— Bom dia, Dr. Moseby.
— Bom dia, Dra. Shivers. E já pedi pra me chamar de Félix. — O Dr. Moseby sorriu para sua assistente de laboratório. — Como estão os procedimentos da semana passada?
Era uma segunda-feira agitada e promissora. Todos no laboratório trabalhavam há anos naquele projeto. Félix era o sexto cientista em trinta anos a dar continuidade à pesquisa de criação e mutação de espécies genéticas.
Antes dele, a Dra. Krosova havia iniciado uma nova era de espécimes inteligentes, utilizando o DNA modificado de uma morsa e um camaleão. Até aquele momento, ele era o mais jovem a liderar um experimento de segurança máxima sob inspeção constante do governo.
— A incubadora 7 tem demonstrado resultados favoráveis à aplicação de nanoproteínas. Talvez esteja pronta para testes em duas semanas — disse Shivers.
— Nenhum sinal de rejeição celular?
— Infelizmente, a incubadora 16 apresentou divergências. A cobaia pode ter desenvolvido uma anomalia em algum órgão. Ainda não sabemos qual, nem se vai sobreviver.
Eles pararam diante de um imenso tubo contendo um espécime em estágio avançado.
— E esse garotão aqui? — Moseby perguntou, analisando um diagrama holográfico.
— Demos o nome de Arthur, senhor — respondeu a assistente.
Félix ergueu a sobrancelha.
— Arthur?
— Sim, senhor... nunca viu Arthur e os Minimoys?
Félix a encarou, surpreso por ela conhecer filmes infantis antigos.
— Certo. — Ele voltou o olhar ao diagrama. — E como está o desenvolvimento do Arthur?
— Ele é muito promissor, doutor. Está conosco há sete meses e os resultados têm sido extraordinários.
— Que tipo de resultados?
A cientista suspirou e sorriu levemente, encarando-o.
— Ele demonstrou alterações na química cerebral durante interações com a equipe de mergulho, Dr. Moseby.
Diante do silêncio do colega, ela continuou:
— Ele está se comunicando, Félix. É a primeira vez que isso acontece.
Félix disfarçou o choque. Queria ver com os próprios olhos.
— Exemplifique, Carolyn.
Ela sorriu e o guiou até a escada que levava à parte superior do tanque. Lá dentro, um mergulhador observava e escaneava a cobaia com um digitalizador portátil.
Carolyn apertou um botão e falou no microfone do sistema interno:
— Colton, acha que ele está pronto pra interagir?
De dentro do traje, o homem respondeu:
— Dra. Shivers, ele está instável desde cedo. Níveis de cortisol altos, comportamento agitado.
— Ele interagiu com você hoje? — interrompeu Félix.
— Não diretamente. Está mais apático. Batimentos cardíacos elevados, mas...
— Me poupe dos detalhes fisiológicos, Colton. Quero ver essa interação agora.
— Senhor, não acho que seja seguro...
— Quem é o diretor desta pesquisa, Dr. Sanchez?
Silêncio.
Carolyn se encolheu com a tensão. Não podia intervir sem colocar seu emprego em risco. Tinha acabado de financiar um apartamento.
— O senhor, Dr. Moseby.
— Então, por favor. Interaja com o espécime agora.
— Sim, senhor.
Carolyn sentia a tensão. O Presidente exigia resultados. Os fundos estavam acabando. Se não entregassem algo concreto, perderiam tudo para universidades, e o trabalho de anos viraria apenas uma pesquisa sobre protozoários.
Com o microfone de Colton ainda ligado, ouviram a voz do mergulhador:
— Oi, Arthur. Desculpa interromper seu descanso, amigo. Mas tem alguém aqui que gostaria de te ver.
A cobaia flutuava em posição fetal. Pelagem densa em tons de marrom, preto e cinza, cauda enrolada nas patas traseiras. Pequenas mãos laranja-escuro. Uma orelha pontuda como a de uma raposa, outra arredondada como a de um guaxinim.
Um minuto se passou.
Arthur abriu os olhos. Íris vermelhas brilhantes. Fixou o olhar em Colton.
— Ei, meu caro. Espero que tenha descansado bem.
Arthur estava acostumado com Colton. Nunca o atacara. Mas os olhos continuavam atentos.
— Tenho alguém que quer te conhecer.
Félix estava extasiado.
— Isso... é incrível.
— Você ainda não viu a melhor parte — disse Carolyn.
— Escute — continuou Colton. — Esse é o Dr. Moseby. Ele trabalha comigo e paga boa parte dos seus petiscos.
Arthur seguiu o dedo de Colton até o topo do tanque, girando o corpo sem mover a cabeça. Olhos frios, selvagens, mas com um brilho de inteligência.
— Não fale com ele! — disparou Carolyn.
— Por quê?
Ela apontou para o diagrama de controle.
— Os níveis de cortisol estão altos. Ele pode atacar o Dr. Sanchez se errarmos na interação.
— Não me importo, desde que eu tenha algo pra apresentar ao Presidente.
Carolyn agarrou seu braço.
— O sucesso da pesquisa vale mais do que a vida de um homem se arriscando ali dentro?
— Ele não seria o primeiro a morrer pela ciência, Dra. Shivers.
Félix se soltou e apertou o botão.
— Quero falar com ele, Dr. Sanchez. Dra. Shivers está ciente.
Colton respirava fundo. O alarme no diagrama piscava em vermelho.
— Arthur... o Dr. Moseby não vai te machucar. Por favor, se acalme.
Ele sabia que era inútil. Levou discretamente a mão ao cinto de segurança.
Arthur começou a respirar mais forte. Bolhas saíam pelas narinas. Observava cada movimento.
Humanos imbecis não entendiam o que haviam criado.
Arthur não temia Moseby. Aguentara tudo naquele tanque. Observava. Suportava.
Só Colton o tratava como um ser vivo.
Se Moseby não se importava com Colton, Arthur sabia quem era o verdadeiro animal naquele lugar.
Com esse pensamento, a quimera arrancou o tubo de alimentação da barriga, mergulhou e impulsionou-se para cima.
Num salto, saiu do tanque e atacou o rosto de Félix Moseby.
O alarme ecoou por todo o laboratório.
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CITIZENS - Cidad?os do Caos
Science FictionPL?GIO ? CRIME! / COPYRIGHT TODOS OS DIREITOS RESERVADOS [Mundo em Colapso - Livro 1] Memórias apagadas. O caos instaurado. A ca?ada come?ou. Em uma Nova York devastada por guerras, quimeras geneticamente modificadas e experimentos secretos se torna...
