AS ?GUAS VERMELHAS

– Por que de repente você resolveu mudar de lado? – perguntei a Robert, ainda nas masmorras. – Entregar informações confidenciais a nós pode ser um grave crime para Tron, você não acha?

– Acontece que eu não ligo para o que Tron diz. – Fiquei confuso, mas ao mesmo tempo desconfiado. – Aquele merda acabou com a minha reputação. Eu estou disposto a mudar de lado.

– Há poucas horas você estava na mesma sala que ele. Por que não o matou naquele instante se queria mudar de lado?

– Porque não sabia se era o momento certo. – Eu ri enquanto ele olhava seriamente a mim. – Qual é a graça?

– Você quer mesmo que acredite nessa merda toda? Quer que eu passe a ter confiança em você para cair em mais uma de suas armadilhas? Acredite, já fomos enganados pela sua laia, e isso não voltará a acontecer.

– Você sabe que eu não estou mentindo, John. Você foi o único que analisou corretamente a morte de Regan. Mais ninguém desconfiou de mim.

Esse era um assunto que eu queria saber por completo.

– Eu vi o zumbi que você mantinha escondido em sua sala em uma câmara secreta atrás da parede, por que fez aquilo? – Ele pigarreou um pouco e cuspiu mais sangue no chão. – Não levou em consideração que poderiam desconfiar em ter aparecido um zumbi exatamente na sua sala para morder Regan?

– Acontece que eu e Gormon planejamos tudo. O zumbi que mantinha preso no escritório era um dos cobradores que tinha o sangue mais quente nos bares... quero dizer, ele só perdia para Vork. Esse cobrador vivia brigando e passava dias e noites entre a embriagues e a ressaca. Um dia teve a má sorte de se afastar dos outros. Fizemos questão de manter a cabeça intacta para que a transformação ocorresse...

– E depois inventaram a desculpa de que ele perdeu em uma briga e se transformou, atacando Regan no meio da noite – completei.

– Exatamente.

– Mas para quê?

– Não é óbvio? Regan roubou o meu cargo de líder do andar três e passou a ir com seus dois amiguinhos na sala de Tron com muito mais frequência do que eu, Alicia, Yumi... aliás, ela está se dando bem como curandeira de vocês? Sempre achei que a única habilidade dela era com armas...

– Não mude de assunto. Por que Marcos, Regan e Walberfort foram postos na liderança sendo que nunca os vi sendo capangas de Tron como você? – Robert entortou os lábios, engolindo a raiva.

– Eles apareceram de repente em nossos portões dizendo que tinham uma missão superimportante. Disseram que sabiam tudo sobre nós e blá, blá, blá. O ponto é: eles só contaram a tal missão para Tron. Tudo o que meu chefe me informou era que eles vieram de um grupo muito maior do que o nosso... e com certeza maior do que o de vocês.

– Então eles são de outro grupo?

– "Grupo" é uma palavra pequena para determinar o real tamanho de onde eles vieram. Eu diria que "população", talvez seja a melhor classificação. – Ele se remexeu na cadeira, incomodado com o sangramento no rosto. Sua barba, antes alaranjada, agora estava vermelha por causa dos socos de Adolf e Pietro momentos atrás. – A missão desses três era mais diplomática do que armamentista. Tron me disse que eles deram a entender que só queriam fazer uma aliança conosco por conhecermos muitas outras comunidades, mas nunca me deu detalhes da missão. Isso me irritou bastante, pois eu sabia que estava ficando para trás.

– Então desde que eles chegaram você esteve contra Tron.

– Fui eu quem pedi para ele não atacar com toda a tropa de uma vez. Fui eu quem influenciei ele a manter o máximo de pessoas vivas possíveis, tendo como argumento termos alguém para continuar produzindo a nós. Tentei até evitar que Ártemis contasse a ele sobre Carcassonne e os cobradores presos no hospital, mas ela é cabeça dura demais.