Ayla Miller
Isaac me entrega a folha corrigida. Estamos na última matéria, e por sorte é História — uma das poucas que consigo entender sem me sentir completamente burra.
— É... pelo visto você é de humanas — ele comenta com um leve sorriso nos lábios, enquanto vira a folha para mim. Um "10" destacado em vermelho brilha no topo como um troféu. — Parabéns.
Sorrio de volta, um pouco tímida, mas orgulhosa. Pela primeira vez, todas as respostas estão certas. Um dez. Meu primeiro dez. E isso significa mais do que parece... significa que talvez, só talvez, eu consiga virar esse jogo no final do ano.
Isaac se levanta e caminha até a cozinha. Quando ele abre a geladeira, meu estômago escolhe o pior momento para roncar, alto e constrangedor. Tento ignorar, mas sei que ele ouviu. Antes que eu possa morrer de vergonha, meu celular vibra na mesa.
Vejo o nome do meu pai na tela. Atendo.
— Onde você está?
— Na casa de um colega... estudando — respondo, tentando soar natural. — Estou tentando melhorar as notas pra prova.
— Vai demorar?
— Não sei... por quê?
— Sua mãe e eu vamos sair com seu irmão. Quero que cuide da Alice.
— Tudo bem. Que horas vocês vão sair?
— Sete em ponto.
Olho para o relógio acima da TV. Quatro da tarde. Tenho tempo.
— Estarei em casa às seis, então.
— Certo. Se cuida.
— Até mais, pai.
Desligo e coloco o celular de volta na mesa. O suco que Isaac trouxe ainda está pela metade, e tomo o resto de um gole só. Estou tentando manter a cabeça fria, mas a consciência de que estou sozinha com ele nessa casa está me enlouquecendo aos poucos.
— Você está com fome? — ele pergunta da cozinha.
— Hã? Sim... um pouco — confesso, sem graça.
Ele retira da geladeira algumas verduras, fatias de queijo, e começa a preparar alguma coisa.
— É intolerante à lactose?
— Não... — digo, observando enquanto ele, de cabeça baixa, organiza os ingredientes — Por quê?
— Vou fazer um sanduíche. E vai queijo.
Ele me lança um olhar breve antes de voltar a se concentrar na bancada. Há algo estranho no jeito dele hoje... mais solto, menos distante. O Isaac que conheci nunca teria me oferecido comida. Ou ajuda. Ou um sorriso.
Talvez ele tenha colocado veneno no sanduíche.
Ai, meu Deus, cala a boca, cérebro.
Volto para o livro de questões e tento focar em algo difícil. A matemática ainda me deixa tonta, mas resolvo encarar mesmo assim. Enquanto ele prepara tudo, ouço o barulho da faca contra a tábua, da frigideira chiando com o pão... e o som, de algum modo, é reconfortante.
Logo um prato aparece na minha frente com um sanduíche perfeitamente montado.
— Obrigada — murmuro.
— Já terminou as questões? — ele se senta ao meu lado e pega meu caderno — Pelo visto, é rápida.
Começo a comer enquanto ele fala quais acertei, onde errei e como posso melhorar. Sua voz é serena, atenta, e isso me desconcerta mais do que qualquer coisa.
Então, meu celular vibra de novo.
Alice
Aly... Pode me buscar na casa de uma amiga? Vou te mandar a localização.
Ayla
Agora?
Alice
Sim. Onde você tá?
Ayla
Indo.
— Desculpa, eu preciso ir — digo, me levantando de repente — Tenho que buscar minha irmã.
— Tudo bem. Segunda-feira te entrego uma nova folha de questões. Tem grandes chances delas caírem na prova.
— Ok. — pego um envelope da mochila e estendo para ele. — Aqui está o seu dinheiro.
Ele encara minha mão por um segundo antes de aceitar.
— Quer que eu embale o sanduíche?
— Se não for incômodo... eu quero sim — respondo, segurando o resto do lanche.
Isaac se levanta e ajeita tudo em uma sacolinha. Enquanto ele faz isso, reviso minhas coisas. Mochila no ombro, celular no bolso. Tudo certo. Ele me entrega a sacola.
— Obrigada!
— Vou te acompanhar até a recepção.
— Não precisa — falo, tentando soar educada.
— Eu insisto. Seria falta de educação da minha parte não te acompanhar até lá.
Não discuto.
Seguimos até a porta e espero ele trancar o apartamento. Deixo que ele vá na frente. Mas, no meio do caminho até o elevador, Isaac para de repente. Seu olhar fixa uma placa na parede: "Escadas interditadas".
Eu franzo a testa, confusa. Qual o problema?
Mas ele apenas continua andando, e entramos juntos no elevador.
O espaço é pequeno. Muito pequeno. E quente. Ou talvez sou eu que esteja pegando fogo por dentro com a proximidade dele.
Sempre me pergunto: por que ele? Por que Isaac?
Meu ex era o oposto. Popular, falava alto, chamava atenção. Isaac é... quieto. Reservado. Nerd. Focado. Um mundo completamente diferente do meu. E mesmo assim... é com ele que meu coração resolve bater mais forte. Amor não faz sentido. Quando você percebe, já está ferrada — apaixonada por alguém que nunca imaginou.
— Fala sério... — exclamo quando o elevador para de repente, com um tranco seco. As luzes se apagam e a escuridão nos engole como um vulto.
Apoio a mão na parede instintivamente, o coração disparando.
— Só o que me faltava...
Pego o celular e ligo a lanterna, iluminando o pequeno espaço metálico. Corro os olhos pelos botões e aperto o de emergência, várias e várias vezes. Uma voz logo ecoa pelo alto-falante:
— Pedimos que se acalmem. O elevador sofreu uma paralisação por defeito na corda. Os bombeiros já foram acionados. Pedimos que evitem movimentos bruscos e permaneçam tranquilos. Qualquer agitação pode comprometer a estabilidade do elevador.
O sangue some do meu rosto. Sinto as pernas bambas.
Puta. Merda.
Continua...
Seria muito mau da minha parte matar os dois? Olha pelo lado bom, viveriam juntos por toda eternidade KAKAKAKAKAKAKAKA
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