, peguei tudo o que precisaríamos para o passeio: uma garrafa de água, um recipiente portátil para ele se hidratar, sacolas plásticas para as fezes, petiscos para o adestramento, uma bola de tênis e, claro, muita disposição.

O passeio foi breve, mas divertido. Corremos pelo parque, fizemos arremessos longos com a bola e, a cada momento, havia uma troca genuína de energia e alegria. Para Bam, não havia exercício melhor; para mim, sempre um prazer renovado.

De volta ao apartamento, Bam logo se acomodou para uma soneca profunda, desabando de cansaço. Apesar de precisar de um banho, decidi deixá-lo descansar. Aproveitei o momento de tranquilidade para organizar a casa, preparar algo para comer, tomar uma ducha rápida, ir ao supermercado e, em seguida, passar na agência bancária para devolver a quantia que meus amigos haviam me enviado.

Quando finalmente retornei, o relógio já marcava 18h. Se eu quisesse chegar ao evento pontualmente e com a aparência impecável que a ocasião exigia, precisava me apressar.

Antes do banho, fiz questão de realizar todas as minhas necessidades básicas, me preparando para uma verdadeira produção e higiene completas.

Entre as etapas de autocuidado, incluí algo que considero importante, embora raramente discutido: a lavagem retal, ou "chuca" para os familiarizados. Era um cuidado que eu mantinha para garantir que tudo estivesse em ordem e limpo, especialmente porque sabia que Jimin, assim como eu, valorizava essa atenção nos momentos íntimos. Nunca tivemos qualquer incidente ou desconforto, mas naquela noite eu queria estar impecável para recebê-lo, caso ele desejasse.

Depois de concluir o processo, usei meu creme depilatório habitual para manter a pele lisa e livre de pelos. Em seguida, tomei um banho caprichado, prestando atenção a cada detalhe, garantindo que estaria impecavelmente limpo e cheiroso.

Saindo do box, dediquei-me aos cuidados finais: escovei os dentes, apliquei meus produtos favoritos na pele e no cabelo e fui até o quarto, onde a roupa que havia separado me esperava, passada e impecável.

Antes de vestir cada peça diante do espelho do closet, apliquei, sem pressa, meu desodorante e uma loção hidratante de aroma discreto, mas marcante, na pele. Ajeitei o cabelo conforme a sugestão do senhor Joo, aplicando uma pomada modeladora para criar um topete despojado com uma divisão lateral. Deixei alguns fios caírem estrategicamente sobre a testa, conferindo um toque de sofisticação casual.

Para completar, passei meu perfume árabe favorito em pontos estratégicos, cuidando para que a fragrância se destacasse sem exageros. No pulso, coloquei meu Rolex 1908. O acabamento em couro e ouro branco era impecável e reservado para ocasiões importantes como aquela.

Nos pés, um clássico da Saint Laurent: sapatos de couro italiano envernizado que harmonizavam perfeitamente com o restante do look. Ao me olhar no espelho uma última vez, não tive dúvidas: estava perfeito para aquela noite.

Terminei de me preparar às 19h. O evento começaria às 19h30 e estava programado para terminar à meia-noite. Felizmente, o local ficava a cerca de 15 quilômetros de casa, o que significava uma viagem de apenas 12 minutos – uma vantagem, considerando o cuidado que tive em cada detalhe para estar à altura daquela noite. Pontualidade também era algo que importava para mim.

Antes de sair, preparei tudo para o Bam. Garanti que ele tivesse comida e água fresca, além de um espaço limpo e confortável para as horas que ficaria sozinho. Com tudo em ordem, apliquei mais uma camada do meu perfume favorito, conferi no GPS a melhor rota para evitar qualquer contratempo e, após verificar meus pertences pela última vez, fechei o apartamento e ativei o alarme de segurança.

No estacionamento, acomodei-me no banco do motorista do Maybach SL680, sentindo a familiaridade do couro macio e o ronco prazeroso do motor ao ligar. Segui pelo trajeto respeitando os limites de velocidade, o rádio tocando ao fundo, e, em pouco tempo, cheguei ao destino.

O lugar era impressionante: um sítio imenso, com mais de 2.000 metros quadrados de área bem cuidada. Grandes casarões funcionavam como salões de festas, decorados de forma luxuosa.

Ao chegar na entrada principal, mostrei meu convite a um dos recepcionistas, que acionou um manobrista para mim, um homem alto e sisudo, que anotou todos os dados necessários com eficiência num app de monitoramento antes de assumir o volante para estacionar o veículo.

Parei por um instante para ajustar o blazer e observar o ambiente. A movimentação era intensa. Funcionários do hospital transitavam pelo espaço, todos trajando roupas elegantes e carregando a postura que a ocasião exigia. As mulheres, em especial, estavam deslumbrantes, com vestidos que destacavam suas belezas singulares e maquiagens meticulosamente trabalhadas.

Os homens também demonstravam capricho, cada um à sua maneira, mas, entre tantas figuras bem vestidas, ninguém superava Park Jimin. Era um talento quase injusto o que ele possuía; mesmo usando algo simples, como um moletom qualquer, ainda chamaria atenção.

Ele tinha uma beleza natural que ofuscava qualquer um. E naquela noite, eu ansiava por ver sua presença ilustre.

No salão principal, reconheci alguns rostos familiares. As mesas redondas estavam dispostas de forma simétrica, cobertas com toalhas brancas e azuis-marinho, e talheres e pratos com detalhes em ouro. A decoração floral, exuberante sem ser exagerada, enchia o ambiente com um toque de requinte, enquanto uma luz quente realçava a sofisticação dos detalhes.

As mesas mais centrais, destinadas aos convidados mais importantes, eram ocupadas por figuras de renome, cujas conversas e risadas ecoavam suavemente pelo salão. O som de uma música instrumental ao vivo, executada por uma pequena banda posicionada em um palco estratégico, completava a atmosfera refinada.

Não havia falhas na organização. Os seguranças, posicionados de maneira discreta, mantinham o ambiente seguro. Garçons transitavam com bandejas carregadas, atentos a qualquer pedido, enquanto a equipe de limpeza e os cerimonialistas garantiam que tudo funcionasse como um relógio.

Fotógrafos e filmmakers passavam com equipamentos robustos, registrando o evento e as pessoas. Tudo minuciosamente planejado. Até o perfume sutil no ar, com notas florais e frutadas leves, parecia ter sido pensado para criar uma experiência perfeita.

Eu estava impressionado com tudo ao meu redor, mas mantinha a postura centrada de sempre. Ainda assim, era impossível ignorar o encanto do lugar, uma sensação de que aquela noite prometia mais do que apenas a formalidade de uma festa.

Enquanto caminhava pelo ambiente, observando a movimentação, um garçom aproximou-se, equilibrando uma bandeja repleta de taças de champanhe. Aceitei uma com um breve aceno e levei o cristal aos lábios.

O líquido gelado e espumante escorregou pela garganta, fresco, mas com um leve toque cítrico. Apesar da tentação de continuar bebendo, lembrei a mim mesmo que precisava impor limites naquela noite. Gostava da sensação de estar no controle das minhas próprias ações, e voltar para casa sóbrio era uma prioridade, especialmente sabendo que ainda dirigiria naquela noite.

Peguei meu celular do bolso, pensando em mandar uma mensagem para Park, algo casual, avisando que havia chegado ou perguntando se ele já estava na festa. O nome "Jimô" estava no topo da minha lista de contatos, mas antes que pudesse digitar algo, uma voz familiar ecoou atrás de mim, descontraída e melodiosa.

Kookie! Você veio!

A voz inconfundível fez com que eu me virasse imediatamente, e lá estava ele. Kim Taehyung, irradiando aquela presença encantadora e cativante que parecia transformar qualquer ambiente em um palco. Mas havia algo diferente nele naquela noite, uma espécie de brilho que tornava impossível desviar os olhos.

Taehyung estava deslumbrante. Seu conjunto azul-escuro era impecável, com o terno de corte perfeito abraçando sua silhueta esguia. O colete ajustado destacava sua postura impecável, enquanto a calça sob medida fluía com naturalidade a cada passo.

A gravata, adornada com listras diagonais em tons dourados, brancos e terrosos, era um toque ousado que só ele sabia usar com tanta elegância. O contraste com sua pele quente era hipnotizante, e os cabelos, penteados para trás de forma despojada, davam o acabamento final a uma imagem que só podia ser descrita como imponente.

Taetae! — Chamei, e um sorriso se formou no meu rosto antes mesmo que eu percebesse. — Você está incrível!

Ele abriu um sorriso satisfeito e girou sobre os calcanhares, como se pedisse que eu admirasse cada detalhe de seu visual. A pose terminou com ele inclinando a cabeça de um jeito divertido e teatral.

— E você não fica para trás, coelhinho. — O rapaz se aproximou, passando as mãos pelos meus ombros antes de me contornar em um abraço delicado. — Parece um modelo, todo estiloso e elegante... E muito cheiroso também.

Contornei sua cintura, retribuindo o abraço com carinho e rindo baixo quando ele inalou suavemente a fragrância no meu pescoço. Assim que nos afastamos, coloquei as mãos nos bolsos e ergui os ombros num gesto modesto, respondendo seus elogios:

— É você que está roubando a cena, Taetae... Tá parecendo um galã de novela. Vai conquistar o coração de todos por onde passar. — Brinquei, oferecendo-lhe meu melhor sorriso..

— Era a ideia, claro. — Ele riu, piscando para mim, a confiança flutuando leve no tom da voz. — Mas Tae veio aqui por outro motivo. Queria ter certeza de que te encontraria. Já estava com saudades do meu melhor amigo.

O sorriso brincalhão que ele usava deu lugar a algo mais suave, mais sincero. Seus olhos cor de mel pousaram sobre mim com aquela intensidade atenta que só Taehyung tinha. Ele não fazia perguntas diretas; lia nas entrelinhas, captava o que o silêncio carregava.

— Queria saber como você está depois de tudo o que aconteceu ontem.

A preocupação na voz dele era palpável, mas sem pesar.

— Estou bem, Taetae, obrigado por se preocupar. — Respondi com honestidade, deixando que a sinceridade transparecesse.

Ele me avaliou por um instante e, então, um sorriso se abriu lentamente em seu rosto.

— Parece mesmo. — Sua voz era quase um murmúrio, mas havia um alívio evidente nela. — Sabe, tem algo diferente hoje. É como se Kookie estivesse... mais feliz. Fazia tempo que Taehyung não via isso nos seus olhos.

As palavras dele me atingiram de um jeito inesperado, e, por um momento, uma emoção se reuniu em meu peito. Era raro alguém perceber essas mudanças sutis em mim e, mais raro ainda, comentá-las com tanta clareza. Suspirei, buscando as palavras certas para responder tamanho apreço.

— Talvez seja porque eu realmente estou começando a me sentir assim... Não sei explicar, mas acho que as coisas estão voltando ao eixo, aos poucos. — Expressei com cautela, sendo sincero sobre meus sentimentos.

O sorriso que se formou em meus lábios foi genuíno, e isso parecia bastar para ele.

— Taehyung fica muito aliviado... Kookie hyung merece ser feliz.

Havia algo no tom dele, um calor reconfortante que tornava a ideia de felicidade menos inalcançável, quase palpável.

Seu semblante emanava tranquilidade, e um pequeno sorriso apareceu enquanto ele passava as mãos distraidamente pelos cabelos. Ao notar alguém conhecido passando, acenou brevemente – um gesto casual, mas carregado de carisma. Então, de repente, Taehyung se virou para mim, as mãos pousando suavemente nas laterais dos meus braços, sua expressão agora mais séria.

— E... Hyung, por favor... Eu não ficaria bravo se você não devolvesse aquele dinheiro. Só queria ajudar.

Dei um leve aceno de cabeça, uma curva discreta surgindo no canto dos meus lábios.

— Eu sei. Mas eu precisava fazer isso, Tae. Não conseguiria ficar tranquilo sabendo que devia algo a você, mesmo sabendo que você não se importa.

Ele suspirou, mas não insistiu.

— Você sempre foi assim, né? Certinho até demais. Mas tudo bem. Hoje a gente só aproveita, combinado? Sem dívidas, sem preocupações. Tae gosta de ver Kookie assim.

Ri do tom levemente sério que ele usava, quase como uma ordem, e assenti.

— Obrigado por ser tão bom pra mim...

Ele sorriu de novo, mas dessa vez foi um sorriso mais contido, carregado de algo que parecia ser orgulho.

Amigos são pra isso. Agora vamos aproveitar a festa. Prometa que vai se divertir pelo menos um pouquinho.

— Prometo.

E com isso, ele me puxou pelo braço, conduzindo-me de volta ao salão. Era impressionante como, com Taehyung ao meu lado, o ambiente se tornava mais leve, mais agradável. Talvez ele estivesse certo. Havia algo diferente em mim naquela noite. Algo que começava a parecer um vislumbre de paz.

E eu sabia exatamente quem era o responsável pela tranquilidade que agora me envolvia.

A pessoa que eu ansiosamente queria encontrar.

Ele.

Meu garoto.

Park doce Jimin.

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