E foi aqui que tudo começou...
O bar de Jean está lotado, mas eu não noto ninguém. Não quero notar. Estou no canto do balcão, meu terceiro — ou quarto? — copo de uísque vazio à minha frente, encarando um ponto qualquer no nada. A voz de Matteo ainda ecoa na minha cabeça, repetindo a sentença que arruinou o meu dia.
"Você vai ter uma assistente pessoal".
Como se eu precisasse disso. Como se eu fosse uma criança que não consegue amarrar os próprios sapatos.
— Babá. É isso que é. — Murmuro para mim mesmo, girando o copo vazio na mão. — Eles acham que sou um moleque.
Claro, me atrasei algumas vezes. Duas, talvez três. Ok, cinco. Mas isso não significa que não sou capaz de cuidar da minha própria vida. Eu sou um piloto de Fórmula 1, pelo amor de Deus! Acha que vou deixar uma assistente mandando em mim? Que vou virar um fantoche? Não. De jeito nenhum.
— Mais um, Jean. — Minha voz sai arrastada, e Jean, do outro lado do balcão, me lança um olhar cauteloso.
— Art, você já tá no limite.
— Só mais um. — Aponto para o copo vazio.
Ele suspira, mas enche meu copo, porque sabe que discutir comigo agora é perda de tempo.
E é aí que me dá um estalo. Não vou fugir disso, não tem como escapar. Se Matteo diz que é obrigatório, é obrigatório. Mas nada me impede de fazer a vida dessa assistente tão miserável que ela mesma peça para ir embora.
— Jean, me arruma uma caneta.
— Pra quê? — Ele pergunta enquanto seca um copo.
— Só me dá uma caneta. E um guardanapo.
Ele levanta uma sobrancelha, mas obedece. Assim que os itens estão na minha frente, empurro o copo para o lado, me curvo sobre o balcão e começo a escrever.
— Tá fazendo o quê? — Ele pergunta, curioso.
— Um plano. Um manual.
— Manual de quê?
— De como me livrar de uma assistente.
Ele ri alto, e o som me irrita.
— Tá rindo de quê?
— Você. Parece um moleque mimado.
— Não sou mimado. Sou estratégico.
Jean balança a cabeça, mas não diz nada. Melhor assim. Preciso me concentrar.
Escrevo o primeiro item com cuidado, minha caligrafia já começando a vacilar por causa do álcool.
1º passo: Bem-vinda ao inferno. Vou deixar claro que ela vai se arrepender de ter aceitado esse emprego. Não vou facilitar nada. Vou ser impossível.
Rio baixo enquanto releio o que escrevi. Sim, perfeito.
2º passo: Ignore. Não vou responder mensagens, e-mails ou ligações. Vai ter que adivinhar onde estou.
— Isso aqui é ouro. — Murmuro, escrevendo mais rápido agora.
3º passo: Dificulte o trabalho dela. Vou me atrasar de propósito, bagunçar as coisas, fazê-la correr atrás de mim.
Jean se inclina sobre o balcão, lendo por cima do meu ombro.
— Você tá falando sério?
— Seríssimo.
Ele assobia, balançando a cabeça.
4º passo: Sobrecarregue. Vou dar trabalhos inúteis. Pedir que pesquise sobre os circuitos. Aprenda sobre a engenharia dos carros. Coisas assim.
— Isso tá ficando ridículo.
— É pra ser ridículo, Jean. É o ponto.
5º passo: Irrite. Vou ligar de madrugada. Literalmente tirar o sono dela.
Eu paro por um segundo, sentindo uma pontada de satisfação. Já posso imaginar a expressão dela. Qualquer mulher normal desistiria antes de chegar aqui.
6º passo: Invada a privacidade dela. Vou ser intrometido, bisbilhotar a vida dela, fazer perguntas irritantes.
— Tá ficando bom pra caralho. — Jean comenta, rindo de novo.
— Eu sei. — sorrio de lado, olhando para o guardanapo rabiscado.
— Sabe o que eu acho?
— Não, mas você vai me dizer de qualquer jeito.
— Se alguma mulher aguentar tudo isso, você devia casar com ela.
Eu encaro Jean por um segundo, sua sugestão pairando no ar.
— Casar?
— É. Quer dizer, se ela passar por tudo isso, provavelmente é a mulher da sua vida.
Eu rio, mas o som é seco. Casamento? Eu? Isso é piada. Mas, de alguma forma, a ideia não me parece tão absurda quanto deveria. Talvez seja o álcool. Ou talvez...
Antes que eu possa me questionar mais, adiciono o último item no guardanapo.
7º passo: Case-se com ela. Se nenhum dos passos anteriores funcionar, case-se com ela. Porque você provavelmente encontrou o amor da sua vida.
Eu olho para o que escrevi, e uma parte de mim acha que é estúpido. Outra parte, uma bem pequena, se pergunta como seria chegar até esse ponto.
Mas nunca vai acontecer.
Nunca.
Eu dobro o guardanapo e o guardo no bolso.
— Perfeito. — Digo, me recostando no banco e erguendo o copo para Jean. — Agora quero ver Matteo ou qualquer outra pessoa me fazer seguir as regras.
Jean ri, mas não responde.
E assim, com um sorriso satisfeito e um manual que eu espero que seja minha salvação, dou mais um gole no uísque e decreto o início de uma nova fase.

VOC? EST? LENDO
Sete passos para se livrar de uma assistente
RomanceEle é provoca??o. Ela desafio. Arturo Giordano, um piloto determinado e orgulhoso, acredita que consegue afastar qualquer assistente pessoal que atrapalhe seu caminho. Para isso, ele criou um manual para afastar suas assistentes pessoais, feito sob...