抖阴社区

Capítulo 114

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Charles chegaria essa noite, enquanto eu seguia para a despedida de solteira da Aurora. Admito, havia uma animação quase adolescente no meu peito — aquela sensação de que algo muito bom estava prestes a acontecer. Eu queria estar um pouco alcoolizada quando ele chegasse, queria rir alto, chegar de salto na mão e olhos brilhando, cheia de histórias absurdas para contar no café da manhã seguinte, com ele me encarando com aquele sorrisinho torto de quem acha graça até quando eu sou um completo desastre.

O único problema era meu estômago, que ainda dava sinais de que não havia perdoado o caos da viagem. Mas, quer saber? Eu tinha decidido que hoje ele ia ter que colaborar. Eu merecia essa noite.

Nos juntamos todas no quarto da Aurora, igualzinho fazíamos na adolescência — maquiagem espalhada pela cama, vestidos pendurados nas portas dos armários, gritos, música alta e alguém sempre perguntando cadê o rímel. Foi como voltar no tempo. Ver aquelas mulheres que cresceram ao meu lado rindo, dançando na frente do espelho, compartilhando batons e memórias, me deu uma sensação de acolhimento que há muito eu não sentia.

Aurora parecia uma versão aprimorada da menina de antes: mais segura, mais linda, mais dona de si. Mas ainda era ela, com aquele brilho nos olhos e aquele dom inexplicável de fazer qualquer um se sentir em casa. Ela me lançou um olhar cúmplice no espelho, como se soubesse exatamente o que eu estava sentindo por dentro.

"Estamos saindo agora. Estou ansiosa pra te encontrar mais tarde.
Espero que tenha dormido no voo, porque não vou te deixar dormir quando chegar.
Te amo."

Enviei a mensagem para Charles enquanto subíamos na limousine, e antes mesmo que eu pudesse guardar o celular, a primeira garrafa de champanhe foi estourada, com o som característico da rolha voando seguido por aplausos e gritos. Elisa ergueu a taça.

— À Aurora! — ela gritou.

— À última noite de liberdade! — completou Beatriz.

Tocamos nossas taças e bebemos, o álcool descendo quente e doce, aquecendo o peito e afrouxando os pensamentos.

O motorista nos levou até dois bares em bairros diferentes, onde mais amigas de Aurora se juntaram ao bonde — algumas que eu não via há anos, outras que só conhecia de nome, e ainda assim, em poucos minutos, éramos uma tribo só. Nos tornamos barulhentas, exageradas, um grupo de mulheres livres que dominavam qualquer lugar em que entravam.

Tiramos fotos em cada esquina, dançamos no meio da rua com um grupo de músicos de bar, cantamos músicas bregas como se fossem hinos e nos abraçamos como se fosse a última noite do mundo. Eu sentia meu corpo leve, como se cada gole de champanhe apagasse um pouco da angústia dos últimos dias.

Por volta de meia-noite, finalmente chegamos à boate. O segurança já nos esperava, e Aurora, sendo Aurora, tinha conseguido uma área reservada só pra gente. As luzes piscavam num ritmo hipnótico, o chão tremia com a batida da música, e o cheiro de perfume, álcool e possibilidades pairava no ar.

— Vamos causar, ou vamos causar? — Beatriz perguntou, com aquele sorriso arteiro.

A resposta foi unânime: causar.

Dançamos como se o amanhã fosse feriado nacional. Eu rodava no meio da pista, com os cabelos soltos e os olhos fechados, sentindo a música vibrar no meu estômago. Por um tempo, eu não era a Anna Montanari, nova estilista e namodada do piloto Charles Leclerc. Eu era só uma garota, celebrando o amor de uma amiga, rodeada de outras mulheres incríveis, e com a cabeça girando de saudade de um certo monegasco que cruzaria o oceano por mim.

Em algum momento da madrugada, enquanto tentava mandar uma mensagem pra Charles dizendo que estava viva (e um pouco bêbada), recebi a notificação:

Aterrisei, mon amour. Te vejo logo.”

MORE THAN I CAN SAYOnde histórias criam vida. Descubra agora