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O TRIDENTE

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Acordei já pensando em conversar com alguém antes de partirmos, e esse alguém se chamava Marcos, nosso principal prisioneiro de guerra.

Escovei os dentes, lavei o rosto e vesti uma roupa perfeita para um dia que se vai lutar em um tiroteio: um tênis, uma calça jeans e uma jaqueta de couro por cima de uma camiseta branca com uns rabiscos ilustrativos no meio.

Esperei do lado de fora do dormitório feminino, dei um abraço de bom dia em Ava e depois segui direto à sala de matemática, abrindo a lousa da passagem secreta e seguindo o túnel até a sala subterrânea onde deixamos Marcos acorrentado. Ao lado dele havia uma vasilha com uma casca de banana preta, um copo de água vazio e um balde com um cheiro terrível. Como ainda era bem cedo, o cobrador dormia, então bati com minha perna de madeira em um cano de metal e o barulho o acordou.

– Bom dia. – Ele me olhou com o olhar de sempre: desprezo. O cobrador parecia mais fraco do que antes por conta do tempo que passou naquele lugar.

– Preciso de água – pediu, com os lábios secos.

– Não agora, sabe que ainda não está na hora.

– Então o que está fazendo aqui? Já não me humilharam o suficiente?

– Você nem ao menos sofreu ainda, Marcos. – Mostrei a ele a minha mão direita, ele olhou diretamente onde deveria haver o menor dos meus dedos. – Isso não se compara ao que vocês fizeram comigo.

– Não é minha culpa se você não tem sorte com os membros de seu corpo. Qual será o próximo, hã?

– Não vim aqui para perder tempo. Quero tentar chegar à um acordo com você.

– Continue – pediu.

– Agora não sou mais eu quem manda neste lugar. Não deveria nem estar aqui, mas o considero, pois acredito que antes de se juntar aos cobradores, você talvez fosse uma pessoa de caráter, e não um mero aproveitador.

– Eu não sou um cobrador – esclareceu ele. – Sou alguém que está muito além disso, assim como Regan e Walberfort eram.

– Quero te fazer uma proposta: Você nos revela tudo o que sabe sobre os cobradores que pode nos ajudar e eu te solto para ir aonde quiser. Pode voltar para o Lar, ficar ou ir para onde quer que seja que você vivia antes.

– Vivia? Você acha que alguém vive bem em algum lugar neste mundo?

– Acho – respondi, sem pensar muito no assunto. – Tenho esperanças quanto a isso. Acho que poderíamos construir algo grande se não houvesse aproveitadores como vocês.

– Pois está errado. Já estive em muitos lugares e a qualidade de vida é uma pior que a outra nas comunidades. Pessoas como vocês, que acham que vão sobreviver em um mundo com poucos recursos e ainda sim fazendo inimigos, não duram muito tempo.

– Você aceita ou não? – apressei-o, já percebendo que procurava me enrolar. – Não me importo se você veio de outro lugar. A única coisa que sei é que vocês três e Tron estavam sempre discutindo naquela sala do último andar. Eu quero que me revele as estratégias de guerra, quantidade de armamentos, quantidade de suprimentos, quantidade de cobradores...

– Pessoas como vocês acabam bem pior do que se apenas morressem e se transformassem, John. Pessoas como vocês acabam escravizadas pelos mais fortes... –Você aceita sim ou não? –... As mulheres vão sofrer abusos, as crianças... – Sim ou não? –... E os idosos serão mortos porque... – Já chega!

Acionei a minha lâmina oculta e encostei diretamente na garganta do homem, finalmente fazendo ele parar de falar. – Você acaba de ganhar uma passagem só de ida para uma prisão perpétua, Marcos.

AS ?GUAS VERMELHASOnde histórias criam vida. Descubra agora