Saí da enfermaria confuso do que fazer até um rapaz baixo e magro se aproximar de mim. Aparentava ter uns dezessete anos, cinco anos mais novo que eu.
– Bom dia! Você é o novo membro dos andantes? Meu nome é Poul Hensmering, mas pode me chamar apenas de Poul. – Nos cumprimentamos forçadamente enquanto tentava memorizar seu sobrenome. – Vejo que o mundo de foi não foi tão amigável com você.
Ignorei o modo como ele apontou onde eu deveria ter uma perna.
– Você disse andantes?
– Ah sim! Acho que não te contaram, é como nós chamamos. – Ele parecia totalmente entusiasmado em me dar as boas-vindas. – Mas levando em consideração o tempo que estamos com os trailers aqui, melhor seria sugerir para trocarem o nome para "os sedentários".
– E o líder de vocês, como está se saindo?
– Ele é incrível! Todos o adoram. Ele e o seu irmão são os nossos guias e ainda estão procurando a cura para tudo isso!
– Mas você não acha que é um desperdício sujar as águas desse jeito?
– Toda a água que usamos coletamos antes do trecho de estudos dos zumbis...
– Não falando sobre vocês. Me refiro às pessoas do lado de fora, que também precisam dela para sobreviver.
– Em tempos como esses não tem um que sobreviva do lado de fora. Todos os vivos pertencem aos andantes.
Com o tempo comecei a entender lavagem cerebral que Andrew fez naquelas pessoas. É claro que, em um mundo desorganizado como o qual eu havia nascido, vários líderes se aproveitavam da inocência de muitos para impregnar mentiras em suas mentes e criar seu próprio império. Poul só era mais um que teve o azar de nascer naqueles tempos, e talvez eu fosse o único ali que poderia lhe contar a ponta do iceberg que conhecia sobre o mundo.
– Minha nossa, quase me esqueci. – O adolescente pegou um objeto de metal em sua mochila. – Tome, nosso líder mandou fazerem um desse para você.
Era uma "perna de metal" que eu poderia encaixar na minha coxa, apertar o cinto e usar como apoio, praticamente voltando a ter duas pernas. Olhei impressionado para o garoto e vesti aquilo, sentindo um alívio na perna direita quando o meu peso voltou a ser distribuído para ambos os lados. A sensação era boa, mas não substituía uma perna verdadeira. Porém, agora voltaria a ter um bom equilíbrio. O equipamento parecia ter uma mola, fazendo com que o meu andar se igualasse ainda mais ao de uma pessoa normal. O mecanismo amortecia os passos, mas infelizmente não era e nunca seria como uma de verdade.
– Obrigado – agradeci, ainda pasmo. – Foi Andrew que pediu para você me entregar?
– Foi, ele parece gostar de você. Aproveite isso... pena eu não poder dizer o mesmo da doutora.
– Doutora?
– Sim, a mulher que chegou com você. Ava uma das médicas deste lugar, você não sabia? Ela era um de nós, a melhor doutora dos andantes... isso até ela decidir ir embora.
– Andrew pediu para você me entregar isso exatamente agora? – perguntei desconfiado.
– Sim. Andrew disse que era preciso entregar imediatamente. – Virei-me para trás e desesperadamente entrei na enfermaria. – Espera! O que está fazendo?
Como havia suspeitado: a maca de Ava estava vazia.
Voltei até Poul e o prendi pelo pescoço contra a parede, algo que me acostumei a fazer depois de me sentir responsável por uma enorme quantidade de coisas. Daquele ponto em diante percebi que não poderia mais sentir medo de tomar a atitude que fosse. Cada uma poderia significar minha vida ou morte.

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AS ?GUAS VERMELHAS
Science FictionMuitos anos após o apocalipse, John e Ava narram seus desafios reservados apenas aos mais corajosos em um mundo onde os mortos voltam à vida, mas de uma forma diferente... Conhe?a um mundo dominado por zumbis embarcando nos contos do primeiro livro...