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By MabeleBlackSnow

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Disclaimer.
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By MabeleBlackSnow

☼ ☽ ༄

                            Correntes Invisíveis.

Visenya.

     Seu quarto pequeno era um cárcere sem janelas, uma cela sufocante que parecia tornar-se menor a cada segundo. A luz fraca da vela oscilava, projetando sombras que dançavam pelas paredes como espectros zombeteiros. Ela estava sentada no chão, com as pernas dobradas e o queixo apoiado nos joelhos, enquanto a sensação de impotência a envolvia como uma mortalha.

     As palavras de Aemond ecoavam em sua mente. Não há lugar no mundo onde você possa se esconder de mim. Sua voz era um açoite, uma promessa de domínio absoluto, e o peso de sua ameaça a deixava enjoada.

     Ela passou os dedos pela pele dos pulsos, a lembrança do aperto cruel dele ainda vívida. Não era apenas a dor física, mas o simbolismo daquele que a corroía. Ele acreditava que a possuía, que poderia moldá-la à sua vontade, como se ela fosse uma peça em seu jogo.

     Mas ela não era dele. Não seria.

     Visenya ergueu-se, caminhando pelo quarto, com passos lentos e inseguros. O vazio da noite a envolvia, e ela se pegou pensando no rosto de Maris, nas palavras cheias de desafio que a mulher lançara contra Aemond. Apesar de toda a força que Maris sempre demonstrava, Visenya sabia que até mesmo ela tinha limites. E Aemond era uma força avassaladora que nem Maris podia conter.

     Maris. A mulher que a criara como sua filha. A mulher que enfrentara monstros ao longo da vida para garantir que ninguém a tocasse ou a destruísse. Visenya lembrava-se das noites em que, ainda criança, se escondia atrás das saias de Maris enquanto ela expulsava homens que ousavam cruzar a linha. E agora, por causa dela, Maris estava diante de um perigo que não poderia vencer sozinha.

     Sua mente fervilhava. Fugir era a única solução, mas para onde?

     Ela sabia o quão difícil seria escapar de alguém como Aemond, um príncipe com recursos infinitos e uma determinação tão implacável quanto suas ameaças. No entanto, permanecer ali seria assinar sua sentença.

     Ela começou a organizar seus pensamentos, forçando-se a traçar um plano em meio ao caos interno. Primeiro, precisaria recolher o que tivesse de valor: moedas, roupas simples que não chamassem a atenção, qualquer coisa que pudesse ajudá-la a desaparecer.

     Lugares que Maris mencionara ao longo dos anos surgiam em sua mente: cidades além do mar estreito, lugares onde ninguém perguntava de onde você vinha. Tyrosh, Lys, Pentos. Cada nome parecia uma promessa distante de liberdade.

     Mas não seria simples. Nada em sua vida nunca havia sido simples.

     Seu passado era uma ferida aberta que nunca cicatrizara. Visenya lembrava-se das noites em que a fome roía seu estômago como uma lâmina afiada, quando passava horas revirando restos de comida nas ruas imundas da Baixada das Pulgas. Muitas vezes, precisara roubar pães e frutas de mercadores que não hesitavam em espancá-la ao encontrá-la. Seus gritos e lágrimas não eram diferentes dos de outras crianças da Baixada, todas lutando pela mesma migalha, pela mesma chance de sobreviver.

     Ela também se recordava do frio cortante durante os invernos, quando o vento gelado penetrava nos fiapos de tecido que usava como roupa. Muitas vezes, dormia em becos, com o corpo tremendo, abraçada a outras crianças igualmente miseráveis, tentando roubar calor uma da outra enquanto a escuridão trazia perigos ainda maiores.

     Os homens que rondavam a Baixada eram um pesadelo à parte. Seus olhares gulosos, seus sussurros asquerosos e seus toques indesejados perseguiam as crianças que cresciam naquele inferno. Visenya aprendera cedo a fugir deles, a correr mais rápido que seus pesadelos, a esconder-se nas sombras que pareciam engoli-la por completo.

     Apesar da proteção de Maris, não havia garantias. A dona do bordel enfrentava os homens com uma coragem feroz, mas isso nem sempre era suficiente. Ela vira o sangue de Maris escorrer mais de uma vez após uma briga, ou seu rosto marcado por tapas dados por aqueles que ousavam desafiá-la. Mesmo assim, a mulher a abraçava no final de cada dia, com um sorriso cansado, prometendo que tudo ficaria bem, ainda que nenhuma das duas acreditasse realmente nisso.

     Visenya chorava sozinha muitas noites, tentando sufocar os soluços para não atrair a atenção indesejada. O medo era uma companhia constante — medo de morrer de fome, de ser capturada, de ser esquecida como tantas outras crianças cujos corpos nunca foram encontrados.

     Agora, não havia mais ninguém para garantir sua segurança. Maris já fizera mais do que o suficiente. Ela sabia que era sua vez de lutar – não com força, mas com astúcia. Cada cicatriz, cada lembrança amarga de seu passado era um lembrete de que ela sobreviveria. E ela faria isso novamente, mesmo que tivesse que enganar o próprio dragão que a mantinha cativa.

     O quarto estava sufocante, então Visenya saiu para o corredor, caminhando em direção ao final do bordel, onde uma pequena janela no sótão oferecia um vislumbre do mundo exterior. Ela subiu lentamente os degraus, o coração martelando no peito.

     O ar da noite a envolveu quando ela abriu a janela, e o vento frio cortou sua pele como uma lâmina, mas não a fez recuar. A lua estava alta no céu, uma testemunha silenciosa de sua angústia. Ela se inclinou contra a moldura, deixando o vento acariciar seu rosto.

     Por um instante, desejou poder voar como nas histórias dos dragões da casa Targaryen, desaparecer no céu e deixar tudo para trás. Mas ela não era um dragão; era apenas uma mulher sozinha, com medo e sem aliados.

     O som de passos no corredor fez seu corpo enrijecer. O coração disparou, e ela segurou a respiração, esperando o pior. A presença de Aemond era tão opressora que parecia impregnar o ar ao seu redor, como se ele pudesse surgir das sombras a qualquer momento, com aquele sorriso cruel e olhar penetrante que parecia despir sua alma.

     Mas os passos se afastaram, e ela deixou escapar o ar preso em seus pulmões, embora o aperto em seu peito continuasse. Apenas um pensamento dominava sua mente enquanto o frio da noite envolvia sua pele como um lembrete de sua vulnerabilidade e do perigo que a rondava.

— Eu não vou esperar para descobrir até onde ele está disposto a ir para me quebrar — murmurou, a voz carregada de amargura e um medo que ela não queria admitir.

     Com uma última olhada para o céu estrelado, Visenya fechou a janela, um gesto que parecia mais uma tentativa desesperada de barrar a escuridão que ameaçava engoli-la. Ela desceu as escadas devagar, cada passo pesado com o peso de suas incertezas. Não sabia quando ou como, mas precisava fugir.

     Ela sabia o que Aemond era capaz de fazer. Ele não era o tipo de homem que aceitava um não. Não era o tipo que deixava sua presa escapar. Ele já havia provado isso de forma cruel, tirando sua virtude à força, movido por um desejo carnal que ignorava sua resistência, sua dor, sua humanidade.

     Mesmo assim, as palavras dele ainda ecoavam em sua mente: promessas envenenadas de que não havia lugar no mundo onde pudesse se esconder. Promessas que sussurravam que, não importa o quanto ela tentasse fugir, ele a encontraria.

     Mas ela tentaria, porque a alternativa era continuar presa a ele, sendo lentamente esmagada pela sombra do dragão que se recusava a soltá-la.

      Era isso ou morrer. E a morte, mesmo carregando consigo uma promessa de paz, não era mais assustadora do que continuar vivendo sob as correntes invisíveis que ele forçava ao seu redor.

                                             {...}

     O bordel estava mais silencioso do que o habitual, como se as paredes estivessem esperando algo acontecer. Visenya movia-se pelos corredores com passos calculados; as sombras pareciam mais profundas, e o ambiente exalava um ar de ameaça que apenas ela parecia sentir.

     Estava nervosa, mas precisava seguir com o plano.

     A primeira etapa era simples: encontrar Allyria, uma das mulheres mais antigas do bordel, em quem Maris confiava cegamente. Allyria já havia ajudado outras meninas a desaparecer, garantindo a elas um novo começo longe de Porto Real. Visenya sabia que a mulher não recusaria um pedido de ajuda, especialmente por respeito à matrona que as protegia a todas.

     A sala onde Allyria ficava era um refúgio de calmaria. As velas espalhavam uma luz quente, e o aroma de ervas secas pairava no ar. A mulher estava sentada em uma cadeira baixa, com os cabelos castanhos presos em um coque frouxo, enquanto costurava algo em silêncio. Quando Visenya entrou e fechou a porta atrás de si, a mulher levantou os olhos e os lábios se curvaram em um sorriso de compreensão.

— Eu sabia que você viria, menina. — A voz de Allyria era baixa, com um leve sotaque das Terras Fluviais. — Maris me contou sobre o príncipe.

     Ela sentiu o peito apertar ao ouvir o título que odiava. A lembrança do toque de Aemond e de seu olhar predatório era suficiente para acelerar seu coração.

— Preciso ir embora, Allyria. — Sua voz estava firme, mas havia uma ponta de desespero que ela não conseguia esconder.

     A mulher assentiu, como se já estivesse esperando por isso.

— Tenho um contato em Lys. Ele pode te levar para lá em segurança, mas vai custar, Visenya, e não será fácil.

     Ela suspirou. Nada em sua vida tinha sido fácil até aquele momento, e ela não esperava que começasse a ser agora.

     O som de passos ecoou no corredor, um som suave, mas suficiente para fazer o estômago de Visenya revirar. Allyria olhou de relance para ela, franzindo o cenho, mas, antes que pudesse dizer algo, a porta se abriu lentamente.

     Mysaria entrou como uma sombra, o tecido fino de seu vestido cinza flutuando ao seu redor, seus olhos escuros brilhando com uma crueldade quase palpável. O sorriso que ela carregava nos lábios era afiado e predatório, como se já soubesse o que aconteceria naquela sala.

— Ora, ora, o que temos aqui? — A voz dela era arrastada, cada sílaba impregnada de provocação. — Tão tarde da noite e duas mulheres conspirando. Isso me cheira a problemas.

     Visenya sentiu um nó apertar sua garganta, a lembrança amarga do passado envolvendo-a como um manto sufocante. Ela ainda podia ouvir a voz de Mysaria negociando seu corpo como se fosse mercadoria, quando tinha apenas doze anos, para um mercador bêbado que a queria por uma ninharia de ouro. Se não fosse por Maris, ela sabia exatamente o que teria acontecido naquela noite.

     Mas agora, a sombra de Mysaria estava diante dela novamente, mais ameaçadora do que nunca.

— O que você quer, Mysaria? — Allyria perguntou, mantendo a voz firme, mas com uma ponta de irritação.

     Mysaria ignorou a pergunta, com seu olhar pousando diretamente em Visenya. Ela avançou alguns passos, seus sapatos quase sem som contra o chão de madeira.

— Ouvi rumores, Visenya. — A voz dela se tornou um sussurro venenoso, cada palavra carregando um peso de escárnio. — Dizem que o príncipe Aemond te tomou como sua puta particular.

     Ela sentiu o rosto queimar, a humilhação era tão intensa que, por um momento, ela achou que desabaria.

— Está gostando da posição privilegiada, querida? — Mysaria continuou, cada palavra perfurando como uma faca. — Você sempre foi um fardo para Maris, mas veja só, agora tem um príncipe aos seus pés. Ou será que é você quem está aos pés dele?

— Chega! — Allyria se levantou, dando um passo à frente e posicionando-se como um escudo. — Você passou dos limites, Mysaria.

     A mulher riu baixinho, mas não se moveu. Seus olhos permaneciam fixos em Visenya, como se Allyria fosse invisível.

— Ah, não se faça de santa, Allyria. Você sabe tão bem quanto eu que Visenya só chamou a atenção do príncipe Aemond por causa desse rostinho de valíria. Cabelos prateados, olhos que brilham como ametistas... Você é um reflexo distorcido dele, Visenya. Ele não te deseja pelo que você é, mas pelo que você representa.

     Visenya apertou os punhos, mas não disse nada. Mysaria tinha um talento cruel para enfiar a faca onde mais doía, e ela sabia que, se respondesse, só alimentaria o prazer sádico da mulher.

— E, se quer um conselho, minha querida, deveria começar a usar isso a seu favor. — Mysaria inclinou a cabeça, um sorriso maligno surgindo em seus lábios. — Afinal, é melhor ser uma puta bem paga do que uma bastarda invisível, não acha?

     Visenya deu um passo à frente, os olhos ardendo de fúria.

— Você fala como se tivesse alguma moral, Mysaria. — disse ela, sua voz saindo baixa, porém afiada. — Mas você não passa de uma parasita que vive da miséria dos outros.

     A provocação pareceu funcionar. O sorriso da mulher desapareceu por um instante, mas logo retornou, ainda mais frio.

— Cuidado com suas palavras, garota. — A voz dela era cortante. — Você pode ser bonita, mas não é intocável, nem mesmo com um príncipe atrás de você.

— Já basta, Mysaria. — Allyria finalmente interveio, com a voz firme. — Saia daqui agora.

     Por um momento, a lysena permaneceu parada, como se ponderasse se valia a pena provocar ainda mais. Mas então, deu de ombros e deu um passo para trás, o sorriso de desprezo nunca abandonando seu rosto.

— Claro, como quiserem. Mas lembrem-se: nada passa despercebido por mim. E Visenya... — ela lançou um último olhar à jovem, seus olhos brilhando com malícia. — Se eu fosse você, começaria a pensar em como sobreviver nesse jogo. Porque ele nunca vai te deixar ir.

     Com isso, ela saiu, deixando para trás um silêncio sufocante e a tensão pesada que parecia encher o quarto como fumaça. Visenya olhou para Allyria, que tentou oferecer um conforto silencioso, mas a humilhação e a raiva ainda queimavam em sua pele como brasas.

     O silêncio que se seguiu após a saída de Mysaria parecia gritar mais alto do que qualquer palavra dita. Ela manteve os olhos fixos na porta fechada, seu coração martelando no peito. Não tinha dúvidas.

— Ela ouviu tudo. Tenho certeza disso — murmurou, a voz baixa, mas carregada de tensão.

— Mysaria sempre sabe de tudo. — Allyria olhou para a porta, seu rosto sério. — Vamos precisar acelerar os planos. Não confie nela, Visenya. Mysaria fará qualquer coisa por ouro, até mesmo te entregar ao príncipe.

     A jovem engoliu em seco. O peso das palavras de Mysaria pairava sobre ela como uma nuvem negra, mas a ideia de Aemond descobrir seus planos era ainda pior.

— Quando posso partir? — ela perguntou, tentando manter o controle da própria voz.

     Allyria olhou nos olhos dela e segurou suas mãos, apertando-as com firmeza.

— O tempo ainda não é o certo. Mysaria está atenta, e qualquer movimento precipitado pode colocar tudo a perder. Temos que esperar.

     Visenya sentiu o peito apertar com a resposta. Ela havia imaginado a fuga com urgência, ansiosa para se livrar das garras de Aemond e da cidade que a aprisionava. Mas, no fundo, sabia que Allyria tinha razão. Uma fuga sem o devido planejamento era uma sentença de morte.

— Então, o que fazemos agora? — a jovem perguntou, sua voz mais fraca, mas ainda cheia de determinação.

     Allyria soltou suas mãos, caminhando até uma mesa onde guardava um mapa de Porto Real. Ela apontou para a cidade, com um dedo que traçava as rotas possíveis.

— Vamos continuar com os preparativos. Até lá, você precisa se manter discreta. Evite chamar a atenção. Mysaria pode saber mais do que diz, mas nós também temos nossos próprios meios de agir. Esperaremos pelo momento certo, Visenya.

     Ela assentiu, o coração pesado com a incerteza, mas também com a esperança de que, em algum momento, conseguiria fugir. Não seria agora, mas sabia que o tempo, por mais cruel que fosse, trabalharia a seu favor.

{...}

     Sentada no chão frio de seu quarto, com uma vela quase derretida ao lado, Visenya contava um pequeno punhado de moedas que havia escondido ao longo dos anos. Não eram muitas – algumas moedas de cobre e prata – mas era tudo o que ela tinha. O brilho pálido delas refletia em seu rosto enquanto ela contava, com os dedos trêmulos pelo nervosismo e pelo frio que impregnava o lugar.

     Ao lado das moedas, repousava o colar de aço valiriano que fora abandonado com ela. Em seus olhos, aquele colar carregava mais valor do que qualquer tesouro. Ela não sabia exatamente de onde viera ou quem lhe havia dado, mas era a única coisa que a conectava com o passado que ela mal podia lembrar. Pensou, por um momento, que poderia tentar vendê-lo. Ele valeria muito; ela sabia disso, mas a ideia de se desfazer do único item que a ligava ao que restava de sua verdadeira identidade a fazia hesitar.

     Juntamente com o colar, ainda havia a manta bordada com seu nome. A peça de tecido, desgastada pelo tempo e pelas dificuldades, era sua segunda conexão tangível com o passado que ela jamais conhecera. Não sabia quem a havia bordado ou por que, mas mantinha-a como um lembrete de que, em algum momento, ela pertencera a algo maior do que a vida que agora levava.

     Vender aquilo seria como pagar a última centelha de uma história que talvez nunca descobrisse. A ideia de se desfazer dela a dividia: a liberdade vinha com um custo alto, e ela temia pagar por ele, mas sabia que o preço era inevitável.

     Outra peça estava ali, ao lado das moedas: a pulseira de prata que Aemond lhe havia dado. Ela sabia que aquela pulseira tinha um valor incontestável. Era uma lembrança amarga, um presente de quem a havia humilhado. O desejo de se livrar de tudo aquilo era forte, mas ela sabia que vendê-la também significaria vender uma parte da dor que o príncipe lhe impusera. Aquele objeto, dado em um gesto possessivo, agora simbolizava toda a sua sujeição.

     Ela então segurou as outras moedas que estavam ali, mas essas eram diferentes; elas não vinham de sua própria mão ou de algum esforço pessoal, mas de Aemond. Ela ainda podia lembrar-se do momento em que ele, com frieza, as jogou sobre a mesa ao lado dela, após aquele ato forçado, como se fosse algo normal, como se ela fosse uma mercadoria. Ela tocou as moedas com os dedos trêmulos, sentindo o peso delas de forma quase visceral.

     Aqueles pedaços de ouro eram agora o que restava do que ele fizera com ela. Ele havia pago por sua virgindade, sem cerimônias, sem considerações. As moedas, que ela jamais desejara receber, agora estavam ali, lembrando-lhe de sua humilhação.

     Visenya fechou os olhos por um momento, tentando afastar a lembrança. Mas não havia como. A dor daquela noite estava gravada em sua pele e, agora, nas moedas frias que ela segurava.

     Debaixo do colchão, Visenya puxou o objeto que mais a fazia sentir segurança naquele momento: uma faca de cozinha com o cabo lascado, roubada da despensa do bordel. Era velha, mal afiada, mas, nas mãos certas, poderia ser fatal. Ela não queria usá-la, mas sabia que precisava estar preparada.

     Seus dedos tocaram o cabo frio da faca enquanto sua mente viajava para um cenário aterrorizante: e se Aemond aparecesse antes que ela conseguisse fugir? Ela sabia que jamais seria párea para um guerreiro treinado, muito menos para um príncipe, mas a simples presença daquela lâmina em suas mãos era suficiente para lhe dar uma sensação de controle – ainda que ilusória.

     Ela sabia que a lâmina não seria capaz de impedi-lo se ele quisesse impedi-la de fugir, mas, em um momento de desespero, talvez fosse sua única chance. A ideia de usá-la a aterrorizava, mas o medo de ser capturada novamente por ele era ainda maior.

     Enquanto escondia novamente os objetos, seu coração pulsava rápido. A cada noite que passava, o medo crescia. A sombra de Mysaria parecia pairar sobre ela, como se a mulher pudesse surgir a qualquer momento e estragar tudo. O pior, no entanto, era o pensamento constante de que Aemond poderia aparecer de repente, com aquele olhar frio que a despiria de qualquer tentativa de resistência.

     Antes de apagar a vela, Visenya pegou um pequeno espelho de bronze que mantinha ao lado da cama. O reflexo era opaco, mas mostrava o suficiente: seus cabelos estavam desalinhados, a pele pálida de cansaço e os olhos marcados pelas noites mal dormidas.

     A imagem a fez lembrar de Maris e do quanto ela odiaria vê-la naquele estado. Era a mulher que sempre lhe dizia para manter a cabeça erguida, mesmo quando o mundo parecia desmoronar.

— Por você, Maris. — Sua voz soou baixa, quase um sussurro.

     Visenya apagou a vela e deitou-se na cama, com o manto pesado cobrindo seu corpo. Ela fechou os olhos, mas o sono não veio. Sua mente estava ocupada, planejando cada passo, cada detalhe.

     No escuro, seus dedos tocaram a faca escondida sob o colchão. Era o único conforto que tinha agora.

     Ela sabia que a manhã chegaria rápido demais e, com ela, novas incertezas. Mas, pela primeira vez em muito tempo, sentia uma faísca de esperança em meio à escuridão sufocante de sua realidade. Ela estava determinada; ela iria escapar.

                                              {...}

     O ar estava abafado no salão do bordel, e o som de risos altos e conversas embriagadas preenchia cada canto. Visenya movia-se entre as mesas, equilibrando uma bandeja com taças de vinho enquanto desviava de mãos ousadas e olhares que a despiam. O peso do trabalho era sufocante, mas fazia parte de sua rotina. Ela havia aprendido a suportar as pequenas humilhações, as palavras lascivas e o constante incômodo que vinha com sua presença naquele lugar.

     Mas, naquela noite, havia algo diferente. Ela não percebeu imediatamente. O ar parecia mais pesado, as vozes abafadas por algo invisível. Então, sentiu um arrepio subindo por sua coluna, como se um olhar queimasse em sua pele.

     Ela virou a cabeça por reflexo, e lá estava ele: Aemond Targaryen.

     Ele estava parado perto da entrada, como um predador que acabara de entrar em um território familiar, com seu olhar cravado nela com uma intensidade que fez seu coração disparar. O cabelo loiro-prateado captava a luz bruxuleante das tochas, e o manto negro que ele usava parecia absorver as sombras ao seu redor. Visenya quase deixou a bandeja cair ao ver aquele rosto novamente.

     Ele voltou.

     Ela tentou ignorá-lo, fingir que não o havia visto, mas cada passo parecia errado, como se o chão debaixo dela pudesse desabar a qualquer momento. Aemond não precisou de muito esforço para alcançá-la. Ele era mais alto, mais rápido e, acima de tudo, determinado.

     Antes que pudesse reagir, sentiu sua mão agarrar seu pulso. Forte, firme, como ferro quente envolvendo sua pele.

Ñuha gevie. — A voz dele era baixa, mas carregada de autoridade, um tom que não deixava espaço para questionamentos.

     Ela tentou puxar o braço, mas foi inútil. — Solte-me! — sussurrou, os olhos queimando de raiva e medo.

     Aemond não respondeu. Com um movimento rápido, ele a arrastou pelos corredores. A bandeja caiu de suas mãos, e as taças estilhaçaram-se no chão, mas ninguém ousou intervir. Os clientes olharam por um breve momento antes de voltar às suas bebidas, e as outras mulheres abaixaram a cabeça.

     O corredor parecia mais escuro à medida que ele a levava para longe do salão. Visenya conhecia aquele caminho. Cada passo ecoava como um tambor em sua mente; cada curva trazia de volta a memória daquela noite.

     O quarto mais afastado dos corredores do bordel. O mesmo quarto onde ele a havia violentado pela primeira vez.

     A porta se abriu com um ranger que parecia zombar dela, e ele a empurrou para dentro.

     Visenya tropeçou, mas não caiu. Virou-se rapidamente, encarando-o como um animal encurralado, com o medo queimando em seus olhos.

— Por que você voltou? — As palavras escaparam de seus lábios antes que pudesse se impedir.

     Ele não respondeu de imediato. Fechou a porta atrás de si com um movimento lento e deliberado, trancando o ferrolho. O som do metal deslizando foi como o bater de uma guilhotina.

— Você não me respondeu! — insistiu, tentando recuperar a voz.

     Aemond permaneceu em silêncio, com o olhar fixo nela com intensidade. Então, retirou algo de dentro de seu manto: um objeto pequeno que brilhou sob a luz tênue do quarto.

     Quando ele abriu a mão, Visenya viu um anel.

     A peça parecia uma relíquia de outra era. Era feita de ouro ornamentado, com detalhes intricados mostrando ramos entrelaçados que culminavam no símbolo das três cabeças de dragão, representando a Casa Targaryen. No centro do anel, havia uma pedra preciosa roxa, possivelmente uma ametista, incrustada em um engaste robusto que a envolvia como garras protetoras. A pedra, lapidada em forma oval, brilhava com um tom profundo e hipnotizante, evocando mistério e poder.

— Este anel pertenceu à rainha Visenya, uma das esposas do Conquistador. Aegon a presenteou com ele logo após a conquista dos Sete Reinos, e agora eu quero que ele seja seu.

     Ela sentiu o sangue gelar em suas veias, as palavras dele ressoando como um eco sombrio.

— Por quê? — sussurrou, a voz falhando.

     Aemond deu um passo à frente, estendendo o anel para ela. O brilho no olhar dele era inconfundível: uma mistura de orgulho, obsessão e posse.

— Porque você carrega o nome dela — respondeu ele, a voz baixa, mas carregada de autoridade. — E porque você é minha.

     Visenya recuou como se o anel tivesse o poder de queimá-la.

— Eu não quero isso.

— Não importa o que você quer. — Aemond avançou mais um passo; a distância entre eles agora era inexistente. — Isso é um símbolo do que você representa e do que representa para mim.

     Os dedos dela tremeram enquanto olhava para o anel. Não era apenas um presente; era uma marca, uma proclamação.

— Você acha que pode comprar meu silêncio? Minha obediência? — Ela ergueu o olhar, tentando enfrentá-lo, mas o tremor em sua voz a traiu.

     Aemond inclinou a cabeça, um sorriso frio curvando seus lábios.

— Não se trata de obediência. — Ele ergueu o anel, aproximando-o do dedo dela. — Trata-se de conexão.

     Ela tentou se afastar, mas o príncipe foi mais rápido. Com um movimento firme, segurou sua mão esquerda e deslizou o anel em seu dedo anelar. A joia encaixou-se perfeitamente, como se tivesse sido feita para ela. O metal era frio contra sua pele, mas o peso parecia queimá-la.

— Você vai usar isso. — Ele segurou seu queixo com uma delicadeza forçada, obrigando-a a encará-lo. — Para que todos saibam que você é minha.

     As lágrimas ardiam nos olhos de Visenya, mas ela se recusava a deixá-las cair. Queria gritar, arrancar o anel, rejeitar a declaração implícita naquele gesto, mas o peso da situação – o peso daquela joia ancestral – era sufocante.

     Para ele, o anel era uma herança. Para ela, uma corrente.

     Visenya manteve-se imóvel enquanto o anel parecia pulsar contra sua pele, pesado como uma sentença. Seus olhos estavam fixos no olhar de Aemond, tentando decifrar aquele olhar que misturava fascínio e algo mais sombrio, algo que ela odiava.

— Então é isso? — A voz dela soou firme, mas carregada de um veneno sutil que ela não conseguiu esconder. — Sempre que aparece aqui, me traz uma joia cara, como se pudesse me encadear com ouro e prata. Você acha que, me presenteando assim, vai mudar alguma coisa?

     Aemond deu um passo para trás, estudando-a com um interesse meticuloso, como se ela fosse um livro aberto cujas páginas ele lia com facilidade. Ele se encostou na mesa ao lado, os dedos longos pousando no punho de sua adaga, mas sem qualquer movimento ameaçador. Ainda.

— Não se trata de mudar alguma coisa, Visenya. — Ele inclinou a cabeça ligeiramente, seu olhar fixando-se no anel no dedo dela. — Trata-se de marcar o que já é meu.

     A escolha das palavras dele fez um arrepio correr pela espinha dela. Não apenas pela possessividade explícita, mas pelo subtexto. Ele não precisava dizer que a via como propriedade; cada gesto dele gritava isso.

— Você não me possui. — Ela levantou o queixo, desafiadora, mesmo que, por dentro, sentisse o peso de sua vulnerabilidade.

     Aemond sorriu de canto, o tipo de sorriso que não alcançava o olho, carregado de uma confiança perigosa.

— Suponho que diria o contrário. — Ele cruzou os braços, com a postura relaxada, mas sua voz era como um fio de aço. — Ou será que devo lembrar você daquela noite?

     O coração de Visenya apertou. Cada palavra era uma faca cortando memórias que ela desejava enterrar para sempre.

— Isso não te tornaria mais forte. Só mostraria o quão fraco você é. — A ousadia dela foi seguida por um passo para trás, tentando criar distância entre os dois.

     Ele não se moveu, mas o ambiente parecia encolher ao redor dela.

— A força é relativa — disse Aemond com calma, como se considerasse a declaração dela algo infantil. Ele inclinou-se ligeiramente para frente, o suficiente para que sua presença fosse ainda mais esmagadora.

     Visenya cerrou os punhos, o ódio queimando sob sua pele, mas sabia que ele se alimentava disso. Sua raiva não era uma arma; era um presente que ele aceitava com prazer.

— Você é um tirano! Não conseguirá me manter presa para sempre.

     Ele inclinou a cabeça novamente, e o sorriso desapareceu, dando lugar a uma expressão que era pura intensidade.

— Quem disse que quero te manter presa?

     Ela piscou, confusa, tentando entender o jogo dele.

— Eu quero você comigo, ñuha gevie. — Aemond continuou, a voz baixa, mas cada palavra ressoava como uma promessa sombria. — Não importa onde.

     O significado de suas palavras pesou no ar, carregado de uma ameaça velada. Ele não precisava de correntes ou grades para segurá-la; sua presença era a própria cela, e ela sabia disso.

— O que você pensa que está fazendo, príncipe Aemond? — ela cuspiu, sua voz carregada de uma dor que não conseguiu esconder.

     Ele a estudou por um momento, silencioso, antes de se aproximar, lento e deliberado.

— Estou te controlando, Visenya. — ele respondeu com uma frieza quase possessiva, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ele parou a poucos passos dela, seu olhar fixo no dela, implacável. — E você não sabe o quanto eu me sinto poderoso fazendo isso.

     O ar no quarto parecia mais pesado, e ela lutava para respirar, como se o peso das palavras dele fosse um fardo físico.

     Ele desceu a mão, os dedos roçando levemente o anel no dedo dela.

— E agora você carrega isso para nunca esquecer.

     Visenya sentiu o estômago revirar. O presente pesava contra seu dedo; as palavras dele, a ameaça sutil em seus gestos – tudo isso deixava claro que escapar dele seria quase impossível.

     Mas quase não significava impossível.

     O anel parecia queimar contra sua pele, o metal frio tornando-se insuportavelmente quente. Ela lutou contra o impulso de arrancá-lo, de jogá-lo no rosto de Aemond e gritar que não era dele. Mas seus dedos ficaram imóveis ao lado do corpo, cerrados com força até que as unhas ameaçaram romper a pele.

     Como ele ousa? A indignação borbulhava em suas veias, mas era contida pelo receio esmagador que ele sempre trazia consigo. Não era apenas o poder físico ou o título que o tornava aterrorizante, mas a maneira como ele a cercava: uma sombra que nunca desaparecia, que pairava sobre cada passo seu.

     O presente não era um presente. Era um fardo, um lembrete cruel de que, não importa o quanto ela resistisse, ele a considerava dele. Não era amor; ela sabia disso. Nunca poderia ser. Era uma posse, uma obsessão, um fio de aço que ele amarrava ao redor de seu pescoço e apertava cada vez mais.

     Visenya odiava a si mesma por não ter forças para revidar naquele instante, por não ser capaz de enfrentar Aemond e fazê-lo entender que ela não seria dele. Mas as memórias daquele dia – as mãos dele a segurando com força, os sussurros sombrios ao seu ouvido, a sensação de importância esmagadora – sempre voltavam para lembrá-la de quão frágil sua resistência era.

     Ela apertou os lábios, recusando-se a mostrar qualquer emoção além da raiva, ainda que a dor e a humilhação ameaçassem transbordar.

     Isso é insustentável. Ele vai me destruir ainda mais se eu ficar.

     A raiva dentro dela crescia, sufocando-a ainda mais. Não era apenas ódio por Aemond, mas por si mesma, por cada momento em que sentia o poder dele esmagar sua determinação.

     Visenya ergueu o olhar para ele, a respiração pesada, e encontrou o mesmo sorriso frio no rosto dele. Ele sabia. Sabia que estava vencendo, que ela estava presa em uma teia que ele tecia com cuidado meticuloso.

     Ela queria gritar, correr, lutar. Mas, por ora, tudo o que podia fazer era resistir à vontade de ceder, enquanto sua mente trabalhava em um plano desesperado para escapar daquela prisão invisível.

— Quero que você se case comigo.

     As palavras de Aemond cortaram o silêncio como uma lâmina afiada. Visenya sentiu o impacto imediato, como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. Ele não soava hesitante, tampouco vulnerável. Era uma ordem disfarçada de pedido.

     Ela o encarou, incrédula, com as palavras ecoando em sua mente enquanto tentava processá-las.

— Casar-me com você? — Ele repetiu, a incredulidade clara em sua voz. Então, uma risada amarga escapou de seus lábios. — Você perdeu completamente a cabeça, príncipe Aemond.

     Ele não se abalou. Seu rosto permaneceu calmo, quase indiferente, exceto pelo brilho frio em seu olhar.

— Não vejo nada de irracional nisso. — Ele deu um passo à frente, sua presença esmagadora a envolvendo. — Tirei sua virtude. O casamento é a única solução que honra a situação.

     Visenya recuou instintivamente, o desprezo ardendo em cada palavra que escapava de sua boca.

— Honra? — Ela cuspiu, o tom carregado de raiva. — Você acha que pode pagar o que fez comigo com um casamento?

     Aemond ergueu uma sobrancelha, um sorriso frio curvando-se em seus lábios.

— Não apagará, mas resolverá. — Ele segurou a mão dela, seus dedos roçando o anel que ele colocara nela, como se o toque fosse uma reafirmação de sua posse. — Você já é minha. O casamento apenas tornará isso oficial.

     Visenya deu um passo para trás, afastando-se do toque dele como se estivesse queimando.

— Você é um príncipe, Aemond. — Sua voz tremia, carregada de raiva e incredulidade. — E eu... eu nem sei quem sou. Provavelmente sou uma bastarda. Como acha que o rei reagirá ao ouvir que seu segundo filho quer casar com uma bastarda?

     Ele a observou em silêncio por um momento; então, com uma calma inquietante, sorriu de maneira perigosa.

— Se o rei se opuser, eu o matarei.

     Visenya piscou, confusa, achando que havia entendido errado.

— O quê?

— O rei, a rainha, meus irmãos, meu avô, qualquer um que ouse ficar no nosso caminho — ele respondeu com uma serenidade arrepiante, como se estivesse apenas declarando algo óbvio. — Nenhum deles significa nada para mim.

     O coração dela disparou, o pavor misturando-se à incredulidade. Ela balançou a cabeça, recuando mais alguns passos.

— Você está louco — ela sussurrou, tentando manter a compostura.

— Estou decidido — ele corrigiu, o olhar brilhando com uma intensidade sombria. — Determinado a ter você.

     Visenya tentou manter a firmeza, mas o medo começava a transparecer em sua voz.

— Isso nunca vai acontecer — ela declarou, a raiva em suas palavras mascarando o pânico que crescia dentro dela. — Eu nunca serei sua esposa.

     O sorriso dele desapareceu, substituído por algo ainda mais assustador: uma determinação implacável.

— Isso é o que veremos.

     Ele se aproximou mais, os dedos segurando o queixo dela com uma gentileza forçada, quase cruel.

— Imagine... — ele murmurou, sua voz baixa e carregada de ameaça. — Você, carregando meus filhos.

     A frase roubou o ar de seus pulmões. Ela o encarou, horrorizada.

— Nunca! — Ela gritou, a negação saindo mais alto do que pretendia, como se pudesse afastar a ideia com a força de sua voz.

     Aemond apenas riu, um som baixo e cruel que parecia ecoar pelas paredes.

— Nunca? — ele repetiu, o tom carregado de escárnio. — Teremos mais filhos do que você pode imaginar, ñuha gevie.

     Ela sentiu o coração bater descontroladamente, com o pavor crescendo em ondas incontroláveis.

— Eu não quero ter filhos com você!

     Ele sorriu, cruel, sua mão agora acariciando uma mecha prateada do cabelo dela.

— Mas você terá... e eu amarei fazer cada um deles.

     Visenya sentiu o estômago revirar, mas recusou-se a demonstrar fraqueza.

— Você é um monstro — ela murmurou, a voz baixa e trêmula.

     Ele inclinou-se, seus lábios quase tocando o ouvido dela, e sussurrou com uma calma aterradora:

— Talvez. Mas você é minha. E, cedo ou tarde, aceitará isso.

     Ela fechou os olhos por um instante, lutando para não deixar as lágrimas transbordarem. Sabia que escapar dele seria quase impossível, mas também sabia que jamais se submeteria sem lutar.

     Aemond afastou-a apenas o suficiente para que seu olhar capturasse o dela. O brilho gélido que emanava de seu olhar a fez estremecer. Havia algo mais ali – algo sombrio, um abismo que ameaçava engoli-la por completo.

— Você acha que pode me desafiar, Visenya? — Sua voz era suave, quase gentil, mas cada palavra carregava uma ameaça latente. — Você acredita, por um momento, que tem algum poder nesta situação?

     Ela não respondeu. Não havia nada que pudesse dizer. Ainda assim, seu silêncio parecia irritá-lo mais do que qualquer palavra.

     Aemond suspirou, baixando o olhar por um breve instante antes de erguê-lo novamente. Agora, ele parecia mais perigoso do que nunca.

— Se continuar resistindo, forçando-me a tomar medidas extremas, devo lembrá-la de que não há lugar no mundo onde possa se esconder de mim. — Ele começou, a calma em seu tom contrastando com o conteúdo aterrorizante de suas palavras. — Você não pode fugir de mim.

     Visenya engoliu em seco, o coração martelando em seus ouvidos.

— Isso não me assusta. — ela mentiu, sua voz tremia ligeiramente.

     Ele riu. Um som baixo, frio e cruel que a fez questionar sua própria sanidade.

— Não deveria me subestimar, ñuha dōna Visenya. — Ele inclinou a cabeça, estudando-a como um predador estudaria sua presa. — Se você tentar fugir... se ousar pensar em escapar de mim, não só garantirei que nunca tenha sucesso, mas também punirei qualquer um que tentar ajudá-la.

     Ela sentiu as palavras como um golpe físico. A ameaça era clara e inescapável.

— Você não faria isso. — A jovem tentou soar firme, mas sua voz a traiu, vacilando na última palavra.

     Aemond deu um passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre eles, até que seu rosto estivesse próximo o suficiente para que ela sentisse o calor de sua respiração contra sua pele.

— Acredite, eu faria — ele disse, sua voz um sussurro gelado. — E, quando digo punir, Visenya, não falo de algo leve ou breve. Qualquer um que tentar se interpor entre nós sofrerá. Você os verá definhar, um por um, até entender que não existe escapatória.

     Ela piscou, tentando afastar o pânico crescente. Ele estava falando sério; não havia dúvida disso.

— Você não pode controlar a mim ou ao que faço sempre, príncipe Aemond. — Ela conseguiu dizer, tentando soar desafiadora, mesmo que seu coração estivesse prestes a sair pela boca.

     Ele ergueu a mão novamente, segurando seu rosto com firmeza, os dedos gelados contra a sua pele.

— Mas eu já controlo, não percebe? — Ele murmurou, sua voz doce e venenosa ao mesmo tempo. — Toda decisão que toma, toda ideia de rebelião que surge em sua mente, você pensa contra o medo do que eu farei. Isso já é controle, Visenya.

     As palavras dele a atingiram com força. Ele estava certo. Cada pensamento de resistência, cada plano de fuga vinha acompanhado do terror paralisante do que ele poderia fazer.

     Aemond inclinou-se ainda mais, seus lábios roçando sua orelha enquanto sussurrava com uma ternura distorcida.

— Então, seja minha. Facilite para nós dois. Caso contrário, garanto que suas consequências serão muito mais pesadas do que você pode suportar.

     Visenya fechou os olhos, sentindo as lágrimas ameaçarem transbordar. Havia algo profundamente claustrofóbico na maneira como ele falava, como se ela já estivesse presa, com correntes invisíveis que se apertavam cada vez mais.

— Não importa o que faça, príncipe Aemond — ela murmurou, tentando reunir forças de algum lugar dentro de si. — Nunca serei sua de verdade.

     O sorriso que ele exibiu, então, era de pura crueldade, como se sua recusa apenas o incitasse ainda mais.

— Você diz isso agora — ele murmurou, acariciando a bochecha dela com uma gentileza doentia. — Mas eu tenho todo o tempo do mundo para mudar sua mente.

— E, quando perceber que não há outra escolha, será você quem virá a mim — ele declarou com uma certeza implacável, antes de virar-se, caminhar até a porta, destrancá-la e sair, deixando Visenya com a sensação esmagadora de que o monstro em sua vida estava apenas começando a mostrar suas garras.

     Ela permaneceu onde estava, o coração ainda batendo descontroladamente no peito, enquanto o som dos passos de Aemond desaparecia no corredor. Cada palavra dele ecoava em sua mente, um veneno lento que se espalhava por seu corpo.

     Ela tentou se convencer de que tinha feito a coisa certa: recusar, resistir, lutar contra o controle sufocante que ele tentava impor sobre ela. Mas, ao olhar para a porta pela qual ele havia saído, um calafrio percorreu sua espinha.

     Algo estava errado.

     Era o olhar dele, a forma como suas ameaças pareciam mais promessas e a sensação de que, ao desafiá-lo, ela não havia apenas afirmado sua própria vontade, mas havia atiçado algo profundamente perturbador dentro dele.

     A escuridão no olhar de Aemond não era apenas raiva ou frustração; era uma obsessão ardente, fria e perigosa. Ele não estava acostumado a ouvir não, e Visenya percebeu, tarde demais, que sua recusa não havia terminado a conversa. Ela a havia transformado em uma guerra.

     Ela engoliu em seco, sentindo o peso de sua decisão cair sobre seus ombros como uma pedra.

     Visenya sentiu o calor das lágrimas ameaçando escorrer novamente, mas apertou os olhos com força, recusando-se a chorar. As lágrimas não eram um consolo; eram um lembrete de sua impotência, e ela não suportava se sentir ainda mais frágil do que já estava. No entanto, a verdade pesava como uma pedra em seu peito, apertando-a até que fosse impossível ignorá-la.

     Rejeitar Aemond não havia sido um ato de liberdade.

     Havia sido uma provocação.

     Ela o havia libertado de qualquer barreira que o contivesse e, ao fazê-lo, soltara algo que até então estava oculto, latente. Algo escuro. Algo que não apenas a observava, mas que a perseguia, cercando-a como sombras que não podiam ser dispersas.

     Suas mãos tremiam ao se apoiarem na mesa. Era um gesto automático, instintivo, mas, assim que seus dedos tocaram a madeira fria, um calafrio percorreu sua espinha, e o peso do passado desabou sobre ela como uma onda sufocante.

     Essa mesa.

     Essa mesma mesa.

     O quarto parecia mudar ao seu redor, os cantos se distorcendo enquanto sua mente a arrastava de volta àquele momento. A madeira dura contra suas costas, o cheiro de velas e vinho barato, o som do tecido de seu vestido sendo rasgado, a respiração pesada dele, um contraste cruel com o grito silencioso que ela sufocara.

     O ar ficou preso em seus pulmões e, por mais que tentasse, não conseguia puxar o fôlego suficiente. Suas mãos apertaram a borda da mesa, os nós dos dedos ficando brancos enquanto seu corpo tremia descontroladamente. Não era só o quarto que parecia encolher; era o mundo inteiro, esmagando-a, sufocando-a.

     Ela tentou se afastar, mas suas pernas fraquejaram, e o chão pareceu mais distante, como se ela estivesse afundando em um vazio sem fim. Seu coração batia como um tambor frenético em seus ouvidos, tão alto que ela mal podia ouvir os próprios pensamentos.

     E, então, o silêncio daquele momento retornou. O silêncio opressor, como se o universo inteiro houvesse conspirado para deixar apenas os sons dele. A pressão em sua garganta, o calor da pele dele contra a sua, o olhar possessivo que parecia tatuar sua alma com uma marca invisível.

     Visenya abriu a boca, mas nenhum som saiu. Nenhum grito. Nenhum pedido de ajuda. Nada. Assim como naquela noite.

     Ela deslizou até o chão, com as costas pressionadas contra a madeira fria da mesa, o peso das lembranças esmagando-a. Não havia palavras para o que estava sentindo. Naquele tempo, chamariam de desespero, de pavor. Mas ela sabia que era algo mais visceral, algo que queimava e congelava ao mesmo tempo.

     Ela não sabia quanto tempo ficou ali, com os braços envolvendo o próprio corpo, tentando controlar a tempestade que rugia dentro dela. Mas uma coisa era clara.

     Ele voltaria.

     E quando Aemond retornasse, seria diferente. Não haveria palavras, não haveria máscaras. Haveria apenas as consequências de sua rebeldia, de sua resistência.

     E, dessa vez, ele não pararia até que não restasse nada dela.

☼ ☽ ༄

Notas: Ñuha dōna Visenya se traduz do Alto Valiriano para significar minha doce Visenya.
Aqui está o anel que Aegon deu à sua Visenya e que agora Aemond passou para sua Visenya:

E não é que a gente já está em 1k de favs com apenas 6 capítulos? Caras, muito obrigada! Isso é demais. Fico muito feliz com a repercussão que essa fanfic teve no TikTok, levando em consideração que eu criei uma conta nova do zero só para poder divulgá-la.
Me digam o que vocês estão achando e não tenham vergonha de comentar suas opiniões e até mesmo teorias.
Até a próxima! 💗

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