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15 - NIIYAMA

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Kaito os guiou pelo campus da universidade rapidamente. Ficamos todos um pouco apreensivos com o garoto. Ele falara exatamente duas frases na última uma hora e meia, que foi o tempo que passaram com o grupo dos Andarilhos.

Eu achava intrigante. Sua voz grave me surpreendeu no início -  não rouca o suficiente para estar em desuso, mas o suficiente para mostrar que ele realmente era de poucas palavras. Caminhava a uma distância amigável dele, assim como todos do grupo faziam. Eu tinha pesadelos constantes - pânico, medo, gritos... mas principalmente de isolamento. Sabia que costumava andar mais sozinha, apesar de ter tentado diminuir a distância entre mim e Leonard. Companhia para passar pelo inferno era bem-vinda, mas ele não estava facilitando as coisas para mim.

Eu já não falava nada mesmo, de qualquer forma. Não tinha motivos para ficar próxima a alguém fora a sobrevivência, e ninguém estava se preocupando em falar comigo também, nem mesmo Leonard. Eu só era útil se soubesse como tirá-los de uma situação difícil, ou seja, quando eu descobrir como sair desse lugar, todos vão continuar me ignorando do lado de fora, assim como foi no Corredor Branco. Talvez eu estivesse sendo dramática. Acabava me questionando às vezes se o meu eu antes da Caçada me acharia mesquinha.

Descobri algumas poucas coisas sobre mim nesse meio tempo, o silêncio me ajudava a ter os pensamentos frenéticos. Eu gostava de ler, muito. Descobri isso quando me peguei lendo cada um dos avisos antigos pendurados nos quadros dos corredores - garoto desaparecido, um jogo de basquete no próximo sábado que nunca aconteceu, um questionário de múltipla escolha para uma entrevista que sairia no TCC de alguém. Eu tentava repetir as palavras que lia em silêncio, como que balbuciando-as, mas nenhum som saía de minha boca por maior que fosse meu esforço. Enquanto estava distraída lendo um dos avisos, Kaito me surpreendeu.

— Não é como se a mulher do Google fosse repetir as palavras que saem da sua boca, sabe? Não precisa ficar muda o tempo todo. – Ele disse, se aproximando de mim com sutileza.

Fiz uma careta e apontei para ele com o queixo, perguntando silenciosamente "Não sou muito diferente de você, hipócrita". Ele deu um riso suave.

— Apenas falo quando é necessário. Aprendi a não gastar energia à toa nesse lugar, facilita bastante quando se quer sobreviver. – Kaito se virou para ela. – Mas você parece se recusar a falar, não importa que sua vida esteja em risco.

Engoli em seco e desviei o olhar, suspirando. Como eu diria a ele que gostaria muito de falar, mas algo me impedia? Movimentei as mãos, como se estivesse escrevendo na palma.

— Quer escrever algo? – Confirmei com a cabeça, mesmo que ele tenha dado um olhar meio confuso. – Por que você só não fala?

Por que homens são tão lentos?! Continuei insistindo em papel e caneta. Entramos na sala de aula ao lado do quadro de avisos e o garoto pegou um livro velho e um lápis qualquer do meio do amontoado de coisas na gaveta da mesa do professor, largado às pressas durante o surto de Chimera.

Agarrei o lápis, eu precisava ao menos lembrar como se escreve. Tinha uma caligrafia um tanto quanto garranchada, talvez pelo desuso, mas as frases eram legíveis.

— "Meu nome é Niiyama" – Kaito leu em voz alta. – "E eu não CONSIGO falar."

Ele me encarou enquanto permaneci com o olhar baixo, fixado em minhas próprias palavras. Aquilo ainda era estranho, não parecia com a minha letra mas eu não conseguia compreender qual o problema. Queria falar, queria conversar, queria saber como era minha voz de verdade e não apenas a que ecoava em minha cabeça constantemente. Minhas cordas vocais estavam dormentes, mas estavam ali o tempo inteiro, apenas esperando para vibrar as palavras não ditas em minha mente.

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