MORE THAN I CAN SAY

A coletiva de imprensa foi rápida, o que não me surpreendeu. As perguntas eram sempre as mesmas, sobre o desempenho, sobre a corrida, sobre o campeonato. Estava acostumado com isso, e consegui me manter focado nas respostas, com a mesma postura de sempre. Mas quando a pergunta sobre Alexsandra surgiu, não pude evitar um leve desconforto que atravessou meu peito.

Respirei fundo antes de responder, tentando manter o tom calmo e controlado. Eu sabia que o que falasse poderia ser interpretado de diversas maneiras, então optei pela honestidade que parecia mais sensata naquele momento. Disse que meu foco estava na corrida, no campeonato, e que as questões pessoais eram apenas... isso, pessoais. Era o que eu queria acreditar.

O que me incomodou mesmo não foi a pergunta em si, mas o fato de Alexsandra estar lá, na mesma corrida, assistindo de longe enquanto eu estava ali, em cima do pódio, no meu trabalho, fazendo o que sempre fiz. A imagem dela no pódio, ao fundo da cerimônia, sorrindo... foi algo que me pegou de surpresa. Eu não esperava ver seu rosto.

Quando a coletiva terminou, a sensação de alívio foi imediata. Não gosto de dar atenção a assuntos pessoais no meio do trabalho, mas essa pergunta tinha mexido com algo dentro de mim que eu não esperava. E agora, enquanto caminhava pelos corredores do paddock, sentia uma necessidade urgente de respirar um pouco. Senti a pressão do foco da mídia e dos olhares, mas também o peso de tudo o que estava por trás disso.

Fui direto para o meu carro, sem parar para cumprimentar ninguém. A última coisa que eu queria era ser o centro de mais conversas. Coloquei o cinto de segurança e fechei os olhos por um momento.

Alexsandra estava lá. Ela tinha ido ao Bahrein assistir à corrida. Não sabia o que exatamente isso significava, mas não me sentia confortável com a ideia. Não sentia raiva ou ressentimento, mas sim uma espécie de vazio, algo que me fazia pensar demais em situações que não eram mais parte da minha vida. O que ela queria com aquilo? Será que estava ali apenas por curiosidade? Ou por alguma razão que ela mesma ainda não conseguia entender?

Eu sabia que tinha minha própria vida agora, com minhas próprias escolhas, com minha nova realidade. Mas, naquele instante, não pude deixar de me perguntar se o meu passado com Alexsandra iria continuar a aparecer, de alguma forma, nos lugares que eu menos esperava.

O carro deslizou pela estrada, e eu forcei meus pensamentos a se afastarem daquele momento. Eu tinha mais o que fazer. Tinha minha carreira pela frente, e uma temporada inteira para me concentrar...

Enquanto o carro avançava pelo trajeto até o hotel, meu pensamento não parava de voltar à coletiva e à pergunta sobre Alexsandra. Eu sabia que aquela história tinha um peso, especialmente para alguém como Anna, que não fazia ideia de como meu passado com Alexsandra poderia ser visto por fora. As pessoas iam especular, interpretar tudo à sua maneira, e eu já podia imaginar o que poderia estar circulando na mídia.

Anna não merecia ser arrastada para isso. Ela tinha se mostrado tão delicada e atenta a cada momento que passamos juntos. O último lugar onde ela deveria estar era em meio à especulação sobre o meu passado. Eu sabia que a exposição dela poderia trazer dúvidas, pressões desnecessárias. Como eu explicaria para ela a situação? Não queria que ela se sentisse desconfortável ou, pior, acreditasse que ainda havia algo entre mim e Alexsandra.

Era uma situação complicada. Eu tentava não me preocupar, mas o peso da responsabilidade de proteger Anna e nossa privacidade me atingia. Não era só uma questão de relacionamento, mas de respeitar sua liberdade de viver sem ser invadida por essas histórias. Eu sabia que, de alguma forma, essas perguntas que surgiam poderiam afetá-la. Ela já estava lidando com bastante pressão e exposição, e eu não queria ser mais uma fonte de preocupação para ela.