MORE THAN I CAN SAY

Depois da viagem a Abu Dhabi, o retorno à Itália foi marcado por uma certa tensão no ar entre Luca e eu. Havíamos construído uma amizade colorida, vivido momentos de proximidade mas nada além disso. Na volta para Milão, Luca parecia mais calado do que o habitual, e eu também estava imersa em meus próprios pensamentos, processando tudo o que havia acontecido nos últimos dias.

Naquela noite, após o pouso, Luca me ofereceu uma carona até meu apartamento. Durante o caminho, a conversa foi leve, mas havia uma energia diferente, um peso nas entrelinhas que ambos tentávamos ignorar. Eu sabia que algo precisava ser dito, mas não encontrava as palavras certas para expressar o que estava sentindo.

Quando chegamos ao meu prédio, ele estacionou o carro e, por alguns segundos, ficamos em silêncio. Luca olhou para frente, respirou fundo e então, com uma voz um pouco hesitante, mas firme, ele finalmente se pronunciou:

— Anna, você sabe que entre nós sempre houve uma conexão... algo que foi além de só amizade. E acho que depois de tudo o que aconteceu, está claro que as coisas mudaram. Mas... se você sentir que ainda há espaço para nós dois, eu gostaria que passássemos essa noite juntos.

A forma como ele falou não era uma pressão, mas sim um convite sincero. Luca não estava impondo nada, mas deixando claro que, apesar de estar ciente do clima estranho, ele ainda sentia algo por mim e queria compartilhar aquele momento, talvez na tentativa de entender o que havia entre nós. O convite dele era uma forma de ser honesto com seus sentimentos e também de me dar a oportunidade de fazer uma escolha clara.

Meu coração acelerou, e senti o peso daquela decisão. Eu sabia que não era só sobre uma noite; era sobre o que aquilo significaria para nós dois, e também sobre o que significava para mim em relação a Charles ou qualquer outro cara que aparecesse. Luca era alguém importante na minha vida, foi umas das primeiras pessoas que conheci assim que me mudei, alguém que havia me mostrado um novo mundo e se tornado uma parte significativa da minha jornada. Mas eu não estava apaixonada por ele, e aquilo sempre foi muito claro em minha mente e coração.

O silêncio entre nós durou alguns segundos, mas parecia uma eternidade. Olhei para Luca e vi nos seus olhos a expectativa, a vulnerabilidade de alguém que estava se abrindo, arriscando algo. Eu sabia que não era justo deixar aquilo sem uma resposta clara, sem respeitar a sinceridade dele.

Respirei fundo e, finalmente, respondi:

— Luca... você é uma pessoa muito especial para mim, e eu valorizo tudo o que vivemos até agora. Mas acho que percebi que estou em um ponto da minha vida em que preciso ser honesta comigo mesma e com o que estou sentindo. E neste momento, não seria justo com você ou comigo aceitar esse convite sem machucar você. Para mim as coisas foram sempre claras em relação ao que temos, mas você tem demonstrado um interesse além.

Luca ficou em silêncio por um momento, assimilando minhas palavras. Ele assentiu lentamente, com um olhar misto de compreensão e desapontamento. Eu podia ver que aquela não era a resposta que ele esperava, mas também sabia que ele entendia minha posição.

— Eu respeito sua honestidade, Anna — ele disse, forçando um pequeno sorriso. — Só espero que, independentemente do que aconteça, possamos continuar amigos. Você é uma pessoa que ilumina tudo o que toca, eu seria um tolo se não tivesse me apaixonado por você.

Ele estava apaixonado por mim.

Senti uma pontada de tristeza por ver que as coisas entre nós mudariam. Agradeci a Luca por sua compreensão e saí do carro, com o coração apertado. Quando entrei em meu apartamento, fechei a porta e fiquei parada por alguns minutos, refletindo sobre tudo.
Eu fui uma babaca com ele?

Sabia que tinha feito a escolha certa para mim, mas também sabia que essa escolha não vinha sem consequências. Luca havia sido um amigo e companheiro leal, mas, no fundo, ambos entendíamos que o caminho que eu estava trilhando era diferente do que ele talvez tivesse imaginado.